Deficiência de micronutrientes na infância: desafio vai além da renda familiar
Mesmo com acesso à alimentação variada, muitas crianças no Brasil apresentam carência de minerais e vitaminas essenciais ao crescimento e à saúde

Grande parte das crianças brasileiras apresenta deficiência de micronutrientes, como vitaminas e minerais, comprometendo funções fundamentais do organismo, evidenciam dados recentes.
O mais surpreendente é que esse quadro afeta tanto os pequenos em situação socioeconômica vulnerável quanto aqueles com acesso a uma dieta teoricamente saudável.
A causa, muitas vezes, está relacionada à seletividade alimentar e aos hábitos inadequados das famílias.
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Micronutrientes essenciais e suas repercussões clínicas
A seguir, uma breve correlação entre a deficiência de alguns nutrientes e seus impactos na saúde da criança:
• Ferro – A carência de ferro (anemia ferropriva) ainda é a principal causa de anemia no país. Leva à fadiga, letargia, menor resistência a infecções, dificuldade de aprendizagem e prejuízo cognitivo.
Principais fontes: carne vermelha, frango, peixes e leguminosas. O Ministério da Saúde recomenda a suplementação de ferro dos 6 aos 24 meses de idade.
• Cálcio – Fundamental para dentes e ossos fortes, a escassez pode prejudicar o crescimento e aumentar o risco de osteoporose no futuro.
Fontes: leite e derivados.
• Zinco – Essencial para o sistema imunológico e o crescimento. A falta eleva o risco de infecções e pode afetar o desenvolvimento físico.
Fontes: carnes vermelhas, peixes, frango, ovos, leguminosas e castanhas.
• Vitaminas – Essenciais para o funcionamento de órgãos como cérebro, olhos e ossos, além de contribuírem com a imunidade e o crescimento. A deficiência pode causar irritabilidade, queda de cabelo e fadiga.
Apenas uma dieta variada, com diferentes grupos alimentares, é capaz de fornecer todas as vitaminas necessárias.
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Estratégias para melhorar a alimentação infantil
Oferecer uma dieta saudável nem sempre é simples, pois muitas crianças apresentam recusa sistemática a determinados alimentos. Algumas estratégias recomendadas incluem:
• Apresentar pratos visualmente atrativos, com diferentes cores, texturas e formatos
• Dar o exemplo: crianças tendem a imitar os hábitos alimentares da família
• Manter a regularidade: apresentar o prato ideal diariamente aumenta a aceitação com o tempo
• Não substituir refeições recusadas por opções mais palatáveis
• Evitar manter em casa alimentos ultraprocessados, como refrigerantes e doces
Quando a suplementação se torna necessária
Ainda seguindo essas orientações, algumas crianças continuam com ingestão inadequada. Nesses casos, destacam-se duas situações.
Uma delas envolve crianças altamente seletivas, que necessitam de acompanhamento multidisciplinar com pediatra, nutricionista e fonoaudióloga especializada.
A outra é a carência específica de grupos alimentares. Esse caso requer, temporariamente, suplementação com multivitamínicos e minerais enquanto a alimentação é corrigida. Há produtos disponíveis que oferecem ampla variedade de micronutrientes.
A prescrição desses suplementos deve ser feita por um pediatra, possivelmente em colaboração com um nutricionista, com base em avaliação clínica detalhada e exame físico.
A reposição adequada de micronutrientes, sempre que indicada, é essencial para garantir uma infância saudável e contribuir com o desenvolvimento físico e cognitivo da criança.
*Alessandro Danesi é médico pediatra e head nacional de pediatria da Brazil Health.
(Texto produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)