Peptídeos: o que são e por que estão em alta no skincare
Eles irritam menos, estimulam a produção de colágeno e podem ser usados inclusive por quem tem pele sensível

Nosso corpo é um amontoado de proteínas. Elas estão por todo lado, sinalizando e mandando mensagens para que o organismo funcione bem como uma grande orquestra.
Agora, viralizou no mundo da beleza (e nas redes sociais) o uso de fragmentos de proteínas, os chamados peptídeos, para melhora da pele.
Quem está super por dentro do skincare com certeza já usa, mas será que você sabe o que eles realmente fazem por nós? Explico tudo a seguir:
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Peptídeos: o que são e como entraram no skincare
Peptídeos são moléculas menores que as proteínas, constituídas por blocos de 2 a 49 aminoácidos. Se o peptídeo é formado por dois aminoácidos, é chamado dipeptídeo; três, tripeptídeo; cinco, pentapeptídeo, e por aí vai.
A principal função dessas moléculas é sinalização e comunicação nas células, mas algumas também são precursoras hormonais e até de neurotransmissores. E elas tem uma ação muito interessante para o rejuvenescimento da pele.
Sua história nesse âmbito começou lá em 1973, quando o bioquímico norte-americano Loren Pickart descobriu o hoje conhecido como peptídeo de cobre no plasma sanguíneo.
O pulo do gato foi perceber que essa molécula estava presente em maiores quantidades em jovens do que em idosos. Após investigações, o cientista relacionou a presença do peptídeo a uma pele melhor, e a sua falta a mais rugas.
Na década de 1980, ficou constatado que esse peptídeo era crucial para renovação celular e cicatrização de feridas.
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Mas foi só nos anos 2000 que essas cadeias curtas de aminoácidos realmente foram parar no skincare: a empresa francesa de beleza Sederma criou um pentapeptídeo sintético chamado de Matrixyl, projetado para mimetizar um peptídeo natural que estimula a produção de colágeno.
Foi um sucesso, e diversas empresas de cosméticos compraram o ativo para adicionar aos seus cremes. O hidratante Protect & Perfect, da empresa No7., foi um dos primeiros a comercializá-lo.
Só em 2013, no entanto, veio uma comprovação oficial de eficácia: pesquisadores da Universidade de Reading descobriram que a quantidade certa de Matrixyl pode quase dobrar os níveis de colágeno na pele.
“Hoje, os peptídeos podem funcionar como estimuladores de colágeno, melhorando a firmeza e a elasticidade da pele, agir na redução de linhas finas, rugas superficiais e ter efeito anti-inflamatório, suavizando para peles mais sensibilizadas”, comenta a médica Lilia Guadanhim, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Lógico, como qualquer ativo tópico, exige uso regular e prolongado para que se vejam os efeitos.
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Tipos de peptídeos
Até agora, os cientistas conseguiram dividir essa categoria de ativos em quatro tipos, cada um com ações específicas. Confira:
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Peptídeos sinalizadores
Instruem sua pele a fazer algo, como produzir mais colágeno. O Matrixyl se enquadra nessa categoria.
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Peptídeos transportadores
Transportam moléculas reparadoras, entregando-as a regiões danificadas da pele. Os peptídeos de cobre fazem parte desse grupo.
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Peptídeos inibidores de neurotransmissores
Bloqueiam sinais nervosos que induzem contração facial quando você franze a testa ou levanta as sobrancelhas, o que diminui a contração dos músculos faciais e ajuda a reduzir rugas a longo prazo. Argireline é o nome do mais conhecido dessa categoria.
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Peptídeos inibidores de enzimas
Atuam impedindo que certas enzimas quebrem componentes importantes da pele, como o colágeno, ajudando a manter integridade e elasticidade por mais tempo e evitando o acúmulo de radicais livres, com ação antioxidante e anti-inflamatória. Peptídeos de soja, seda e arroz são exemplos.
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Popularização e versatilidade nas fórmulas
Apesar de não ser um ativo exatamente novo, os peptídeos andaram em baixa por um tempo, enquanto ativos como vitamina C, ácido glicólico e retinóides dominavam o mercado.
Mas, as cadeias curtas de aminoácidos possuem uma vantagem que os torna únicos: são toleradas por peles sensíveis.
“Esses outros ativos podem ser reativos, não se dar bem em todas as peles, principalmente as sensíveis. Enquanto isso, os peptídeos são uma categoria de tratamento praticamente universal, já que pessoas com rosácea, pele sensível e outros problemas conseguem usar”, explica a dermatologista.
Nesse contexto, um dos produtos responsáveis pela volta da popularidade dos peptídeos é o famoso Protini Polypeptide Cream, da marca Drunk Elephant, do grupo Shiseido, lançado em 2018 e viralizado em redes como TikTok e Instagram.

