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Por cuidados mais justos contra o câncer

No Dia Mundial do Câncer, dois médicos que são referência no assunto explicam o que precisa melhorar no ecossistema do cuidado

Por Antonio Carlos Buzaid e Fernando Maluf, oncologistas*
Atualizado em 4 fev 2022, 11h08 - Publicado em 4 fev 2022, 11h06
prevenção do câncer
Acesso a diagnóstico precoce e tratamentos mais modernos é uma das bandeiras de pacientes, cuidadores e profissionais.  (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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A campanha do Dia Mundial do Câncer, realizado anualmente em 4 de fevereiro, propõe que a sociedade – pacientes, profissionais de saúde e autoridades públicas e privadas – traga a equidade para o centro do debate em oncologia.

A partir de 2022, e pelos próximos três anos, o tema da sensibilização será “Por Cuidados Mais Justos”, destacando que a desigualdade no acesso a prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer está custando vidas, tanto em países de baixa quanto de média renda.

No Brasil, vemos claramente os efeitos dessa disparidade, seja nas diferenças entre os sistemas público e privado, seja nas enormes lacunas que existem regionalmente. Bons exemplos são os casos do câncer de colo de útero e de pênis.

O primeiro, com maior incidência no Norte e no Nordeste do país, é um tumor evitável com vacinação contra o HPV e exames preventivos e acaba vitimando mais mulheres em situação econômica vulnerável. O segundo afeta sobretudo algumas regiões nordestinas e pode ser combatido com hábitos de higiene e a imunização contro o mesmo vírus.

Evitar, tratar, curar. Quando, há quase oito anos, lançamos a primeira edição do livro Vencer o Câncer, pretendíamos informar e empoderar pacientes, familiares e cuidadores para a garantia de um melhor tratamento e de mais qualidade de vida para quem recebia o diagnóstico de uma doença grave, na maioria dos casos.

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+ Leia também: Retinoblastoma, um câncer que acomete os olhos e é mais comum nas crianças

Hoje, com o Instituto Vencer o Câncer, além de continuar conscientizando a sociedade, entendemos que é fundamental estimular o debate sobre as políticas públicas em oncologia, propondo e cobrando medidas mais eficientes para prevenir, diagnosticar e tratar com os melhores recursos possíveis.

Além disso, acreditamos na importância do investimento em pesquisa, com o impulso à criação de centros de estudo em áreas mais carentes do país.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima, para este ano, 625 mil novos casos de câncer no Brasil. Os tumores mais incidentes, tirando da lista o câncer de pele não melanoma, são os de mama, próstata, intestino e pulmão. Na grande maioria dos casos, o diagnóstico precoce significa um prognóstico mais favorável e boas chances de cura.

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Para tanto, políticas bem estabelecidas de rastreamento são fundamentais. E elas já existem para os tumores mais prevalentes. Em alguns casos, poderiam ser atualizadas, mas são, em todo caso, o caminho para flagrar cedo e tratar com mais sucesso.

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No câncer de mama, o Ministério da Saúde recomenda a mamografia a cada dois anos, a partir dos 50 anos. Muitos especialistas e entidades defendem, porém, a realização anual a partir dos 40, ou antes em casos particulares que dependem da análise do risco da paciente. Para cólon e reto, é indicada a colonoscopia a partir dos 50 anos.

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Já o papanicolau deve ser realizado em mulheres na faixa etária dos 25 aos 64 anos pensando na prevenção do câncer de colo de útero. No caso da próstata, toque retal e PSA são exames importantes a partir dos 50 anos, ou 40 a 45 anos em pessoas da raça negra ou com história familiar. Para o câncer de pulmão, já pedimos a tomografia computadorizada do tórax a partir dos 50 anos a pacientes tabagistas ou ex-tabagistas.

Pela falta de informação, acesso a esse screening e dificuldade em marcar consultas e exames (incluindo biópsias), muitos brasileiros ainda recebem o diagnóstico da doença em estágio avançado. E a situação piorou nos últimos anos, com as restrições impostas pela pandemia de Covid-19.

No campo do tratamento, é necessário rever o acesso, hoje limitado, às melhores técnicas cirúrgicas e aos melhores medicamentos, equalizando, ainda, a falta de máquinas de radioterapia pelo país.

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Dessa forma, é imperativo que os governos invistam na saúde de forma prioritária. Do contrário, nunca teremos melhoras genuínas ao alcance da população. Trata-se de um esforço conjunto, que precisa de uma sociedade atenta para a garantia de cuidados mais justos aos pacientes com câncer.

* Antonio Carlos Buzaid e Fernando Maluf são oncologistas e fundadores do Instituto Vencer o Câncer

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