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O acesso da mulher ao tratamento para doença renal crônica

No Dia Internacional da Mulher, colunista mostra como o acesso à hemodiálise é desigual entre os sexos. E explica o porquê disso

Por Ana Beatriz Barra, nefrologista*
8 mar 2018, 14h00

O desenvolvimento da ciência revela cada vez mais o abismo que existe na saúde mundial. Na mesma época que pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, divulgam a criação e os testes com o primeiro rim artificial biônico, discutimos ainda a grande dificuldade de acesso de pacientes renais crônicos a terapias básicas de diálise – e esse cenário é ainda pior entre as mulheres, como mostraremos mais adiante.

Para quem não está familiarizado, o rim é o único órgão do corpo que pode ser substituído por uma máquina. O aparelho basicamente filtra o sangue e elimina o excesso de toxinas e líquidos do organismo quando ocorre a falência do órgão. Em geral, o paciente precisa submeter-se à hemodiálise pelo menos três vezes por semana, em sessões de quatro horas de duração. Sem o tratamento, não há garantia de vida.

Em decorrência da escassez de investimentos em saúde, do envelhecimento da população e da prevalência de doenças crônicas, a equidade do acesso ao tratamento renal substitutivo é muitas vezes uma utopia. Dos 9 milhões de indivíduos que necessitavam de diálise no mundo em 2010, por exemplo, menos de um terço a utilizou. Dos que conseguiram tratamento, 90% residiam em países desenvolvidos.

Aliado a isso, há as questões de gênero que não podem ser ignoradas. O risco de desenvolver doença renal crônica é praticamente o mesmo entre os sexos. No entanto, o número de mulheres em diálise é significativamente menor do que o de homens.

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Na principal rede de serviços de diálise do Brasil, responsável atualmente por cerca de 4 500 vidas, os homens representam 59% dos pacientes. O acesso desigual a tratamento tem reflexos concretos. Em todo o mundo, a doença renal afeta aproximadamente 195 milhões de mulheres e é a oitava principal causa de mortes no sexo feminino. São 600 mil óbitos por ano.

Justamente por isso, a saúde da mulher foi escolhida como o tema do 13º Dia Mundial do Rim. Não por coincidência, a data cai este ano no 8 de março, Dia Internacional da Mulher. O objetivo é chamar atenção para o que leva homens e mulheres a terem tratamentos diferenciados.

Os principais estudos mundiais apontam que aspectos socioeconômicos estão entre as grandes causas dessa discrepância. Não podemos ignorar que, no planeta, 62 milhões de meninas não vão à escola. Mais: as mulheres representam dois terços dos 758 milhões de adultos analfabetos. Sem educação, fica mais difícil brigar por direitos básicos, como tratamento constante e gratuito a uma doença crônica que abala os rins.

No Brasil, mais de 122 mil pacientes fazem diálise e a estimativa é que mais de 30 mil novas pessoas passem a precisar do tratamento todos os anos. Houve aumento anual médio no número de pacientes de 6,3% nos últimos cinco anos, só que metade deles se encontra na região Sudeste.

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Isso evidencia mais um fator de desigualdade, porque os moradores do Norte e do Nordeste sequer conseguem fazer um diagnóstico adequado. Os dados, para quem se interessar, são do último censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

A chegada ao Brasil de inovação tecnológica em saúde, que é o caso da terapia hemodiafiltração de alto volume (ou HighVolumeHDF®) – considerada a terapia que mais se assemelha ao perfil de eliminação de um rim saudável e amplamente utilizada na Europa – representa um desafio adicional. Um artigo recente publicado no Nephrology Dialysis Transplantation (NDT) avaliou os quatro principais estudos da eficácia da hemodiafiltração de alto volume no mundo. E apontou que, dos 2 793 pacientes incluídos na pesquisa e que tiveram acesso à melhor terapia existente no mundo, apenas 38% eram mulheres.

Por isso, nada mais oportuno do que aproveitar a visibilidade do Dia Internacional da Mulher e do Dia Mundial do Rim para divulgar e cobrar a necessidade urgente de garantir que todos consigam utilizar o melhor tratamento possível, garantindo qualidade de vida. Isso é possível.

*Coluna escrita por Ana Beatriz Barra, nefrologista e gerente médica da Fresenius Medical Care

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