Christopher Reeve: documentário revisita história do eterno Superman
Tetraplégico desde 1995, ator militava em favor das pesquisas sobre células-tronco para pacientes com paralisia
Quarenta e seis anos depois de vestir a capa vermelha do Superman pela primeira vez, em 1978, Christopher Reeve (1952-2004) está de volta às telonas. Ele é o protagonista do documentário Super/Man: A História de Christopher Reeve (2024), dos cineastas Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, que estreia hoje nos cinemas brasileiros.
Reeve interpretou o Homem de Aço em quatro filmes da franquia original e atuou em filmes menos conhecidos até os anos 1990. Depois, conciliou alguns poucos trabalhos na TV — como a refilmagem de Janela Indiscreta (1998) e dois episódios da série Smallville (2003) — com o ativismo em causas sociais, em especial relacionado a pesquisas com células-tronco.
O ator morreu no dia 10 de outubro de 2004, vítima de um ataque do coração. Se estivesse vivo, teria completado 72 anos no último dia 25 de setembro. “Todo mundo procura um herói. Não sou um herói. Apenas interpretei um no cinema. Não sou aquele homem”, declara Reeve em uma cena do documentário.
Dos quadrinhos para as telas
Para interpretar o personagem mais famoso de sua carreira, o novato Christopher Reeve, então com 26 anos, desbancou cerca de 200 candidatos. O preferido da Warner era o veterano Robert Redford, de 42 anos. O astro, porém, recusou o convite.
Entre outras curiosidades, o documentário revela que o ator William Hurt aconselhou Reeve a não aceitar o papel. Segundo ele, o filme seria um fracasso de bilheteria – não foi: custou US$ 50 milhões e faturou seis vezes mais. Marlon Brando (1924-2004) mal cumprimentava os colegas de set e Gene Hackman, o vilão Lex Luthor, se recusou a ensaiar suas cenas com o novato.
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O acidente com um cavalo que mudou tudo
A vida de Reeve virou pelo avesso no dia 27 de maio de 1995. Durante uma prova de hipismo, seu cavalo, Buck, refugou e o ator foi arremessado longe – na queda, fraturou duas vértebras. Exímio cavaleiro, aprendeu a montar em 1985 quando atuou numa versão televisiva de Anna Karenina.
O acidente o deixou tetraplégico, e ele passou a precisar de uma cadeira de rodas para se locomover e de um ventilador portátil para respirar.
Um dos momentos mais emocionantes de Super/Man resgata o diálogo entre Reeve e sua família: a mulher Dana (1961-2006) e os três filhos, Matthew e Alexandra, do relacionamento com a modelo Gae Exton, e Will, do casamento com a atriz e cantora Dana Morosini.
“Talvez seja melhor eu partir”, suplicou o ator. “Você continua sendo você, e eu te amo”, respondeu Dana. “Ela disse as palavras que salvaram minha vida”, emociona-se o ator. Na autobiografia Ainda Sou Eu – Memórias (DBA, 2001*), confessa que a mãe, Bárbara, era a favor de desligar os aparelhos.
Dana morreu em 6 de março de 2006, de câncer no pulmão, apesar de nunca ter fumado. Tinha 44 anos.
Reeve pagou tratamento de depressão de Robin Williams
O documentário recorda também a amizade entre Christopher Reeve e Robin Williams (1951-2014). Os dois se conheceram na Juilliard, uma escola de artes em Nova York. Muito antes da fama, prometeram que jamais deixariam um ao outro na mão. Quando Williams caiu em depressão, Reeve pagou seu tratamento.
Quando Reeve lesionou a coluna, Williams foi o primeiro a visitá-lo – e o primeiro a fazê-lo rir! O astro de Tempo de Despertar (1990) e O Amor é Contagioso (1998), entrou no hospital disfarçado de proctologista russo.
“Se Chris estivesse presente, Robin ainda estaria vivo”, especulou a atriz Glenn Close em entrevista ao jornal britânico The Guardian, em 2014. A atriz é uma das convidadas do documentário, ao lado de outros atores, como Whoopi Goldberg, Susan Sarandon e Jeff Daniels.
“Força interior”
A jornalista Maria Cândida teve a oportunidade de conversar com Reeve. O bate-papo foi ao ar no começo dos anos 2000, no Domingo Legal, do SBT. Ao longo da carreira, Cândida entrevistou mais de 100 artistas, incluindo astros como Tom Hanks, Meryl Streep, Sandra Bullock e Brad Pitt. De todas estas, considera a de Christopher Reeve como a sua favorita.
“Entre outras revelações, ele me contou que, por diversas vezes, teve vontade de se matar e, ao ser indagado sobre do que mais sentia falta, respondeu: ‘De dar um abraço no meu filho’”, recorda a jornalista. “Não mexia a cabeça; só movimentava os olhos. Mas, ao conversar com ele, senti uma força interior muito grande. Foi inesquecível!”.
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Personagem já inspirou música de Gilberto Gil
Em 1979, com viagem marcada para os Estados Unidos no dia seguinte, Gilberto Gil precisava dormir. Precisava, mas não conseguia. Quando estava quase pegando no sono, ouviu barulho na sala. Era Caetano Veloso, o dono da casa, que tinha acabado de chegar do cinema com Dedé, sua mulher.
Estava tão empolgado com uma cena do filme Superman – O Filme (1978) que Gil, curioso, se juntou ao casal na sala. A cena é aquela em que Lois Lane (Margot Kidder) morre em um acidente de carro e, para salvá-la, Superman, interpretado por Christopher Reeve, gira a Terra no sentido contrário.
Dali a pouco, todos foram dormir. Todos, menos Gil. Minutos depois, acendeu a luz, pegou o violão e começou a compor. Em uma hora, terminou de escrever a letra e música de Superhomem – A Canção. O último verso remete à cena favorita de Caetano: “Quem sabe / O super-homem venha nos restituir a glória / Mudando como um deus o curso da história / Por causa da mulher”.
A canção está no álbum Realce (1979). Escute abaixo:
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