Dor crônica é comum entre sobreviventes do câncer
A incidência é duas vezes maior do que a da população em geral, aponta novo estudo. Saiba quais tipos de tumores mais deixam a dor como lembrança
Vai o câncer, fica a dor. Um novo trabalho do Sistema de Saúde Monte Sinai, nos Estados Unidos, estima que 35% dos sobreviventes de um tumor maligno naquele país vivem com dor crônica, o que representaria mais de 5 milhões de indivíduos em solo americano.
Os autores avaliaram quase 60 mil participantes de um inquérito nacional sobre saúde, que questionou a incidência de dor num período de seis meses. Pouco mais de 4 500 haviam tratado um câncer – o de pele não-melanoma, comum e relativamente fácil de eliminar, não foi considerado na conta.
Na turma que sofreu com um tumor, as queixas de dores limitantes e crônicas foram duas vezes mais frequentes do que entre o restante dos entrevistados. Os tipos de tumor que mais costumam deixar sequelas doloridas, segundo a pesquisa, são os que atingem ossos, rins, garganta, faringe e útero.
Por que o tratamento do câncer leva à dor crônica?
Isso depende muito do tipo de tumor e da terapia. Um procedimento cirúrgico, por exemplo, pode deixar incômodos no local da intervenção ou mesmo uma dor fantasma, aquela que ocorre após a amputação de uma parte do corpo – é como se você sentisse um desconforto intenso no membro que já não está mais ali.
Radioterapia, quimioterapia e outros medicamentos podem lesionar nervos que comandam a sensibilidade à dor. Ou levar a problemas articulares, circulatórios e fraturas ósseas.
É preciso cuidar melhor dos sobreviventes
Com os avanços da ciência, pacientes com diversos tipos de câncer hoje têm uma sobrevida maior, especialmente se a enfermidade é flagrada logo no início. Por outro lado, a dor crônica é um dos efeitos de longo prazo mais comuns, e está relacionada com limitações no cotidiano, menor aderência a tratamentos e gastos consideráveis.
Assim, a comunidade médica tem o desafio de conhecer melhor essa população em crescimento e descobrir abordagens que assegurem qualidade de vida. Para ter ideia, em 2016 os Estados Unidos possuíam 15,5 milhões de sobreviventes de câncer — até 2040, estima-se que sejam mais de 26 milhões.
Não há dados brasileiros sobre o tema, mas um estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgado em 2019 aponta para a necessidade de acompanhar melhor o paciente após o fim do tratamento. E isso vai além de tratar a dor.
Os pesquisadores fizeram entrevistas aprofundadas com 47 sobreviventes, que relataram dificuldades na reinserção ao mercado de trabalho, falta de apoio psicológico e restrições na vida sexual. É necessário cuidar da pessoa, em vez de só tratar sua doença.