Diabetes e saúde pulmonar: endócrino não deve apenas medir glicose
Quando pensamos em evitar complicações da doença, dificilmente os pulmões vêm à mente. Mas não deveria ser assim

Se eu te perguntar quais as complicações do diabetes, é provável que você responda a neuropatia, a retinopatia ou as doenças cardiovasculares. No entanto, uma área frequentemente negligenciada é a saúde pulmonar.
Estudos recentes indicam que pessoas com diabetes podem apresentar comprometimento da função pulmonar, muitas vezes de forma silenciosa, sem sintomas evidentes.
Ainda em 2004, uma pesquisa realizada pelo Center of Disease Control (CDC), Estados Unidos, demonstrou uma relação inversa entre a função pulmonar e o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Ou seja, indivíduos com menor capacidade pulmonar têm maior probabilidade de desenvolver diabetes ao longo do tempo.
Outro estudo prospectivo acompanhou mais de 4.800 adultos nos Estados Unidos e também descobriu que medidas reduzidas de função pulmonar, como o volume expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital forçada, estavam associadas a um aumento significativo no risco de desenvolver a doença crônica.
Além disso, pesquisadores da Universidade Qingdao, China, publicaram uma revisão de estudos prospectivos que chegou à mesma conclusão, de maneira mais precisa. Para cada redução de 10% na capacidade vital forçada (CVF) prevista, houve um aumento de 12% no risco de diabetes.
O volume expiratório forçado no primeiro segundo mede a quantidade de ar que uma pessoa consegue expirar com força no primeiro segundo após encher os pulmões. Esse teste ajuda a avaliar se há alguma obstrução na respiração.
Já a capacidade vital forçada mede o total de ar que uma pessoa consegue expirar após uma inspiração profunda.
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Em fevereiro de 2025, outro capítulo desta história foi escrito, desta vez por um grupo chinês da Southern Medical University de Guangzhou. Este grupo investigou a relação entre o funcionamento dos pulmões, os riscos de doenças cardiovasculares (DCV) e mortalidade por todas as causas em indivíduos que já possuem com diabetes tipo 2.
Os resultados indicaram que a diminuição da função pulmonar está associada a um aumento nos riscos de DCV e mortalidade geral entre esses indivíduos. Esses achados destacam a importância de monitorar a função pulmonar em pacientes com diabetes tipo 2 para identificar precocemente aqueles com maior risco de complicações cardiovasculares e mortalidade.
Por que os pulmões são afetados pelo diabetes?
Embora a relação entre diabetes e função pulmonar ainda esteja sendo investigada, algumas teorias foram propostas:
• Microangiopatia pulmonar: Assim como o diabetes pode causar danos aos pequenos vasos sanguíneos em órgãos como os olhos e os rins, os pulmões também podem sofrer alterações nos vasos sanguíneos, afetando a troca gasosa.
• Glicação de Proteínas Pulmonares: A hiperglicemia crônica pode levar à alteração de proteínas no tecido pulmonar, reduzindo a elasticidade e a função dos pulmões.
• Inflamação Sistêmica: O diabetes está associado a um estado inflamatório crônico, que pode contribuir para alterações na função pulmonar.
Portanto, o endocrinologista deve incluir a avaliação pulmonar nas pessoas em suas consultas de rotina para quadros com diabetes.
Dado que as alterações na função pulmonar podem ser silenciosas, é crucial que pessoas com diabetes recebam este tipo de atenção. Testes simples, como a espirometria, podem detectar precocemente alterações, permitindo intervenções antecipadas.
Além disso, manter um controle glicêmico adequado, praticar atividade física regular e evitar o tabagismo são medidas essenciais para preservar a saúde pulmonar.