Mamografia para diagnóstico precoce deve começar a partir dos 40 anos
Campanha chama a atenção para o direito à mamografia a partir dos 40 anos no SUS. Detecção precoce aumenta chances de cura
São muitos os desafios que ainda envolvem o câncer de mama no Brasil, uma doença que é responsável por quase um terço dos tumores malignos entre a população feminina. Dados recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que a estimativa de novos casos da doença no Brasil é de 66 280 para o triênio 2020-2022, mas um fato preocupante é que, enquanto as taxas de mortalidade pelo câncer de mama em outros países apresentam uma queda significativa, no Brasil esses índices vêm aumentando.
Certamente, um dos aspectos que mais contribuem para os desfechos que teremos na condução do tratamento é o momento do diagnóstico, ou seja, o estágio em que a doença foi detectada. Vale lembrar que o Outubro Rosa acabou, mas a importância do diagnóstico precoce, inclusive para as mulheres mais jovens, se aplica ao ano todo.
Sabemos que a idade média do diagnóstico de câncer de mama no Brasil é de 53 anos, sendo que 40% dos casos têm menos de 50. Isso significa que uma parcela significativa de mulheres está fora da recomendação do Ministério da Saúde para a realização anual do exame de mamografia de forma preventiva pelo Sistema Único de Saúde (SUS), hoje restrito a mulheres dos 50 a 69 anos.
A situação se deve à Portaria nº 61/2015, que restringe, na prática, o exame preventivo a essa faixa etária, contrariando a Lei nº 11.664/2008, que garantia esse direito às mulheres mais jovens.
Enquanto sofremos com os gargalos do nosso sistema público de saúde, cada vez mais as sociedades médicas nacionais e internacionais recomendam a realização da mamografia de forma preventiva a partir dos 40 anos como a forma mais eficiente para a detecção precoce do câncer de mama. Isso aumenta a possibilidade de tratamentos menos agressivos e com taxas de sucesso mais satisfatórias.
Tanto é que, recentemente, um artigo publicado na revista científica The Lancet Oncology reforça tal orientação. O estudo em questão contemplou mais de 160 mil mulheres e demonstrou que a mamografia anual antes dos 50 anos, começando aos 40 ou 41 anos, foi associada a uma redução relativa na mortalidade por câncer de mama — esse índice foi atenuado após dez anos, embora a redução absoluta tenha permanecido constante.
No Brasil, uma campanha de mobilização na internet, chamada Mamografia no SUS a partir dos 40 anos, está chamando a atenção para o tema, convidando toda a sociedade a manifestar apoio ao projeto de decreto legislativo nº 679/2019, que está em tramitação na Câmara dos Deputados, e anula os efeitos da portaria no 61/2015 do Ministério da Saúde, assegurando novamente o direito à realização da mamografia preventiva a partir dos 40 anos.
Com base na literatura médica, está cada vez mais claro que a combinação de prevenção e detecção precoce é fundamental para melhorar as chances de cura do câncer de mama. Por isso, se continuarmos negando o rastreamento a mulheres jovens, poderemos comprometer o diagnóstico precoce de milhares de brasileiras. É hora de mudar esse cenário.
* Gilberto Amorim é oncologista especialista em câncer de mama e coordenador do Grupo de Oncologia Mamária da Rede D’Or