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A arritmia que não para de crescer no planeta

É a fibrilação atrial, que está ligada ao envelhecimento e a fatores do estilo de vida. Em entrevista, cardiologista explica como se proteger desse problema

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 29 jul 2019, 12h29 - Publicado em 24 jul 2018, 14h10
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A fibrilação atrial é a arritmia mais prevalente (Ilustração: Marcus Penna/SAÚDE é Vital)
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Em ritmo caótico: é assim que bate um coração com fibrilação atrial, o tipo mais comum de arritmia. Calcula-se que 20% da população mais velha desenvolva a condição. Não bastasse o perigo para o músculo cardíaco em si, a fibrilação atrial eleva o risco de acidente vascular cerebral, o AVC.

Dá pra entender melhor o problema traduzindo seu nome do medicinês: fibrilação atrial significa que o átrio, uma das cavidades do coração, não consegue executar o movimento típico do batimento. Em vez de se contrair, o músculo cardíaco sofre uma espécie de tremor. Daí um pouco de sangue pode estacionar e coagular ali, gerando um trombo que ganha a circulação e vai parar lá no cérebro — é o estopim para um AVC.

O problema está ligado ao avançar da idade e a outros maus hábitos, como tabagismo, sedentarismo e dieta desequilibrada. Aproveitamos o Simpósio Internacional de Cardiologia da Rede D’Or São Luiz, que acontecerá no início de agosto no Rio de Janeiro, para entender melhor o que está por trás da doença e o que podemos fazer para preveni-la ou controlá-la. Para isso, conversamos com a médica Olga Ferreira de Souza, coordenadora do Serviço de Cardiologia e Arritmia da Rede D’Or São Luiz.

SAÚDE: A senhora pode explicar por que há um crescimento no número de casos de fibrilação atrial?

Olga Ferreira de Souza: O envelhecimento é a principal causa dessa arritmia. O que temos observado nos últimos anos é que, devido a programas de prevenção e aos avanços tecnológicos no diagnóstico e no tratamento das doenças cardiovasculares, as pessoas estão vivendo mais. Estima-se que no ano de 2050 o Brasil terá uma população de idosos superior à população de jovens. Além do envelhecimento, fatores como hipertensão e diabetes, além da presença de cardiopatias [problemas no coração], contribuem para a ocorrência da fibrilação atrial.

Quais os fatores do estilo de vida mais associados a esse problema?

São vários os fatores relacionados ao estilo de vida que aumentam o risco de fibrilação atrial: vida sedentária, alimentação rica em gorduras e carboidratos, obesidade, tabagismo, estresse, excesso no consumo de bebidas alcoólicas, uso de energéticos e estimulantes… Pessoas que roncam muito durante o sono podem ter apneia, condição que também favorece o desenvolvimento da fibrilação atrial.

Pode explicar o elo entre pressão alta e fibrilação atrial?

A hipertensão ocasiona uma alteração no músculo cardíaco e na parede dos vasos sanguíneos, levando a uma dilatação do coração e a uma dificuldade no esvaziamento do sangue ali. Isso gera alterações eletrofisiológicas nas células do coração, criando microcircuitos elétricos que iniciam o processo da fibrilação atrial.

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Existem sintomas que deduram essa arritmia? O que deveríamos incluir no checkup para flagrá-la?

A fibrilação atrial pode ser silenciosa em 30 a 40% dos casos. Quando ocasiona sintomas, temos relatos de palpitação (batimentos cardíacos irregulares), taquicardia (coração batendo acelerado), falta de ar e cansaço. O checkup cardiológico já costuma contemplar a realização de um eletrocardiograma [que avalia o ritmo cardíaco] e de um ecocardiograma [que verifica a anatomia e a função do coração].

Porém, nos pacientes que apresentam maior risco para fibrilação atrial — pessoas com hipertensão, diabetes, cardiopatias, obesidade ou apneia do sono… —, também vale a investigação do problema com o Holter de 24 horas, um gravador que registra os batimentos cardíacos durante um dia, ou com o monitor de eventos (looper), outro tipo de gravador que pode permanecer por 15 a 30 dias. Nesse tipo de exame, um dispositivo fica conectado a uma central 24 horas, que analisa os batimentos cardíacos e pode ser acionada nos momentos em que o paciente apresenta algum sintoma.

Por que a comunidade médica está cada vez mais preocupada com a fibrilação atrial?

A maior atenção dos médicos se deve à associação dessa arritmia com um alto risco de problemas tromboembólicos, em especial o acidente vascular cerebral. Em alguns casos de fibrilação atrial sem sintomas, a primeira manifestação pode ser um AVC. Sabemos que cerca de 20% de todos os AVCs são decorrentes de fibrilação atrial e que, quando eles ocorrem, acarretam sequelas importantes.

A prevenção dessas situações é a parte mais importante no tratamento da fibrilação atrial. Esse controle deve ser realizado e orientado pelo médico por meio de uma avaliação com escores de risco e, a partir dos resultados, com o uso de anticoagulantes orais.

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Falando em tratamento, quais os principais avanços no combate a essa arritmia?

Os novos anticoagulantes orais — que, na verdade, não são mais novos, pois já estão disponíveis desde 2012 — são medicações extremamente eficazes na prevenção dos coágulos formados com a fibrilação atrial e que podem levar ao AVC. Além de eficazes, apresentam um excelente perfil de segurança, traduzido por um menor risco de sangramentos para o paciente. São remédios de ação rápida, em torno de duas a quatro horas, e não necessitam de exames de sangue periódicos para acompanhamento, como é necessário quando se utiliza a varfarina, que era a única medicação existente até 2012.

Portanto, a eficácia, a segurança, a comodidade e a pouca interação com outros fármacos colocam esses novos anticoagulantes como a medicação de escolha para evitar eventos tromboembólicos em pacientes com fibrilação atrial. Até o momento, temos três medicamentos da classe e, em agosto, chegará um quarto com essa indicação.

Os anticoagulantes previnem o AVC, mas a arritmia pode causar sintomas e também está associada ao aumento da mortalidade. Para controlá-la, podemos recorrer a medicações antiarrítmicas, que revertem o quadro e podem prevenir, em 50% dos casos, a ocorrência de novos surtos por um período. Além disso, temos a ablação por cateter utilizando radiofrequência ou a crioablação [procedimentos que neutralizam a área do coração com problema], que representam o tratamento mais eficaz no controle da fibrilação atrial e são recomendadas para pacientes com sintomas ou portadores de cardiopatias.

Dra. Olga Ferreira de Souza, coordenadora do Serviço de Cardiologia e Arritmia da Rede D’Or São Luiz e uma das organizadoras do primeiro Simpósio Internacional de Cardiologia da Rede D’Or São Luiz.

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