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Como prevenir problemas de visão entre as crianças

Os cuidados englobam o teste do olhinho na maternidade e consultas ao oftalmopediatra na infância e adolescência — ainda mais com a pandemia

Por Diana Danda, oftalmopediatra*
Atualizado em 10 abr 2023, 17h10 - Publicado em 12 out 2020, 16h58
problemas de visão crianças
Mais de 12 milhões de crianças brasileiras sofrem com algum comprometimento visual em função de problemas como miopia.  (Foto: Mustafa Gül/iStock/Getty Images)
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,4 milhão de crianças no mundo apresentam perda de visão em algum grau, a maioria em regiões carentes do planeta. Porém, 80% desses casos poderiam ser evitados ou tratados com melhores resultados em uma consulta ao oftalmopediatra.

Os cuidados com a saúde ocular da criança devem começar ainda no pré-natal, quando é possível detectar e controlar doenças nas gestantes, como toxoplasmose, sífilis e herpes, que colocam em risco a visão do feto. Já no pós-parto, todos os recém-nascidos precisam passar pelo teste do olhinho, um exame essencial para investigar alterações que exigem intervenção médica urgente, tais como catarata congênita (maior incidência em bebês cujas mães tiveram infecção) e glaucoma congênito (um sinal é a fotofobia), além do retinoblastoma (tumor na retina, área que gera as imagens).

Até completarem 2 anos de vida, os bebês, com sintoma ou não de problemas de vista, devem ser levados a esse profissional, idealmente a cada seis meses. Após essa idade, se estiver tudo bem, a criança deverá ser examinada anualmente até os 10 anos. Isso porque é na fase pré-escolar (dos 4 aos 6 anos) e na segunda infância (dos 6 anos até a puberdade) que costumam aparecer os erros de refração — miopia, astigmatismo e hipermetropia.

E também o estrabismo, o desalinhamento dos olhos, distorção que atinge cerca de 5% da população infantil e tem diferentes formas: um olho pode estar virado para frente, enquanto o outro, para dentro, para fora, cima ou baixo. As causas podem ser de algum dano nos músculos que controlam o movimento ocular, lesão no nervo óptico, entre outras.

Vale lembrar que até por volta dos seis meses de vida é normal algum desvio dos olhos. Contudo, se ele permanecer depois dessa idade, um oftalmopediatra merece ser consultado. Com a falha, os olhos não focam a imagem no mesmo sentido e ao mesmo tempo, o que pode levar à diminuição da visão, perda da percepção de profundidade e visão dupla. Daí a importância de iniciar a correção precocemente, com o tratamento adequado em cada caso, o que inclui o uso de óculos especiais, tampão, exercícios para os olhos ou cirurgia.

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Outra preocupação dois pais quando chegam ao consultório é a diferença na cor dos olhos do bebê. Ela é determinada pela íris. E os tons variam de acordo com a luminosidade, dando a impressão de que o olho muda de cor. Ao nascer, a tonalidade não está bem definida, podendo se modificar dos quatro até os seis meses de vida. Após essa fase, fica praticamente inalterada. Mas qualquer transformação significativa da coloração ocular, após o primeiro ano do bebê, deve ser motivo de consulta.

Atenção redobrada com a pandemia do coronavírus

Além da visita de rotina ao oftalmopediatra, os pais ou responsáveis precisam observar se a criança demonstra baixo rendimento ou desinteresse na escola, falta de concentração, lacrimejamento, irritação e vermelhidão dos olhos ao assistir TV e usar o computador ou mesmo queixa de baixa visão em um ou em ambos os olhos, acompanhados ou não de dor de cabeça. Essa atenção deve ser redobrada, especialmente em um cenário de isolamento social devido à pandemia, no qual as crianças e os adolescentes têm passado mais tempo utilizando computadores, tablets e celulares, comportamento acentuado com as aulas a distância.

Com essa nova rotina, os olhos piscam menos (normalmente de 15 a 20 vezes por minuto), o que reduz a lubrificação. Daí a relevância de manter a distância de cerca de 40 centímetros das telas e dos livros ao ler. E ainda recomenda-se fazer pausas de dez minutos a cada uma hora, se levantar e, se possível, olhar através de uma janela, para um ponto distante. Essa conduta relaxa as musculaturas interna (que se contrai no esforço para ver de perto) e ao redor dos olhos, evitando o cansaço visual.

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A diminuição do tempo diante das telas também é a orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que, em meio à pandemia, reiterou a necessidade, mesmo durante a quarentena, do controle por parte dos pais ou responsáveis sobre as horas passadas pelos seus filhos em dispositivos digitais.

Irritação e cansaço ocular decorrentes de longos períodos expostos às telas não são o único problema. Segundo estudos, esse comportamento está associado a danos como redução do campo de visão e miopia. No míope, a visão de perto é boa, mas embaça para enxergar de longe. Ocorre quando o comprimento do olho é maior que o normal, a córnea é muito curva ou o cristalino (nossa lente natural) tem formato, espessura ou posição anormais. Assim, a luz que entra no olho é focada de forma incorreta na retina e os objetos distantes ficam borrados. Como o olho continua a crescer com o desenvolvimento da criança, a miopia também tende a aumentar.

Assim que possível, é preciso oferecer mais tempo de atividades ao ar livre às crianças — essa atitude também é bem-vinda à saúde ocular. Pesquisas recentes sugerem que a luz do sol ativa a produção da substância dopamina (um mensageiro químico que atua no sistema nervoso) que, entre outras funções, atua para evitar o crescimento além do normal do globo ocular, reduzindo, assim, o risco de miopia ou piora desse erro refrativo. Outras investigações indicam que a luz do sol estimula a fixação de vitamina D, que também parece ter um papel fundamental na visão.

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Outro alerta sobre o cuidado com os olhos das crianças é a prevenção de acidentes domésticos, como ferimentos com objetos cortantes e pontiagudos, contato dos olhos com produtos de limpeza e álcool em gel. Também as atividades escolares e de lazer, envolvendo cola, tinta, tesoura e outros materiais que possam trazer risco, devem ser feitas sob a supervisão de um adulto, até pelo menos a idade de 5 anos.

A negligência com a saúde ocular, nos primeiros anos de vida, afeta o desenvolvimento psicomotor e a capacidade de comunicação, com prejuízos ao bem-estar. De acordo com o documento Diretrizes de Atenção à Saúde Ocular na Infância: Detecção e Intervenção Precoce para a Prevenção de Deficiências Visuais, do Ministério da Saúde, estima-se que 12,8 milhões de crianças brasileiras, entre 5 e 15 anos, apresentam deficiência visual por erros de refração não corrigidos. Portanto, podemos e devemos cuidar bem da saúde ocular dos nossos filhos.

* Diana Danda é oftalmopediatra, membro do Centro Brasileiro de Estrabismo, da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica e do corpo clínico da Lúmmen Oftalmologia, do grupo Opty, no Rio de Janeiro

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