Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Esquenta Black Friday: Assine a partir de 7,99
Imagem Blog

Tome Ciência!

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A ciência faz toda a diferença para salvar vidas e proteger nossa saúde. Entendê-la é preciso. A jornalista Chloé Pinheiro e cientistas convidados se debruçam sobre os bastidores dos estudos e das políticas públicas para trazer notícias e reflexões exclusivas

“Mas você leu a bula da vacina?” E você, leu a de um remédio comum?

A campanha de desinformação contra os imunizantes é uma oportunidade para conhecermos esse documento importante e pouco usado

Por Chloé Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 fev 2022, 10h03 - Publicado em 17 fev 2022, 18h38
como interpretar a bula da vacina da pfizer
Ao ler a bula, podemos conhecer melhor os medicamentos e as vacinas que utilizamos.  (Foto: Unsplash/Jeremy Bezanger/Divulgação)
Continua após publicidade

É batata: basta postarmos um conteúdo sobre as vacinas contra a Covid-19 nas redes sociais de VEJA SAÚDE para aparecer uma chuva de comentários enfurecidos. Um dos argumentos mais recorrentes: “vocês já leram a bula da vacina da Pfizer, por acaso?” 

A resposta é “sim, nós lemos” – e de outros medicamentos e vacinas também. E trazemos notícias: a bula de remédios rotineiros (como um simples analgésico) pode soar tão preocupante quanto a dos novos imunizantes. Não pelo teor do documento em si, mas porque entendemos muito pouco sobre ele. 

Não deveria ser assim. “A bula é um documento vivo, atualizado constantemente, que fornece informações claras e acessíveis sobre como usar aquele produto e o que fazer em caso de uso equivocado. É um direito do cidadão saber o que está tomando”, aponta o farmacêutico Gustavo Mendes, gerente de medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Ali, está listado tudo o que se sabe sobre os princípios ativos, desde os estudos pré-aprovação às análises de vida real. Por isso, a lista de eventos adversos costuma ser longa, e até incluir coisas que dificilmente vemos na prática. 

Na bula do paracetamol, um dos analgésicos e antitérmicos mais usados do mundo, há reações como broncoespasmo e distúrbios sanguíneos, como anemia e queda de plaquetas. E o que isso quer dizer, então? Que não devemos mais usar nenhum remédio e voltar a viver como nos tempos medievais? 

Compartilhe essa matéria via:

A resposta é um sonoro “não”. O que a bula demonstra é uma cautela da Anvisa e de outras agências reguladoras em promover o uso mais seguro de medicamentos possível. Ora, qualquer fármaco tem seus riscos, mesmo que pequenos, e eles devem ser conhecidos tanto pelo paciente quanto pelo profissional de saúde. 

Continua após a publicidade

“Temos uma frase famosa no nosso meio que é: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Qualquer substância que você ingere pode oferecer algum risco, porque as reações bioquímicas do organismo são muito complexas. Quando aprovamos um medicamento, nos certificamos de que o benefício é superior ao risco”, completa Mendes. 

“Entre as atribuições da Anvisa está a de promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária. Assim, produtos autorizados para uso pela população foram considerados seguros pela Anvisa“, informa o Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos do Conselho Federal de Farmácia (Cebrim/CFF).

Como é elaborada uma bula 

Desde 2009, a estrutura básica das bulas é pré-determinada pela Anvisa. Elas estão divididas em seções, que informam os ingredientes da fórmula, indicações, contraindicações, reações adversas, riscos de interações medicamentosas, dose segura, o que fazer em caso de superdosagem, entre outros pontos. 

Os fabricantes enviam os dados de segurança e eficácia demonstrados nos estudos, mas tudo é auditado pela agência. “Além disso, a bula é atualizada constantemente, por meio da farmacovigilância, um serviço de avaliação permanente, que continua depois da aprovação”, esclarece a farmacêutica Verônica Rennó, professora da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo/SP. 

+ Leia também: Como a eficácia e a segurança das vacinas são avaliadas após a aprovação

Isso porque algumas reações são extremamente raras, e só aparecem depois que muita gente tomou a substância em questão. No caso da vacina Comirnaty, que é um produto recém-lançado, a Pfizer tem a obrigação de enviar à Anvisa relatórios mensais de eventos adversos. 

Continua após a publicidade

Se algo novo surgir, o evento é analisado em detalhes e, caso a relação seja plausível, incluído na bula. Isso acontece mesmo que o fato ainda esteja provavelmente (e não comprovadamente) relacionado ao medicamento – de novo, questão de precaução. 

E se, em algum momento, o risco parecer maior que o benefício, o registro do produto é suspenso de imediato. 

A cautela é tamanha que podem entrar inclusive efeitos que não foram detectados naquele medicamento em específico, mas em outros parecidos. “Se as moléculas forem semelhantes, é possível fazer essa extrapolação, mas isso também é esclarecido no texto”, diz Mendes. 

“Não existem estudos sobre fertilidade e genotoxicidade” 

Entre os alvos da desinformação, estão alguns pontos específicos da vacina Comirnaty, da Pfizer, presentes na versão da bula para profissionais de saúde. 

Sim, existem dois modelos: um para pacientes, em linguagem mais acessível e com orientações sobre uso, e outro para médicos, enfermeiros e demais técnicos, com detalhes sobre mecanismos de ação e estudos conduzidos pré-aprovação. 

