Dos 5 Is aos 5 Ms: a evolução dos conceitos de cuidado aos idosos
Médica explica o que está por trás do tema escolhido para o principal congresso científico sobre envelhecimento no Brasil, recém-ocorrido em São Paulo
As inovações científicas no campo do envelhecimento humano, trazendo possibilidades diagnósticas e terapêuticas para as doenças mais prevalentes, medidas preventivas realmente eficazes e soluções biotecnológicas nas mais diversas situações ligadas ao avançar da idade, protagonizaram o 23º Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia (CBGG), na cidade de São Paulo.
Junto a esses assuntos, debatemos outros tópicos de extrema importância, como melhores formas de cuidar e políticas públicas que garantam à população envelhecer com mais dignidade, autonomia e independência pelo maior tempo possível.
Nesse sentido, o tema central escolhido para o evento deste ano foi a “evolução de conceitos na prática do cuidado”, e ela se ampara em cinco eixos temáticos, denominados 5 Ms.
As iniciais vêm de “mente”, que compreende aspectos como depressão, demência, confusão mental, delirium…; “mobilidade”, que abrange perda de equilíbrio, dificuldades para locomoção, perigo de quedas; “medicação”, que traz à tona a necessidade de pacientes usarem vários remédios simultaneamente, a polifarmácia, e o risco de sobreposição de efeitos adversos entre eles; “multicomplexidade”, que se refere à frequência com que condições de saúde podem estar presentes ao mesmo tempo, caso de hipertensão, diabetes, osteoartrite, Alzheimer, entre outras, e destaca a importância de profissionais como o geriatra realizarem o gerenciamento de um plano de cuidados, junto a especialistas de outras áreas, se necessário; e “mais importante”, uma expressão que traduz a relevância de respeitarmos os principais desejos e objetivos relacionados à saúde que um indivíduo, na parte final de sua vida, quer manter ou concretizar.
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Propostos em 2017 pela médica americana Mary Tinetti, os 5 Ms vêm ganhando espaço nos centros acadêmicos e nos serviços assistenciais como uma forma mais eficaz de comunicar o diferencial do cuidado na medicina geriátrica, que, junto à gerontologia, é a ciência que estuda, além do processo do envelhecimento em si, as condições mais prevalentes na população idosa e como abordá-las adequadamente, evitando e refutando práticas que mais confundem ou enganam as pessoas.
Os 5 Ms vêm ao encontro dos 5 Is, estes propostos pelo geriatra britânico Bernard Isaacs (1924-1995) para dividir as grandes síndromes mais comuns após os 60 anos: imobilidade, instabilidade postural, incontinência (urinária, fecal…), insuficiência cerebral e iatrogenia (termo que se refere a dano ou evento adverso causado por medicamentos ou atos médicos).
Fazendo a intersecção entre conceitos e ações contidos nessas duas propostas, a Comissão Científica do CBGG buscou reunir, atualizar e disseminar, por meio de conferências, mesas-redondas, workshops e discussões de casos, as especificidades da atuação dos profissionais de saúde que lidam diretamente com a pessoa idosa, procurando entender sua complexidade e trabalhando para melhorar a qualidade de vida desse crescente estrato da população e de seus familiares.
* Ivete Berkenbrock é médica geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)