O câncer de mama, um dos maiores desafios para a saúde feminina, hoje passa por uma revolução na prevenção, no diagnóstico e no tratamento.
Com os avanços científicos moleculares e tecnológicos, e o surgimento de novas terapias, imunoterapia e terapias alvo, atingimos altos níveis de cura em doença inicial e caminhamos para transformar a doença avançada em uma doença crônica sem grandes impactos na qualidade de vida. Mas como chegamos até aqui?
A introdução da mamografia de rastreamento na década de 80 diminuiu em 20% a mortalidade por câncer de mama na população e também duplicou o número de diagnósticos precoces, que têm alta taxa de cura. Nas últimas décadas, devido a esses e outros avanços, a queda na mortalidade chegou a 40%.
Entretanto, dados recentes dos Estados Unidos mostram que a doença está aumentando em mulheres jovens. No Brasil, em torno de 35% dos novos casos são em mulheres com menos de 50 anos, por isso o rastreamento vem sendo recomendado a partir dos 40 anos em alguns países.
A próxima evolução do rastreamento e da prevenção foca em estratégias personalizadas de rastreamento, baseadas no risco individual, e na detecção precoce por meio de biópsia líquida e vacinas contra o desenvolvimento da doença.
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O avanço terapêutico nos últimos 20 anos foi notável e teve grande impacto no aumento das taxas de cura. Uma nova geração de medicamentos “inteligentes”, isto é, que procuram o tumor, tais como anticorpos monoclonais, imunoterapia, inibidores de PARP e ciclina, aumentaram de 70% para mais de 90% as chances de sobrevida em 5 anos em tumores de alto risco após a cirurgia.
Além disso, diagnósticos moleculares que analisam em minúcias o tumor nos ajudam a poupar cerca de 40% das pacientes da quimioterapia e seus efeitos adversos, mantendo o mesmo prognóstico.
Importantes avanços também ocorreram no tratamento da doença avançada, conhecida como metastática. Nos anos 2000, por exemplo, uma paciente diagnosticada com câncer de mama do subtipo HER-2 positivo, uma forma agressiva da doença, tinha uma expectativa de vida de apenas 24 meses.
Hoje, com novas drogas e o sequenciamento adequado das terapias, essa sobrevida mais que dobrou, alcançando uma mediana de cinco anos. Nos últimos 15 anos, a sobrevida de pacientes metastáticas com o subtipo mais comum de câncer de mama, isto é, com receptor de hormônio positivo, passaram de 40 meses e para mais de 60 meses com novas terapias, como os inibidores de ciclina.
E há outras categorias já revolucionando o tratamento com tecnologias inovadoras, como as terapias conhecidas como conjugado anticorpo-droga (ADC), que funcionam ao ligar o anticorpo diretamente ao tumor e liberar altas doses de quimioterapia de forma seletiva, observamos dados impressionantes de eficácia.
Atualmente, três dessas medicações já estão aprovadas para o tratamento do câncer de mama.
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Pesquisa clínica
A geração de dados de vida real vem ganhando destaque atualmente, com o objetivo de compreendermos como as pacientes são diagnosticadas e tratadas na vida real, “fora de estudos clínicos” e, por exemplo, se fatores socioeconômicos impactam o acesso aos novos tratamentos e prognóstico da doença.
Parte desse esforço é a pesquisa que estamos conduzindo no Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG), com mais 3.300 pacientes de vários países da América Latina. O estudo busca avaliar como fatores como raça, escolaridade e nível socioeconômico afetam o estágio da doença, o acesso aos tratamentos e a sobrevida.
A pesquisa clínica, portanto, tem sido um dos pilares dessa transformação no enfrentamento do câncer de mama. O Brasil participa de muitos estudos clínicos internacionais com novas medicações, oferecendo, assim, oportunidades importantes para as pacientes. Incentivar a pesquisa, educar e dar acesso às pacientes aos estudos clínicos deve ser uma prioridade das políticas de saúde do país.
*Gustavo Werutsky, oncologista do Hospital Moinhos de Vento, pesquisador do LACOG, Breast International Group, EORTC e head científico do MAMA