Continua após a publicidade

Destacamos aqui dois trechos: 

“Não se sabe se Comirnaty® tem impacto na fertilidade. Os estudos com animais não indicam efeitos prejudiciais, diretos ou indiretos, no que diz respeito à fertilidade feminina ou toxicidade reprodutiva” e “Não foram realizados estudos de genotoxicidade nem de carcinogenicidade”

As informações sobre fertilidade, genotoxicidade (capacidade de interferir nos genes) e carcinogenicidade (potencial cancerígeno) são obtidas de estudos em animais, em células isoladas, e confirmadas depois, ao observar o efeito em humanos. “Não é ético fazer um estudo induzido sobre o assunto [pelo risco que seria oferecido conscientemente aos voluntários]”, aponta Mendes. 

+ Leia também: Tire 7 dúvidas sobre isolamento e testagem por causa da Covid-19

Mas qualquer remédio ou vacina só é aprovado pela agência quando há um grau satisfatório de certeza sobre esses pontos, baseado nas evidências já disponíveis sobre o assunto. “Não significa que o produto é experimental ou que ainda há dúvidas sobre sua segurança”, pontua o gerente da Anvisa. 

E, como sabemos, não existe base biológica para que um imunizante à base de RNA mensageiro interfira no DNA — um passa bem longe do outro nas células.

Continua após a publicidade

A própria ivermectina, vermífugo antigo, usado de forma abusiva como “tratamento precoce” da Covid-19 no país, também tem trechos semelhantes em sua bula para profissionais: “Não foram realizados estudos em longo prazo com animais para avaliar o potencial carcinogênico da ivermectina”. 

Por que há tantas reações adversas na bula? 

“Cada organismo responde de maneira diferente a qualquer substância ingerida, mesmo uma comida. Se existem centenas de milhões de pessoas tomando um medicamento, teremos reações das mais diversas, e isso é conhecido há muito tempo”, pontua Rennó. 

Uma em um milhão de pessoas pode ter, para citar um exemplo, uma reação alérgica intensa desconhecida a um ingrediente da fórmula.  “Até uma dipirona, que parece inofensiva, tem potencial para matar nesse cenário”, explica a enfermeira Mayra Moura, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).  

A bula lista o que já foi apresentado por pacientes no mundo todo e que pode estar associado àquele produto. “Para fazer a investigação de causalidade, olhamos minuciosamente qual é o histórico do paciente, se já existia uma predisposição a ter algo do tipo, e, depois, avaliamos a frequência de casos entre outras pessoas que fizeram uso do composto”, comenta Mendes. 

Os efeitos colaterais estão listados de acordo com sua prevalência, de comuns (ocorrem entre 1 e 10% dos pacientes) a raros (entre 0,01% e 0,1% de prevalência). 

Continua após a publicidade

“Mas então por que a Pfizer não se responsabiliza por reações adversas?” 

Essa é outra desinformação recorrente. No contrato firmado com o Ministério da Saúde para a compra da vacina, existe uma cláusula de isenção de responsabilidade por parte da Pfizer. Traduzindo: uma garantia de que a empresa não será processada por eventos adversos graves. 

Trata-se de uma medida já esperada e tomada por outros fabricantes, inclusive a Fiocruz, nos contratos mundo afora. Em uma situação de pandemia, com imunizantes novos sendo aplicados em milhões de pessoas, trata-se de uma proteção judicial compreensível. 

É que qualquer coisa que acontece depois da vacina é considerada um evento adverso – como bater um carro, ou cometer suicídio. Já a reação adversa é aquilo que possivelmente está relacionado ao imunizante. Até provar que pato não é ganso… 

+ Leia também: Covid-19: como interpretar casos de morte depois da aplicação da vacina

“O fabricante não pode ser responsabilizado por tudo que acontece depois que uma pessoa tomou a vacina, porque a grande maioria das coisas nada tem a ver com ela”, explica Moura. Por exemplo: se alguém tiver um derrame, pode tentar culpar a dose, mesmo que isso tenha acontecido por outros motivos, como uma hipertensão.  

Mas isso não quer dizer que a fabricante não é responsável por problemas desencadeados por seus produtos. E, em teoria, o próprio Ministério da Saúde se torna responsável ao adquirir e distribuir um produto gratuitamente à população. 

“Isso é uma questão contratual do Ministério que não afeta a Anvisa. Para nós, é obrigação da Pfizer e das outras empresas realizar ações de farmacovigilância e, assim que percebermos algo problemático, o produto é retirado do mercado, como já foi feito outras vezes”, comenta Mendes.

O CFF explica ainda que o assunto já foi discutido pela Justiça, que concluiu que os remédios e vacinas são produtos “de periculosidade inerente, em que os riscos são normais à sua natureza e previsíveis. Todavia, caso o medicamento não conste expressamente suas contraindicações na bula, admite-se a responsabilização do fabricante por danos materiais ou morais”.

Em caso de dúvidas

O que essa situação toda nos mostra é: precisamos entender melhor o que colocamos no corpo. Inclusive para fugir das mentiras espalhadas sobre determinado produto, afinal, são elas que de fato podem colocar em risco nossa saúde. “Para atingir o sonhado uso racional de medicamentos, a população precisa estar bem informada”, ressalta Rennó.

Existem serviços dirigidos por farmacêuticos para orientar sobre a bula, as reações adversas e o uso correto de qualquer remédio. “É um profissional muito acessível e preparado para sanar dúvidas. Pode ser encontrado nas farmácias, unidades de saúde e à distância, por meio de serviços como os Centro de Informações sobre Medicamentos (CIM)”, conta a professora.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Sua saúde merece prioridade!
Com a Veja Saúde Digital , você tem acesso imediato a pesquisas, dicas práticas, prevenção e novidades da medicina — direto no celular, tablet ou computador.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.