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Os rins são um dos principais alvos da Covid-19

Lesões renais são comuns em pessoas com quadros graves de Covid-19. Médico explica por que isso ocorre e soluções para contornar o problema

Por Thiago Reis, nefrologista*
2 ago 2021, 10h15
ilustração dos rins
Um em cada cinco pacientes internados por Covid-19 em UTI necessita de hemodiálise. (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
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Após os pulmões, os rins são os órgãos mais frequentemente afetados na infecção pelo coronavírus. Quase metade dos pacientes internados com Covid-19 apresenta algum tipo de lesão renal, a chamada injúria renal aguda.

Nos pacientes internados em UTI com quadros mais graves, um em cada cinco necessita do tratamento de purificação sanguínea denominado hemodiálise, indicado para substituir parcialmente a função dos rins. A mortalidade em pacientes com a infecção pelo coronavírus que necessitam de hemodiálise ultrapassa 60%.

Fatores que aumentam o risco para desenvolvimento de injúria renal são a idade avançada, o sexo masculino, a etnia afrodescendente e a presença de comorbidades como obesidade, diabetes e hipertensão. Em quase 70% dos pacientes com esse quadro, o principal fator precipitante é a desidratação.

Estudos apontam que o tempo médio entre o início dos sintomas e a procura por atendimento médico é de sete dias. Durante esse período é comum a presença de sintomas da Covid-19 como febre, falta de apetite, vômitos e diarreia, que contribuem para a perda de líquidos e, consequentemente, episódios graves de desidratação.

Além disso, a resposta inflamatória exagerada do organismo à infecção viral, a chamada sepse viral, também afeta negativamente a função dos rins, sendo responsável por 20% dos quadros de injúria renal. Atualmente não existe nenhum tratamento específico com medicações para evitar o desenvolvimento dessas complicações nos rins.

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Nos pacientes mais graves, que necessitam do suporte com hemodiálise, um tratamento inovador é a hemoperfusão. Essa modalidade de purificação sanguínea é realizada em conjunto com a hemodiálise, mas tem a particularidade de conseguir remover do sangue citocinas, moléculas envolvidas na resposta inflamatória ao vírus.

+ LEIA TAMBÉM: Síndrome de Guillain-Barré: o que é e qual a relação com a vacina da Janssen

Nos quadros críticos de Covid-19 e sepse viral, há uma liberação exagerada dessas moléculas pelas células do sistema imunológico, a tempestade de citocinas. Quando se encontram em excesso, as mesmas citocinas que ajudam a defender o organismo passam a causar lesões em diferentes órgãos, como pulmões, coração, fígado e rins.

A remoção das citocinas durante o tratamento de hemoperfusão restabelece o equilíbrio imunológico, habilitando o organismo a combater de forma mais eficaz o vírus. Esse tratamento não é experimental e já vem sendo executado desde o início da pandemia na Europa e, desde o fim de 2020, no Brasil. Tive o privilégio de liderar a primeira terapia de hemoperfusão no país com essa finalidade na Clínica de Doenças Renais de Brasília.

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É importante salientar que, em pacientes previamente diagnosticados com graus avançados de doença renal crônica, dialíticos ou transplantados renais, a probabilidade de desenvolvimento de quadros graves de Covid-19 é exponencialmente maior do que em indivíduos saudáveis. A mortalidade em pacientes dialíticos ou transplantados com quadros sintomáticos da infecção pelo coronavírus é de 20%.

Infelizmente, pacientes que realizam hemodiálise não podem praticar totalmente o isolamento social, pois precisam se deslocar às clínicas ao menos três vezes por semana para realização de suas sessões. Já os transplantados renais usam imunossupressores, medicações que enfraquecem o sistema imunológico para evitar rejeição ao novo órgão. Devido a uma resposta imunológica debilitada, os transplantados são mais propensos a quadros complicados de Covid-19.

Essas duas populações mais vulneráveis foram priorizadas para a vacinação — ainda bem! No entanto, estudos demonstram uma menor eficácia dos imunizantes em pessoas submetidas à diálise e principalmente nos transplantados. Nos Estados Unidos, pacientes que passaram por transplante renal e não produziram anticorpos após as duas doses da vacina estão recebendo uma dose de reforço adicional (a terceira dose). Provavelmente essa estratégia também será adotada no Brasil.

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* Thiago Reis é nefrologista, pesquisador afiliado do International Renal Research Institute of Vicenza, na Itália, transplantador renal da Clínica de Doenças Renais de Brasília e do Hospital DFSTAR – Rede D’Or São Luiz e pesquisador do Laboratório de Farmacologia Molecular da Universidade de Brasília (UnB)

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