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Estudo revela lesões no fígado causadas por suplementos naturais

Danos hepáticos provocados pelo consumo de extratos de ervas e suplementos dietéticos seriam mais graves do que os decorrentes de remédios e anabolizantes

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 8 Maio 2023, 16h41 - Publicado em 1 mar 2021, 17h56
Foto de pote com planta medicinal, simbolizando suplemento
Produtos naturais não são isentos de reações adversas. (Foto: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Uma pesquisa realizada por diversas instituições da Espanha e da América Latina indica que as lesões no fígado causadas por suplementos à base de extratos de ervas são possivelmente mais graves do que as provocadas por medicamentos convencionais e anabolizantes.

Os cientistas chegaram a essa conclusão após analisarem o Registro Latino-Americano de Lesões Hepáticas Induzidas por Drogas (Latindili, na sigla em inglês). Eles selecionaram 367 casos do problema ocorridos entre outubro de 2011 a dezembro de 2019 — incluindo 29 episódios relacionados a suplementos dietéticos ou herbais.

As cápsulas à base de ervas foram a terceira principal causa de danos no fígado. Elas responderam a 8% de todos os episódios, uma taxa similar à de medicações para doenças cardiovasculares e neurológicas. Drogas contra infecções (32%) e para questões musculoesqueléticas (14%) lideraram o ranking.

Mas aí vem um detalhe importante: as lesões hepáticas deflagradas pelos suplementos naturais tendiam a ser mais graves. Segundo o artigo, 21% dos casos culminaram em danos severos ou fatais, não raro exigindo transplante de fígado. No caso de anabolizantes, esse índice ficou em 13% e, em fármacos tradicionais, na casa dos 12% (um risco cerca de duas vezes menor).

Entre os produtos naturais, os grandes vilões foram os comprimidos com extrato de Camellia sinensis — cuja planta em si é muito usada para chás —, itens da empresa Herbalife e a planta Garcinia cambogia. O motivo mais frequente para ingerir esses suplementos era a tentativa de emagrecer (59% dos casos). Após a publicação desta matéria, a Herbalife enviou um posicionamento oficial. Você pode conferi-lo na íntegra ao fim da reportagem.

O hepatologista Raymundo Paraná Filho, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e um dos autores da investigação, conta que o trabalho é um marco para a América Latina por preencher uma lacuna de informações que existia no continente.

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De acordo com ele, o nível de toxicidade de remédios comuns já é conhecido através das pesquisas clínicas, necessária para suas aprovações. “Infelizmente, para suplementos, fitoterápicos e insumos vegetais, não há rigor algum. Basta dizer que o produto age em tal situação que passa a ser comercializado”, lamenta Paraná. “As pessoas pensam que eles são absolutamente inofensivos, quando não são”, completa.

O estudo, claro, possui suas limitações. A principal é a de que o diagnóstico de uma lesão hepática associada a suplementos naturais é bastante complicada, já que depende do relato do paciente sobre as substâncias que consumiu.

“Por outro lado, a maneira como o estudo foi desenhado, com a participação de um grupo estrangeiro relendo os casos e afastando aqueles menos prováveis de ter uma relação com os suplementos, eleva a sua credibilidade”, pontua Paraná.

Como ervas e suplementos dietéticos prejudicam o fígado

O professor explica que eles deflagram problemas no órgão basicamente da mesma forma que medicamentos tradicionais, quando usados em doses acima do nível recomendado. “As pessoas são induzidas a pensar que tudo o que vem da natureza não faz mal. Isso é uma bobagem”, afirma Paraná.

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Substâncias naturais e sintéticas contêm diversos princípios ativos que precisam ser metabolizados pelo organismo. Nesse processo, o fígado transforma qualquer coisa que nós ingerimos – de remédios a comida – em moléculas úteis para o organismo. O que não presta ou está em excesso vai parar no xixi.

“Só que, nesse processo, alguns indivíduos geram elementos tóxicos que machucam o órgão”, relata Paraná. Essas agressões acabam desembocando em complicações sérias, como a hepatite fulminante. “Ela é muito temida, porque exige um transplante urgente”, alerta o experto.

