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Coronavírus: lockdown será inevitável em São Paulo se isolamento não subir

Segundo um estudo, a quantidade de paulistas na rua atualmente levará a um colapso do sistema de saúde provocado pelo coronavírus ainda em maio

Por Karina Toledo, da Agência Fapesp
Atualizado em 18 ago 2020, 10h46 - Publicado em 13 Maio 2020, 12h52
lockdown sao paulo coronavirus
Estudo indica que, se os paulistas não aderirem ao isolamento social, medidas mais drásticas terão de ser tomadas. (Foto: SAÚDE/SAÚDE é Vital)
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Projeções feitas com um modelo matemático desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indicam que a adoção de lockdown obrigatório no Estado de São Paulo para conter o coronavírus será inevitável caso o nível de isolamento social não suba significativamente nas próximas semanas, começando já desde terça-feira (12/05).

Entre os dias 8 e 10 de maio, foram registados, em média, 1 839 novos casos diários de Covid-19 em todo o Estado, sendo 1 033 somente na capital. Foram contabilizados também 93 óbitos na capital e 168 no estado (também na média dos três dias).

Se for mantida a taxa de contágio (R0) – que é o número de pessoas para as quais um infectado transmite o vírus, em média – observada nos 30 dias anteriores a 10 de maio, no final de junho São Paulo contabilizará 53,5 mil novas infecções por dia, sendo 20,8 mil casos diários somente no município de São Paulo. O número de mortes diárias atingirá 2,5 mil no estado, dos quais, 1,1 mil ocorrerão na cidade de São Paulo.

Nesse período, estima-se que o número de novos casos dobrava a cada 11,5 dias para o estado e a cada 12,9 dias para a capital. Para óbitos, o número estava dobrando a cada 13,5 dias no estado e a cada 14,7 dias na cidade.

Projeção para o número de novos casos diários da COVID-19 para São Paulo, estado e capital, 12/05 a 30/06.
Número básico de reprodução (R0) e número de dias para dobrar o número de casos diários.

Coronavírus: lockdown será inevitável em São Paulo se isolamento não subir

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O cálculo foi feito considerando-se os dados reais de crescimento do número de casos ao longo do último mês, que indicam uma taxa de contágio de 1,49 para o estado e de 1,44 para a cidade de São Paulo. Ou seja, no final de abril, cada 100 paulistas infectados transmitiam o novo coronavírus para quase 150 pessoas, em média (ao longo de um período de cerca de 7,5 dias após se contaminar, de acordo com a modelagem utilizada).

“Essas projeções têm grande chance de estarem subestimadas, porque o nível de isolamento vem caindo desde o início de abril e, entre 5 e 9 de maio, não ultrapassou 50%, o que provocará o aumento da taxa de contágio. Isso se refletirá daqui a 15 ou 20 dias no número de novos casos, depois sobre o número de óbitos”, afirma o matemático Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Unicamp e coordenador do Programa Especial Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fapesp. “Mas, mesmo que se mantenha o nível de contágio estimado até 10 de maio, os valores projetados indicam que ainda esse mês o sistema público de saúde da Região Metropolitana de São Paulo atingirá o limite, pois o nível de ocupação de leitos de UTI já está acima de 80%. Se o isolamento não for ampliado urgentemente, o estado terá de adotar medidas mais drásticas de contenção, como ocorreu na Itália, ou a situação se tornará insustentável”, completa.

Nível de isolamento social em São Paulo (%) com linhas de tendência, estado e capital, 21/03 a 09/05.Coronavírus: lockdown será inevitável em São Paulo se isolamento não subir

As estimativas foram feitas com um modelo desenvolvido por Pedrosa e descrito em artigo disponí­vel na plataforma medRxiv em versão preprint (ainda não revisada por cientistas). O cálculo permite estimar a dinâmica de transmissão da Covid-19 em diferentes locais, levando em conta variáveis climáticas (temperatura e umidade absoluta), a densidade populacional e a linha do tempo da instalação da doença (data em que o país ou a região atingiu a marca de 100 casos).

Para desenvolver o modelo, Pedrosa usou dados de 50 estados norte-americanos e de outros 110 países, incluindo o Brasil. Foram selecionados países para os quais havia informação suficiente disponível para calcular a taxa de crescimento exponencial no período em que o centésimo caso da doença foi registrado. As informações meteorológicas foram obtidas em uma base de dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), instituição que integra o Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

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Já os dados referentes à expansão da Covid-19 até o dia 10 de abril vieram de duas fontes: o Centro de Ciências de Sistemas e Engenharia da Johns Hopkins University (Estados Unidos) e o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, com sede na Suécia.

“Estudos iniciais sugeriam que o novo coronavírus teria mais dificuldade para se disseminar em países quentes e úmidos. Mas, segundo esse modelo, o efeito das variáveis climáticas na taxa inicial de expansão da doença não foi significativo ao se incluírem as variáveis de densidade populacional e/ou a data de início da doença [100º caso]. Isso confirmou a experiência do Brasil e de outros países que estavam em período de verão, com clima quente e úmido, e sofreram expansão severa da Covid-19”, conta Pedrosa.

“A data do centésimo caso apareceu de forma interessante. Quanto mais tarde esse evento ocorreu em um determinado local, menor foi a taxa inicial de expansão do coronavírus. Uma possível explicação para esse achado é que, nos locais onde o vírus tardou a chegar, a população foi ganhando consciência sobre a necessidade de adotar medidas de proteção, como lavar as mãos, usar álcool em gel, evitar apertos de mão e aglomerações. E isso diminuiu a velocidade de transmissão mesmo nos estágios iniciais”, avalia.

Segundo Pedrosa, uma vez descontado esse efeito, a densidade populacional das diferentes regiões analisadas – medida pelo número de habitantes por quilômetro quadrado – passou a ser a variável mais relevante para estimar a taxa de expansão livre da Covid-19 (ou seja, a velocidade com a qual se espalharia se não houvesse nenhuma medida de atenuação). Quanto mais densamente povoada a região, maior seria a taxa de contágio livre.

Contágio do coronavírus atenuado

Com base nesses resultados, Pedrosa decidiu estimar a taxa de atenuação do contágio que seria necessária para controlar a doença em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal, em função da densidade populacional de cada cidade.

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No topo da lista das mais densamente povoadas do país, estão Fortaleza (7 786 hab./km2), São Paulo (7 398 hab./km2), Belo Horizonte (7 167 hab./km2), Recife (7 040 hab./km2) e Rio de Janeiro (5 267 hab./km2). Se nenhuma medida de distanciamento social tivesse sido adotada para conter o avanço do novo coronavírus nesses municípios, calcula o pesquisador, todos teriam uma taxa de contágio superior a 5,8 e o número de infecções dobraria em menos de dois dias.

“Para controlar a doença nas quatro cidades mais densamente povoadas do país, é preciso atenuar a taxa de contágio livre em 84%, o que seria possível com pelo menos 60% de isolamento social combinado ao uso obrigatório de máscaras de boa qualidade, por exemplo”, estima Pedrosa.

Segundo ele, o efeito das medidas recentes demorará algum tempo para ser avaliado, o que retardará as medidas a serem adotadas, que são urgentes e terão impacto, da mesma forma, apenas daqui a duas ou três semanas.

Este conteúdo foi produzido pela Agência Fapesp.

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