Dá para tratar apneia do sono com micro-CPAPs?
Mais baratos, menores e sem as mangueiras e máscaras do CPAP… Mas não há evidências robustas de que eles sejam eficazes, alerta especialista
A apneia do sono é um dos distúrbios de sono mais comuns e as opções de tratamento comprovadamente eficazes não são muitas.
O chamado CPAP — aparelho que pressuriza o ar por meio de uma mangueira e uma máscara para que o paciente respire à noite sem as obstruções na passagem do ar — é o tratamento mais utilizado no mundo. Ele entra em cena especialmente nas formas mais importantes da doença.
Tivemos significativas evoluções que ocorreram nos modelos de CPAP. Entretanto, barreiras como o custo e a manutenção de uma excelente adaptação em longo prazo (lembrando que é uma doença crônica) criam a necessidade de novos tratamentos.
Se, por um lado, isso é bem vindo, por outro, as alternativas nem sempre são eficazes.
Observamos várias tentativas de simplificação de tratamento para uma doença complexa, e é neste sentido que entra um aparelho chamado micro-CPAP.
Afinal, o que é o micro-CPAP?
Como o nome sugere, o micro-CPAP é um aparelho de pequeno porte instalado no nariz do paciente, que tenta reproduzir as funções do CPAP tradicional, mas com a suposta vantagem de não utilizar fios, máscaras ou mangueiras.
O ar entra no aparelho pelo esforço da inspiração. Ali dentro, passa por “micro-ventiladores” que criam um fluxo de ar que, em teoria, poderia contribuir para desobstruir a passagem de ar que ocorre na apneia.
Além de ser mais barato que o CPAP tradicional, o aparelho funciona com bateria com durabilidade para uma noite.
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Falta comprovar o benefício
Mais barato, menor e sem as máscaras e as mangueiras do CPAP. Parece bem, atrativo, não?
Mas… Funciona? Temos evidências científicas amplamente aceitas por especialistas da área, que respaldam a aprovação em agências de regulação? De forma objetiva, a reposta é não!
Faltam estudos bem controlados, de preferência por pesquisadores não envolvidos com as empresas que fabricam estes aparelhos, os comparando com o CPAP tradicional, já amplamente testado e aprovado.
Estes testes precisam ter uma amostra de pacientes suficiente, seguimento adequado e considerando as diferentes gravidades da apneia.
Desta forma, os micro-CPAPs não devem ser utilizados para o tratamento da apneia do sono.
Essa recomendação pode mudar com o desenvolvimento dos equipamentos e estudos que preencham pré-requisitos metodológicos mínimos, que permitam inferir eficácia e segurança.
Os riscos de apostar em tratamentos “alternativos”
As comunidades científica e médica não são contra inovações e novos tratamentos.
No entanto, o rigor científico deve ser o mesmo, independentemente de estarmos testando um medicamento, um aparelho, etc.
Estamos observando recentemente um crescimento de “soluções mágicas” para a apneia do sono, sem a devida comprovação de que funciona.
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Micro-CPAPs similares ao originalmente lançado estão entrando no mercado, com qualidade ainda mais duvidosa. E aí não adianta ser barato ou “mais fácil de usar” se não funciona adequadamente.
É o famoso barato que sai caro, e quem perde é o paciente, que posterga tratamentos efetivos de uma doença que causa importante comprometimento na qualidade de vida e pode elevar o risco de outras encrencas à saúde.
Fique ligado e procure atendimento adequado!
*Luciano Drager, cardiologista e Presidente da Associação Brasileira do Sono (ABSono)