Cirurgia no cérebro com paciente acordado: inovação preserva fala e memória
Técnica inovadora da neurocirurgia permite que o paciente participe da operação e ajuda a preservar funções cognitivas importantes
A ideia de passar por uma operação no cérebro estando acordado pode parecer assustadora à primeira vista. No entanto, essa técnica — conhecida como cirurgia cerebral com o paciente desperto — tem revolucionado a neurocirurgia moderna.
O objetivo é simples e valioso: proteger funções essenciais como fala, memória e movimento durante a remoção de tumores ou outras lesões.
Em vez de confiar apenas em exames, o cirurgião conta com a colaboração direta do paciente, que realiza tarefas simples durante a cirurgia, permitindo à equipe identificar, em tempo real, as áreas do cérebro que não podem ser afetadas.
Como a participação do paciente faz a diferença
O procedimento é cuidadosamente planejado. O paciente recebe anestesia local para não sentir dor no couro cabeludo e nos ossos da cabeça, mas permanece acordado durante a parte mais importante da operação.
Nesse momento, realiza testes como falar palavras, contar, mexer braços ou pernas e até reconhecer imagens. Se o cirurgião percebe alterações nessas funções, entende que está próximo de uma região delicada e pode ajustar a intervenção. Essa participação transforma o paciente em um verdadeiro “mapa vivo” do cérebro, aumentando a segurança da cirurgia.
As principais indicações incluem tumores próximos a áreas responsáveis por linguagem e movimento, como alguns tipos de câncer no cérebro, e também cirurgias para epilepsia.
Segundo estudos recentes, essa técnica permite retirar uma quantidade maior do tumor com menor risco de sequelas. Além disso, diminui complicações como perda definitiva da fala, paralisia ou prejuízos importantes na memória.
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Resultados, avanços e impacto na vida das pessoas
Nos últimos anos, a cirurgia com o paciente acordado se firmou como um dos principais avanços no tratamento desses problemas.
Dados mostram que a preservação das funções cognitivas é muito maior entre quem passa por essa cirurgia, se comparado aos métodos tradicionais. Em grandes centros no Brasil e no exterior, o tempo de recuperação também costuma ser mais curto, com alta em poucos dias e retorno mais rápido à rotina.
Outro aspecto importante é o impacto emocional da técnica. Embora seja desafiador permanecer acordado no centro cirúrgico, a maioria dos pacientes relata confiança e tranquilidade ao participar do procedimento.
Equipes formadas por neurocirurgiões, anestesistas, fonoaudiólogos e psicólogos se unem para preparar e acolher o paciente antes e durante a operação, deixando o processo menos assustador e mais colaborativo.
O futuro aponta para métodos ainda mais avançados, incluindo recursos como realidade aumentada, uso de imagens em tempo real e inteligência artificial para aumentar a precisão.
Mais do que um avanço tecnológico, trata-se de uma transformação no cuidado: colocar o paciente no centro da atenção, ajudando a salvar funções essenciais e melhorando sua qualidade de vida.
* Cesar Cimonari de Almeida é neurocirurgião e membro da Brazil Health
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)








