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Café em excesso aumenta o risco de pressão alta em pessoas predispostas

Indivíduos com genes que favorecem a hipertensão devem maneirar nessa bebida, segundo novo estudo brasileiro

Por Karina Toledo (Agência Fapesp)
Atualizado em 20 jan 2020, 18h17 - Publicado em 17 jul 2019, 11h56
café faz bem
O café não virou inimigo, mas talvez um pouco de moderação seja necessário. (Foto: Dercílio/SAÚDE é Vital)
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O hábito de consumir mais de três xícaras de café por dia aumenta em até quatro vezes a chance de indivíduos geneticamente predispostos apresentarem níveis elevados de pressão arterial. A conclusão é de um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) e divulgado na revista Clinical Nutrition.

A pesquisa, apoiada pela Fapesp, baseou-se em dados de 533 pessoas entrevistadas no Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital 2008), estudo de base populacional que abrange a área urbana da cidade e avalia as condições de saúde dos moradores. Não foi observada associação significativa entre a bebida e os níveis de pressão arterial no caso de pessoas que consumiam até três xícaras ao dia.

“Esses achados destacam a importância de moderar o consumo de café para a prevenção da pressão alta, particularmente em indivíduos geneticamente predispostos a este fator de risco cardiovascular”, afirmou Andreia Machado Miranda, pós-doutoranda no Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP) e primeira autora do artigo, à Agência Fapesp.

Foram considerados como pressão arterial elevada valores acima de 140 por 90 milímetros de mercúrio (mmHg). Em um trabalho anterior, também feito com base nos dados do ISA-Capital 2008, Miranda havia observado que o consumo moderado de café (de uma a três xícaras diárias) tem efeito benéfico sobre alguns fatores de risco cardiovascular – particularmente a pressão arterial e os níveis sanguíneos de homocisteína, aminoácido relacionado com o surgimento de alterações nos vasos sanguíneos, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Nessa primeira análise, não foram incluídos os dados genéticos.

“Decidimos, no estudo mais recente, investigar se em indivíduos que apresentam fatores genéticos que predispõem à hipertensão o consumo de café teria influência nos níveis de pressão arterial”, disse Miranda.

Por meio de um questionário aplicado aos mais de 3 mil participantes, o ISA-Capital 2008 obteve dados sociodemográficos e de estilo de vida, como idade, sexo, raça, renda familiar per capita, atividade física e tabagismo. Também foram feitos dois recordatórios para avaliação do consumo alimentar e coleta de sangue para análises bioquímicas e extração de DNA para genotipagem. Foram ainda medidos, durante visita domiciliar feita por um técnico de enfermagem, o peso, a altura e a pressão arterial dos voluntários.

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Uma amostra representativa de 533 adultos e idosos foi selecionada para as análises conduzidas na FSP-USP. Entre os critérios de inclusão estavam: a presença de informações sobre o consumo diário de café e sobre a presença ou não das variantes genéticas de risco para hipertensão.

Com base em informações descritas na literatura científica, os pesquisadores identificaram no rol de dados disponíveis no ISA-Capital 2008 quatro polimorfismos (variantes dos genes estudados) capazes de indicar predisposição à hipertensão: CYP1A1 / CYP1A2 (rs2470893, rs2472297); CPLX3/ULK3 (rs6495122); e MTHFR (rs17367504).

Foi então criado um escore genético de risco que variava de zero a oito. Já a ingestão de café foi dividida em três categorias: menos de uma xícara ao dia; de uma a três; e mais de três xícaras diárias.

“Fizemos uma análise de associação desses três fatores: escore genético de risco, consumo de café e valor da pressão arterial. Usando um método estatístico conhecido como regressão logística múltipla, incluímos outras variáveis de ajuste que poderiam influenciar o resultado, como idade, sexo, raça, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, índice de massa corporal, atividade física e uso de medicação anti-hipertensiva”, explicou Miranda.

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As análises estatísticas mostraram que, à medida que aumentava o escore de risco genético e a quantidade de café consumida, crescia também o risco de o indivíduo apresentar pressão alta. Nos voluntários com pontuação mais elevada e ingestão diária superior a três xícaras, a probabilidade de hipertensão foi quatro vezes maior que a de pessoas sem predisposição genética.

“Como a maior parte da população não tem ideia se é ou não suscetível a desenvolver hipertensão, o ideal é que todos façam um consumo moderado de café que, ao que tudo indica, é benéfico à saúde do coração”, disse Miranda. Para conhecer o seu risco genético, seria necessário sequenciar e analisar o genoma.

Segundo a pesquisadora, estudos recentes mostraram que consumir sem exageros a bebida pode ajudar a prevenir danos na artéria coronária, que irriga o coração. O efeito benéfico é atribuído aos polifenóis, compostos bioativos encontrados em abundância no café. Já a ação sobre a pressão arterial, segundo Miranda, está relacionada à cafeína.

De acordo com as diretrizes mais recentes da Associação Americana do Coração, em indivíduos saudáveis tomar um pouco de café não aumenta o risco de doenças cardíacas e não está associado a prejuízos à saúde no longo prazo.

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Desdobramentos e lados positivos do café

Agora no pós-doutorado, também com apoio da Fapesp, o objetivo de Miranda é avaliar o efeito do café em portadores de doença cardiovascular. O grupo pretende analisar, durante quatro anos, os dados de acompanhamento de 1 085 pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio ou angina instável.

“A ideia é examinar, ao longo dos anos, a influência do café na sobrevida desses pacientes”, disse Miranda.

Na avaliação de Dirce Marchioni, professora que orientou o doutorado de Miranda, a pesquisa iniciada trouxe resultados relevantes. “O café se mostrou um importante contribuinte para a ingestão de polifenóis na população estudada. Esse composto bioativo tem sido associado a diversos benefícios à saúde”, destacou. “Ao investigarmos a bebida e sua associação com algumas condições de saúde, identificamos que o consumo moderado pode ser benéfico e, portanto, compor a dieta habitual, sempre evitando o exagero”, completou.

Este conteúdo foi produzido e publicado originalmente na Agência Fapesp.

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