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O Futuro do Diabetes

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Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e criador do Endodebate e do Diacordis. Aqui ele mapeia os cuidados e os avanços para o controle do diabetes

Estatinas: entre novidades e fake news no tratamento do colesterol

Nosso colunista desfaz mitos sobre o principal remédio usado no controle do colesterol e aponta o que vem por aí no tratamento

Por Carlos Eduardo Barra Couri
22 set 2022, 16h25
ilustração de caixa e comprimidos de remédio
Efeitos colaterais das estatinas ocorrem numa minoria dos usuários.  (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Um dos tratamentos médicos que mais sofreram com fake news disseminadas por aí foi o controle do colesterol alto.

Níveis elevados de colesterol são uma doença silenciosa, um dos maiores vilões ao coração. Quando usamos a palavra “doença”, pensamos logo numa pessoa de cama, enfraquecida ou hospitalizada. Mas o colesterol alto é silencioso, o que engana muitas pessoas.

Os sintomas, quando aparecem, são justamente por entupimento das artérias, ou seja, quadros de infarto do coração, derrame cerebral e gangrena nas pernas.

Nossa maior preocupação é o LDL-colesterol, vulgo colesterol ruim. A maior parte dessa fração na corrente sanguínea é produzida pelo fígado e tem forte influência da genética da pessoa. Isso quer dizer que hábitos alimentares interferem pouco em sua dosagem (tanto para o bem quanto para o mal).

Nunca tivemos o arsenal terapêutico que temos hoje para baixar os níveis de LDL-colesterol. As principais armas continuam sendo as estatinas. São medicamentos conhecidos de longa data, seguros e eficazes no controle do colesterol. Chegam a ser indicados a crianças com doenças relacionadas ao colesterol alto.

O desenvolvimento e a prescrição das estatinas estão associados historicamente a uma redução drástica nas taxas de mortalidade cardiovascular mundo afora nas últimas décadas. Hoje temos tipos diferentes do comprimido, dos mais eficientes àqueles com menor interação com outras medicações.

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Apesar do uso apoiado por estudos robustos, as estatinas são vítimas há anos de fake news. São tantas que nem vou repeti-las por aqui.

Elas têm efeitos colaterais? A resposta é sim, mas numa minoria de pacientes. Devo ressaltar que são extremamente raros os casos de lesões musculares graves ou hepatite devido ao medicamento.

Mas e as dores musculares, Couri? Eis um caso à parte. Primeiro porque boa parcela das pessoas que fazem uso de estatinas são sedentárias e têm uma certa idade. Justamente aquelas com mais queixas musculares ou articulares.

Uma entrevista médica detalhada em consultório é capaz de distinguir se as dores são efeito das estatinas ou não. Muitos médicos (e pacientes) podem se confundir se não houver uma anamnese apurada.

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Uma vez, ao receitar estatina para um paciente, ele me indagou: “Esse não é aquele medicamento que provoca dor nas pernas?” Eu respondi: “Não! Esse é o medicamento que reduz o risco de infarto e AVC”.

É claro que, no cenário ideal, nem precisaríamos recorrer a remédios para controlar o colesterol. Mas a realidade não é assim. Repito: embora uma ou outra pessoa tenha efeitos colaterais com essa medicação, a maioria não tem problema algum.

+ LEIA TAMBÉM: As notícias de destaque do congresso europeu de cardiologia

O efeito nocebo

Estudos bem conduzidos para avaliar justamente as reações adversas das estatinas nos dão segurança nessa afirmação. Neles, os voluntários recebiam comprimidos sem saber o que continham: parte ganhava o princípio ativo pra valer, o restante ganhava placebo, cápsulas sem a substância de efeito terapêutico. Só os pesquisadores sabiam quem tinha recebido uma coisa ou outra diariamente ao longo de um mês.

E qual o resultado? As queixas de efeitos colaterais foram semelhantes no grupo do placebo e no grupo da estatina. Isso indica que, quando as pessoas usam estatinas, passam a valorizar mais suas dores musculares.

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A medicina chama esse fenômeno de efeito nocebo: você ouve que o remédio pode gerar uma reação indesejável e passa a senti-lo a despeito do efeito do princípio ativo no organismo.

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Novas formulações e combinações

Além da evolução das próprias estatinas, já temos no Brasil medicamentos que combinam, na mesma cápsula, a estatina com a ezetimiba. Esta impede a absorção intestinal do colesterol ao passo que a primeira ataca a síntese da molécula pelo fígado.

Esse combo é mais potente do que o uso isolado de cada um. Por isso, podemos utilizar doses menores de estatina. A combinação é especialmente útil a quem não consegue atingir as metas de LDL-colesterol mesmo usando doses generosas de estatina.

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Mais recentemente, surgiram evidências apresentadas em congressos e periódicos científicos apontando que a dupla deve ser a primeira escolha de tratamento em indivíduos com risco cardiovascular elevado.

Nos últimos anos, também vimos o lançamento de outra classe de drogas para o colesterol elevado, os inibidores de PCSK9. São injeções quinzenais subcutâneas que reduzem drasticamente o LDL-colesterol naqueles pacientes que não atingiram as metas apesar do melhor tratamento com estatinas. As pesquisas constatam diminuição significativa na taxa de doenças cardíacas.

+ LEIA TAMBÉM: Outras colunas do médico Carlos Eduardo Barra Couri

E o que futuro nos reserva? Em 2023 é esperada a chegada de uma nova arma para esse arsenal. Trata-se do inclisiran, um medicamento injetável de aplicação semestral obtido com o avanço da genética. Ele promete facilitar o engajamento no tratamento, uma vez que muita gente esquece ou deixa de tomar remédios diariamente. Poderá ser utilizado inclusive junto a outras medicações para baixar o colesterol.

Em suma: não há mais justificativas para termos o colesterol fora da meta hoje. O risco de efeitos adversos é extremamente pequeno em face dos benefícios. E as novas terapias entram em cena para facilitar ainda mais a vida do paciente.

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