Bupropiona: o que é, para que serve, efeitos e bula
Medicamento antidepressivo também é usado como apoio no tratamento do tabagismo

O cloridrato de bupropiona é um antidepressivo, também utilizado como apoio no tratamento do tabagismo.
O fármaco atua sobre os neurotransmissores dopamina e noradrenalina, melhorando o humor e aliviando sintomas. Os efeitos podem demorar algumas semanas para aparecer, como grande parte dos recursos medicamentosos contra a depressão.
A medicação é controlada, sendo vendida ou oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS) com prescrição médica. Entenda o que é o composto, para que serve e os efeitos colaterais associados.
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O que é bupropiona?
A bupropiona é um medicamento antidepressivo, embora seja conhecida principalmente pelo uso como apoio a pessoas que buscam parar de fumar. É um remédio controlado, vendido sob prescrição médica, disponível nas redes pública e privada.
O fármaco conta com um mecanismo de ação um pouco diferente da maioria dos compostos dessa categoria.
Enquanto grande parte potencializa a liberação e ação da serotonina no cérebro, a bupropiona atua principalmente no estímulo à ação de dois outros neurotransmissores: a noradrenalina (ligada à energia, atenção e disposição) e dopamina (relacionada à motivação, prazer e recompensa).
“Ela inibe a recaptação desses neurotransmissores, ou seja, faz com que eles permaneçam ativos por mais tempo entre os neurônios, melhorando o humor e reduzindo sintomas como tristeza, desânimo, ansiedade ou compulsão”, explica o farmacologista Lucas Gazarini, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
No caso da depressão e outros transtornos psiquiátricos, o reajuste na comunicação entre neurônios pode trazer melhora de sinais e ampliar a qualidade de vida.
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Para que serve a bupropiona?
Por ter sido desenvolvida como um antidepressivo, seu uso clássico é para o tratamento desse transtorno mental, especialmente quando o quadro clínico é marcado por manifestações como falta de energia ou apatia.
Atualmente, estima-se que o uso mais abrangente seja para ajudar na cessação do tabagismo, como detalha o farmacologista.
“O uso da bupropiona reduz o desejo e os sintomas de abstinência da nicotina, muito provavelmente pela sua ação no contexto da dopamina, que tem relação próxima com os mecanismos de prazer e desenvolvimento de dependência química. Para esse fim, ela pode ser usada isoladamente ou associada a outras estratégias como psicoterapia e gomas ou adesivos com nicotina”, afirma Gazarini.
Outro uso que vem ganhando espaço é no controle do peso, efeito observado em estudos. A substância causa certa saciedade e redução na compulsão alimentar, então é comum utilizá-la como estratégia complementar para a manutenção dos quilos.
“Como vários antidepressivos podem causar ganho de peso, a bupropiona pode ser associada, em alguns casos, como forma de controle sobre esses efeitos indesejados. Ela também pode ser vinculada a outros fármacos para melhorar esse efeito de compulsão alimentar”, acrescenta o professor.
Existem ainda pesquisas que indicam o uso da bupropiona para o manejo de sintomas do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mas esse uso não é muito comum no Brasil, segundo o professor da UFMS.
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Dosagens
A bupropiona é vendida em comprimidos, com doses de 150 e 300 mg.
“A dose inicial costuma ser de 150 mg por dia, podendo aumentar para 300 mg ao dia conforme orientação profissional. Como a maioria dos comprimidos são de liberação controlada, não devem ser partidos ou mastigados, porque isso pode alterar o perfil de liberação do fármaco no organismo”, pontua o especialista.
Atualmente, existem opções de medicamentos genéricos de diversas farmacêuticas com o cloridrato de bupropiona, o que torna o custo do produto mais baixo.

Quanto tempo a bupropiona leva para fazer efeito?
Como ocorre com a maioria dos antidepressivos, os efeitos da bupropiona não são imediatos.
“Alguns pacientes podem perceber melhoras a partir de duas semanas após o início do uso, embora o estabelecimento dos efeitos máximos aconteça entre 3 e 6 semanas. Mesmo assim, alguns efeitos colaterais possam surgir imediatamente com o início do uso”, frisa Gazarini.
O farmacologista destaca ainda que a atenção aos eventos adversos é essencial, uma vez que podem levar à descontinuação do tratamento a partir de decisão médica.
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Bupropiona tem efeitos colaterais?
Os indivíduos em tratamento podem apresentar diversos eventos indesejados. Os mais comuns são insônia, boca seca, dor de cabeça, tontura, agitação, ansiedade, náuseas, sudorese aumentada e tremores.
“A maioria desses efeitos é relacionada ao aumento da ação da noradrenalina e dopamina no cérebro. São simples e podem desaparecer com o uso continuado do medicamento”, frisa o farmacologista.
Eventos mais sérios podem acontecer, mas são incomuns. “Eles incluem aumento da pressão arterial, convulsões e alterações no humor, resultando em muita agitação e até pensamentos suicidas. Esses impactos sérios requerem cuidado próximo, com monitoração constante, reajuste de dose ou suspensão do tratamento”, enfatiza Gazarini.
Contraindicações
A bupropiona não deve ser utilizada por pessoas com menos de 18 anos, gestantes ou lactantes e alérgicos à substância. Além de contraindicações gerais, outras condições que requerem cuidado especial.
“A bupropiona reduz o limiar para crises epilépticas e eventos convulsivos, então ela deve ser evitada em pacientes com histórico de convulsões ou epilepsia ou uso concomitante com outros medicamentos que também aumentam risco de convulsão – como alguns antidepressivos”, afirma o expert.
Por reduzir a compulsão alimentar e aumentar a sensação de saciedade, a bupropiona deve ser evitada em casos de transtornos alimentares, como bulimia ou anorexia nervosa, por poder agravar esses quadros e suas consequências.
“A bupropiona também pode agravar crises de abstinência a substâncias depressoras – os ‘calmantes’. Por isso, seu uso deve ser evitado se o paciente tiver feito consumo recente de álcool em excesso, sedativos ou benzodiazepínicos”, acrescenta o farmacologista.
Bula da bupropiona
A leitura da bula é indicada para o uso de qualquer medicação, especialmente de medicamentos controlados, como a bupropiona. O documento traz informações detalhadas sobre modo de usar, posologia, armazenamento, possíveis efeitos colaterais e contraindicações.
Acesse a bula da bupropiona disponibilizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aqui.