Não é neura: percepção dos pais sobre piora dos filhos salva vidas
Percepção de familiares sobre a piora do estado de saúde chega a superar tecnologias
“Você teme que o seu filho esteja piorando?” Ao longo de dois anos, essa pergunta foi feita aos responsáveis por jovens internados no Hospital das Crianças Monash, na Austrália.
A questão fazia parte de um estudo que avaliava como o zelo dos pais contribuía para o diagnóstico e o tratamento de pacientes pediátricos. Foram coletadas mais de 180 mil respostas, das quais 5% relatavam preocupação.
Entre as crianças cujos pais estavam mais apreensivos, a admissão na unidade de terapia intensiva (UTI) foi quatro vezes mais comum e o uso de ventilação mecânica foi quase seis vezes mais requisitado.
Os resultados indicam que dar ouvidos ao “sexto sentido” dos pais pode ser precioso para a assertividade na assistência. Além disso, em alguns casos, a sensibilidade parental pode até mesmo superar a de aparelhos que monitoram sinais vitais da criança.
“Eles acabam não identificando sutilezas no comportamento e na disposição do pequeno, como fadiga e mudanças de humor”, explica a pneumonologista pediátrica Cristiane Fumo, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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Palavra de Especialista
VEJA SAÚDE: O que faz dos pais bons radares para perceber a piora de seus filhos?
CF: Os pais são as pessoas que mais conhecem seus filhos. Mudanças, principalmente sutis, são melhor percebidas pelos pais. Isso também é verdade em relação a um pediatra que faça acompanhamento da criança de forma contínua.
Muitas vezes, esse profissional percebe alterações no padrão apresentado anteriormente por essa criança de forma precoce.
Quais as sutilezas e sintomas de um quadro crítico podem acabar escapando do monitoramento?
Podemos estar diante de uma criança “bem comportada”, que os pais referem que está menos ativo. Ele sempre está brincando, se movimento, mas, em algum momento, ficou mais parado.
Também pode acontecer o contrário: pais perceberem que crianças que antes eram calmas ficarem mais agitadas.
Já tive casos de efeito colateral de medicações que os pais relataram que era como se tivessem dado uma carga extra de bateria para a criança: ao invés de ela ficar mais cansada no final do dia, ela continuava como se fosse o meio da tarde.
Era uma mudança sutil, mas que tinha impacto no sono noturno da criança e que foi prontamente percebida pelos pais. Pelo relato, suspendemos a medicação e entramos com outra, com controle dos sintomas principais e sem retorno dos sintomas dos efeitos colaterais
Qual é a importância da colaboração entre a família e a equipe médica? Como equilibrar a “última palavra” entre médicos e familiares?
O ideal é que haja confiança e conversas francas entre as famílias — e, a depender da idade e maturidade da criança, ela também deve ser ouvida e seus desejos considerados na hora da tomada de decisão.
Em situações de não urgência, geralmente temos tempo para essas conversas, mas há casos, sempre complexos, em que a decisão é tomada pela equipe médica.
Também já presenciei paciente que necessitava de transfusão sanguínea na urgência e que a família não desejava por motivos religiosos. Pelo risco de vida da criança, a equipe decidiu pela transfusão. Esses casos devem ser a exceção.
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Direitos durante a hospitalização
Saiba o que deve ser respeitado durante internações infantis
Presença dos pais
A companhia reforça para a criança que ela não está sozinha nesse momento delicado.
Recreação
Fundamental para diminuir a angústia e evitar que o desenvolvimento seja prejudicado.
Visitas
Respeitando os horários e regras do hospital, saudações são bem-vindas e estimulam os jovens.
Silêncio
Barulhos desnecessários podem perturbar os pacientes física e emocionalmente.
Apoio emocional
Ter um profissional pronto para acolher os medos e as dúvidas da criança faz toda a diferença.
Higiene
Banhos, escovação de dentes e troca de roupa diária evitam contaminações e complicações.







