Mordida e arranhão de gato podem ser perigosos
Frente às notícias de um ataque de um gato à sua tutora, médico aponta os riscos das lesões causadas pelas unhas e dentes do animal
Recentemente, a imprensa noticiou o caso de um gato que ataca com frequência sua tutora em São Vicente, no litoral paulista. O caso não é isolado. Mordidas e arranhaduras de gatos domésticos são comuns e, geralmente, respondem bem a cuidados simples com as feridas.
No entanto, algumas situações podem evoluir com complicações significativas e até oferecer risco de vida. A taxa geral de infecção estimada por mordidas de gato varia entre 30% e 60%, mais do que o dobro da taxa observada em cães.
Os ataques de cachorro são mecanicamente destrutivos, devido aos dentes largos e mandíbulas fortes, produzindo danos visuais significativos na pele. Mas as lesões provocadas por gatos são facilmente subestimadas, devido à aparência discreta do ferimento.
Os gatos têm dentes afiados e delgados que penetram nos tecidos profundos, nos ossos e nas articulações. Assim como as agulhas hipodérmicas (projetadas para penetrar bem na pele), adentram nestas camadas, inoculando lá dentro as bactérias. Uma bactéria em específico, a Pausterella multocida, é bem característica das mordeduras do gato.
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O pequeno ferimento em formato de ponto, caracterizado por uma perfuração na pele, fecha em, aproximadamente, 48 horas, produzindo um potencial espaço morto, que favorece o surgimento de infecções.
As mordidas tendem a envolver o membro superior, com quase 65% afetando a mão e o punho, que possuem um fino envelope de pele circundante, com bainhas superficiais de tendões, ossos, articulações e feixes neurovasculares.
Essa anatomia ajuda a aumentar o risco de contaminação. Uma complicação frequente é a tenossinovite infecciosa, que acomete mais de um terço dos pacientes com infecção profunda dos dedos.
Sintomas de complicações das mordidas de gato
A infecção é caracterizada, principalmente, por inflamação progressiva causando, no início, vermelhidão, inchaço e dor intensa dentro de 24 horas após o ferimento (70% das vítimas) e em 48 horas (90% dos casos).
Os fatores que aumentam o risco de desenvolver infecção grave em mordidas de gato são bem conhecidos. Eles incluem diabetes, estado imunocomprometido, idade avançada ou tratamento abaixo do ideal.
Se o quadro não for controlado, podem ocorrer septicemia e falência de múltiplos órgãos. Nesse cenário, a mortalidade varia entre 25% e 60%, considerando apenas as septicemias decorrentes de mordidas de gato.
Por fim, as infecções profundas podem levar até a amputação de dedos. Pacientes diabéticos com neuropatia periférica estabelecida apresentam maior probabilidade de sofrer esse problema.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppDoença da arranhadura do gato
Outra situação provocada por felinos domésticos é a chamada doença da arranhadura do gato. Trata-se de uma infecção causada pela bactéria Bartonella henselae, que é transmitida através de arranhões, mordidas ou lambidas de um animal infectado, principalmente os gatos.
Entre os sintomas, há vermelhidão, edema e erupções na pele, fadiga, inapetência e desconforto. Os gânglios linfáticos perto do ferimento podem inchar. Em alguns casos, há febre.
A doença da arranhadura do gato geralmente começa a manifestar sintomas até 14 dias após o ferimento. Na maioria dos casos, desaparece em poucas semanas.
Recomendamos que qualquer mordida por gato, no membro superior, especialmente na mão e no punho, seja tratada imediatamente com orientação médica, nas primeiras 48 horas após a lesão. Tal cuidado é ainda mais importante na população imunocomprometida.
*Antonio Carlos da Costa é médico especialista em cirurgia de mão, ortopedia e traumatologia, e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM)