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Como obter equidade no tratamento do câncer de mama no Brasil?

Desigualdades profundas fazem diagnóstico da doença entre as brasileiras acontecer tarde demais, diminuindo as chances de cura

Por Joana Jeker dos Anjos, ativista*
Atualizado em 19 jul 2025, 08h14 - Publicado em 19 jul 2025, 06h00
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Câncer de mama é o mais comum entre as mulheres (Foto: rawpixel.com/Freepik/Divulgação)
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O câncer de mama é uma questão de saúde pública mundial: é o tipo de tumor maligno mais incidente em nós, mulheres, e a segunda causa de morte por câncer na população feminina. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima para o triênio 2023-2025 quase 74 mil novos casos da doença.

Entre as mulheres diagnosticadas com a doença, há um grupo de ainda maior risco: cerca de 1 em cada 3 pacientes com câncer de mama precoce, receptor hormonal positivo e HER2 negativo, apresenta metástase em linfonodos, o que é considerado fator de risco significativo para recorrência e morte.

Isso porque 30% delas podem progredir para um quadro metastático, quando a doença se espalha para outras regiões do corpo, e é incurável. E o mais sério: atualmente a rede pública não oferece um tratamento específico para as mulheres com esse tipo de tumor mamário. Ou seja, temos um grave problema de acesso a opções terapêuticas em um país em que 70% da população depende do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em termos concretos, essas pacientes podem perder a única chance real de cura. De acordo com a American Cancer Society, nove em cada 10 casos podem ser identificados em estágio inicial, quando as chances de cura alcançam 95%, com o tratamento adequado, claro. No Brasil, infelizmente, cerca de 40% dos diagnósticos são feitos com a doença avançada.

+Leia também: Por que os casos de câncer em jovens não param de crescer?

No SUS, as pacientes com câncer de mama precoce ainda recebem a chamada terapia hormonal, que não é suficiente para reduzir a probabilidade de a doença voltar a dar as caras nas mulheres consideradas de alto risco.

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A falta de um tratamento voltado para essas pacientes vai contra objetivos, por exemplo, estabelecidos em políticos públicas, como reduzir a incidência da doença, melhorar a qualidade de vida, reduzir a mortalidade e garantir um cuidado mais completo. Eu me pergunto: por que as mulheres da rede privada têm acesso aos tratamentos mais modernos e as do SUS, não?

O que me surpreende é que tratar a doença nos estágios iniciais, além de ser muito melhor para as pacientes e suas famílias, é também menos oneroso para o próprio sistema público de saúde. O tratamento de um câncer que se prolifera no corpo demanda gastos extras, como uso de UTI e internações prolongadas.

A título de comparação, um câncer de mama em estágio avançado pode custar até dez vezes mais do que na fase inicial no SUS, segundo o Observatório de Oncologia.

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Outros pontos também devem ser endereçados para que possamos chegar a uma equidade no tratamento do câncer de mama no Brasil. Os hospitais de excelência, seja no sistema público ou no privado, ainda estão localizados nas regiões mais ricas, como Sudeste e Sul. Sem falar que os estados mais abastados conseguem complementar a tabela do SUS por meio de recursos próprios.

Estados e municípios devem cumprir o Protocolo Clínico de Diretrizes de Tratamento (PCDT) para câncer de mama, que entrou em vigor no final do ano passado. Elaborado pelo Ministério da Saúde e o primeiro em câncer, o documento, que padroniza os parâmetros de tratamento, incorporou cinco procedimentos para câncer de mama no SUS, como os inibidores das quinases dependentes de ciclina (CDK) 4 e 6.

Mas é preciso destacar que o PCDT por si só não significa acesso. A realidade das mulheres ainda é de uma árdua jornada em busca de diagnóstico e cuidado. Mesmo aqueles tratamentos que o protocolo institui como obrigatórios nem sempre são, de fato, oferecidos para as pacientes.

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Como reforço à identificação da doença não avançada, também é necessário garantir o cumprimento da Lei 13.896/19, que garante aos usuários do SUS com suspeita de câncer o direito à realização de exames no prazo de 30 dias. Eu, como uma paciente em remissão de câncer de mama triplo negativo desde 2007, sei da importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença!

Trago essas reflexões para que cada vez mais pessoas exijam o cumprimento do PCDT para câncer de mama e para que representantes dos diferentes poderes, especialmente do Legislativo e do Executivo, adotem medidas para oferecer um atendimento digno e equânime para as mulheres de seus estados e municípios.

+Leia também: Câncer de mama: conheça os direitos de pacientes com a doença

*Joana Jeker dos Anjos, é presidente e fundadora da organização social Recomeçar – Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília.

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