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Por que complicamos tanto a dieta dos nossos filhos?

Mauro Fisberg, pediatra e nutrólogo, fala sobre as dificuldades que as famílias encontram na hora de alimentar as crianças

Por Redação Saúde é Vital
Atualizado em 28 out 2016, 12h03 - Publicado em 29 jun 2016, 13h17
Alex Silva
Alex Silva (/)
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Nos últimos anos, as famílias brasileiras estão cada vez mais confusas em relação à alimentação das crianças. Parece que tudo é proibido, e as restrições, bem mais frequentes, ocorrem inúmeras vezes sem necessidade. O aleitamento materno deveria ser exclusivo nos primeiros seis meses de vida, mas a falta de orientação por parte dos profissionais de saúde leva a mil inseguranças.

Em muitos casos, pequenas crises de relação entre mãe e bebê, que poderiam ser resolvidas pela experiência dos familiares, geram tanta angústia que o desmame é inevitável. E aí começa o troca-troca de fórmulas lácteas – sem lactose, antirrefluxo, antigases e por aí vai. Sem falar no troca-troca de marcas cujos produtos são… iguais. Mais tarde, com a introdução de novos alimentos, vem a dúvida cruel: meu filho pode ou não pode comer isso? Posso dar ovo? E carne de porco? Pois é, uma vivência que deveria ser supergostosa acaba virando neura. E a paranoia continua: devo dar carne vermelha? Glúten está liberado? Permito açúcar? Os pais se defrontam com mil receitas, conselhos e mal-entendidos. Alguns dados por pessoas que se intitulam especialistas em comida – poucos procuram tirar as dúvidas com quem entende de cuidados infantis, o pediatra. As coisas deveriam ser mais simples. O momento da primeira refeição pode ser uma descoberta ou um drama.

Lembre-se, porém, de que tudo é aprendizado, tanto dos pais como da criança. A papinha deve ter consistência apropriada à idade, mas pode manter características regionais e padrões familiares. Hoje a Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza que a alimentação inicial – antigamente chamada “papa salgada”, nome abolido para evitar a confusão com o excesso de sal – seja o mais natural possível, com cereais, proteína animal, verduras e legumes.

Aliás, na transição para a comida adulta, o equilíbrio continua a imperar. A criança tem o direito de receber a mesma alimentação da família, desde que ela seja adequada. E deve comer junto aos familiares, em um momento de conciliação, prazer e alegria – e nunca de brigas ou discussões. Não existe alimento proibido, a menos que haja alergia ou intolerância comprovada. E esse diagnóstico deve ser feito de forma correta para evitar que a criança se prive de alimentos dos quais poderia desfrutar. Também precisamos ter em mente que o ser humano é onívoro e tem o privilégio de comer numerosos alimentos diferentes para conseguir os mesmos nutrientes. Com isso, podemos nos permitir gostar ou não de determinado alimento. Não é por causa de uma restrição pontual que sofreremos carências. Talvez o que vemos hoje seja principalmente uma carência de bom senso.

Dr. Mauro Fisberg é pediatra e nutrólogo, coordenador do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi/ Fundação José Luiz Setúbal/Hospital Infantil Sabará (SP) e professor da Universidade Federal de São Paulo

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