Bebida alcoólica é ‘antídoto’ para metanol? Saiba quando o etanol comum salva vidas
Etanol realmente pode ser utilizado para driblar os efeitos tóxicos do metanol no organismo, mas administração precisa ser feita na veia, dentro do hospital
Os recentes casos de intoxicação e morte pelo consumo acidental de metanol no estado de São Paulo têm colocado a população e as autoridades sanitárias em alerta. Em meio aos temores, também começam a surgir recomendações variadas na internet, e pode ser difícil ter certeza sobre o que faz sentido e o que é fake news.
Nos últimos dias, uma das recomendações que apareceram nas redes sugere que o etanol pode ser um antídoto para o metanol. E, como o etanol é o álcool etílico comum, encontrado nas bebidas que consumimos, houve até quem sugerisse que beber mais poderia ser uma forma de evitar os problemas associados ao metanol.
É importante explicar melhor essa história para não cometer erros, porque de fato há um fundo de verdade: o etanol pode, sim, ser usado para inibir os efeitos do metanol no corpo. Mas isso deve ser feito em ambiente hospitalar, e em hipótese alguma você deve se embriagar ainda mais caso suspeite de uma intoxicação.
+Leia também: Qual a diferença entre intoxicação por metanol e embriaguez?
Etanol como antídoto para o metanol? Como isso funciona?
Tecnicamente, tanto o etanol que podemos beber quanto o metanol que pode levar a complicações imediatamente fatais pertencem à mesma família: os dois são tipos de álcool.
Além das similaridades químicas, dentro do nosso corpo isso significa que ambos “competem” pelo nosso metabolismo. E, quando colocados lado a lado (e na janela de tempo correta), o etanol vence essa disputa.
Estudos apontam que o nosso fígado chega a ter 20 vezes mais afinidade pelo etanol do que pelo metanol, o que faz com que o corpo favoreça metabolizá-lo antes. O etanol, embora traga problemas por si próprio, é muito menos danoso no curto prazo: em situações extremas, ele realmente pode ser administrado para deixar o fígado “saturado”.
Essa dose exagerada de álcool etílico seria péssima em praticamente qualquer outro contexto, mas, diante da intoxicação por metanol, significa optar pelo mal menor: o fígado fica sobrecarregado até que o corpo elimine o metanol pela urina, sem metabolizá-lo.
A parte do metabolismo é chave aqui: não é o metanol em si que leva à cegueira e aos danos potencialmente fatais, mas a substância em que ele é transformado dentro de nosso corpo, o ácido fórmico. Quando é possível impedir que esse processo aconteça, dá para evitar as consequências mais graves da ingestão de metanol.
Por que você não deve beber mais para curar a intoxicação por metanol
Mas atenção: esse cuidado deve ser sempre feito em ambiente hospitalar e em circunstâncias específicas. Nada de sair bebendo uma garrafa de cachaça na tentativa de se prevenir contra o metanol.
Em 2019, pesquisadores de 22 países divulgaram um consenso internacional sobre as abordagens diante de surtos de intoxicação por metanol. O etanol é citado como um possível antídoto, mas não é o método preferencial para os casos graves. O mais indicado é o uso de um medicamento conhecido como fomepizol, com o álcool etílico sendo uma segunda opção quando há escassez de insumos.
Em qualquer cenário, o tratamento com etanol nunca é feito com bebidas alcoólicas. Quando se recorre a essa alternativa, é empregado álcool etílico puro de uso medicinal, em proporções bem calculadas de acordo com o peso da pessoa, e por um tempo determinado.
Afinal, mesmo sendo menos perigoso, ainda há riscos inerentes ao próprio etanol caso ele seja utilizado de maneira errada ou excessiva. Além disso, o etanol é administrado por via intravenosa, para garantir uma resposta mais rápida na busca por vencer a “corrida metabólica” contra o metanol.
Caso tenha qualquer suspeita de intoxicação por metanol após consumir bebidas alcoólicas, procure um serviço de emergência imediatamente para receber o diagnóstico e tratamento mais adequado para seu caso.