Com a filosofia de ser uma marca minimalista, com fórmulas que não incluem os chamados “ingredientes suspeitos” (como silicone, álcoois, fragrâncias e corantes artificiais, que podem sensibilizar a pele), a Drunk Elephant oferece ativos potentes para serem usados por portadores de diversas condições de pele, por isso os peptídeos se encaixam perfeitamente.
A criadora da marca, Tiffany Masterson, afirmou em entrevista que teve a ideia de desenvolver o Protini por conta dos suplementos de proteína que toma diariamente — o hidratante seria um “shot diário” dessas moléculas para a cútis.
“O Protini é diferenciado pois possui 9 peptídeos sinais na sua fórmula, uma associação que age em diversas frentes”, afirma Melissa Fornasaro, especialista da marca no Brasil. “Ele possui o Matrixyl, que estimula a produção de colágeno e elastina; o Argireline, com efeito botox-like, resultando em uma leve contratura muscular, dentre outros que melhoram múltiplos sinais de envelhecimento”, completa.
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Outra marca que tem os peptídeos como base de suas formulações é a Alastin, do grupo Galderma, recém-chegada ao Brasil.

Ela traz uma combinação exclusiva e patenteada de dois peptídeos, o Trihex (um tripeptídeo e um hexapeptídeo), que possui um duplo efeito:
“Além de estimularem a ação de certos genes que produzem colágeno e elastina, eles ajudam também a eliminar todas as proteínas degradadas, antigas, dando espaço para novas moléculas estruturais e reestruturando a matriz extracelular da pele”, explica Rafael Tomaz, dermatologista e gerente médico da Galderma no Brasil.
E o investimento nessa categoria é enorme: Tomaz explica que, para o desenvolvimento dessa combinação e de todas as fórmulas, foram realizados mais de 45 pesquisas, envolvendo estudos genéticos, mostrando de fato que genes são estimulados nos pacientes após o uso com o produto; estudos morfológicos, com cortes da pele para biópsia e análise microscópica, constatando um aumento de colágeno; e estudos clínico, com medidas objetivas de mensuração de redução de rugas, atenuação de linhas finas e melhora da qualidade da pele.
Esse trabalho se reflete no preço: produtos do tipo não costumam ser baratos.
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Limitações dos peptídeos
Apesar de ser a categoria de ativos de skincare mais promissora que existe no mercado, há também uma grande chance de cair em conversa fiada.
Para que os peptídeos cheguem onde precisam e possam cumprir sua função, é necessário uma fórmula complexa e muito bem pensada. E existem milhões de tipos de peptídeos, então é preciso averiguar se você está investindo numa marca e ativo confiável. O dermatologista pode ajudar com isso.
Também não basta passar um creme e descuidar de todas as outras etapas do cuidado com a pele e a saúde. “Eles são uma categoria que tem um benefício potencial bem interessante, mas ninguém faz milagre sozinho”, pontua Lilia.
E Melissa faz um adendo importante: “É preciso reforçar que peptídeos não são formulações para pele de adolescentes ou adultos muitos jovens, recomendamos os produtos da Drunk após os 20 anos, até pelos ativos potentes que contém. Antes disso, não existe nenhuma necessidade”, completa a especialista.