Com extratos de vegetais, falta uma padronização na quantidade de certos insumos, o que pode terminar em exageros. “O próprio solo em que a planta é cultivada ou o momento em que ela é colhida pode impactar, porque isso altera as concentrações de princípios ativos com potencial de toxicidade”, acrescenta o especialista.

Nesse contexto, o mais importante para prevenir as lesões hepáticas é não consumir plantas medicinais sem se consultar com um profissional de saúde sério. Infelizmente, muita gente acaba apostando nesses extratos só de ver um anúncio ou um conteúdo na internet sem embasamento científico.

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“A divulgação de falsos conceitos para vender esses produtos é notória na atualidade”, comenta Paraná. A boa notícia é que, na maioria das vezes, os danos são passageiros, quando tratados corretamente.

O hepatologista acredita que, além de tomar esses cuidados, o governo brasileiro deveria investir em pesquisa sobre fitoterápicos. Dessa forma, seria possível ter clareza sobre os reais efeitos deles. Paraná também defende um maior rigor na aprovação de fitoterápicos e suplementos de maneira geral.

Posicionamento da Herbalife

Em um documento enviado para Veja Saúde, a empresa escreveu o seguinte:

Segurança dos Produtos Herbalife Nutrition e Publicações Associadas a Danos Hepáticos

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A Herbalife Nutrition, como uma das líderes no mercado global de nutrição, acompanha com atenção e respeito as discussões sobre a qualidade dos seus produtos e os efeitos na saúde das pessoas. A empresa tem todo o interesse em esclarecer a todos de forma transparente sobre as publicações que alegam associação dos seus produtos a lesões hepáticas. Nesse sentido, vale ressaltar que nenhuma hepatotoxina jamais foi encontrada em nossos produtos, nem houve evidência conclusiva da causalidade entre qualquer um de nossos produtos ou ingredientes e doenças hepáticas.

Muitos consumidores que optam pelo consumo de produtos Herbalife Nutrition para gerenciamento de peso são indivíduos com sobrepeso ou obesos, alguns com altos índices de obesidade. Condições clínicas pré-existentes, tais como a obesidade e o diabetes, podem estar associadas a doenças no fígado, como a esteatose hepática não alcoólica, um distúrbio que pode implicar em alterações nos exames relacionados à função hepática. Portanto, os resultados dos exames podem não estar associados ao consumo de qualquer tipo de suplemento alimentar. Diante disso, a Herbalife Nutrition recomenda o consumo dos produtos conforme as orientações dos rótulos. Pessoas com condições clínicas pré-existentes devem, antes de qualquer mudança na alimentação, consultar um médico e ou nutricionista para individualmente determinar se os produtos são adequados para elas.

Sendo assim, é importante reconhecer certas limitações nos métodos de avaliação de causalidade que têm sido utilizados para avaliar os relatos de casos até a presente data. Por exemplo, muitos deles não colocam em discussão quais seriam os diferentes produtos Herbalife Nutrition consumidos pelos indivíduos, como se eles representassem um “único produto Herbalife Nutrition”, supostamente envolvido em casos de hepatotoxicidade. Essa não é uma perspectiva válida e distorce significativamente a classificação dos métodos de avaliação de causalidade padronizados, pois a Herbalife Nutrition desenvolve e comercializa vários produtos. Seria como dizer que uma empresa de consumo global, que comercializa um diversificado portfólio de produtos, é potencialmente hepatotóxica porque alguns indivíduos consumiram simultaneamente um ou mais de seus produtos, juntamente com centenas de outros produtos que são comercializados no mundo. Na verdade, essas avaliações não podem ser corretamente aplicadas sem identificar um agente suspeito específico. Recentemente, especialistas independentes também publicaram estudos questionando a metodologia usada para determinar a associação entre os produtos Herbalife Nutrition e hepatotoxicidade.

Utilizando o método para avaliar causalidade entre o consumo de uma substância específica e a doença hepática, estabelecido pelo Conselho para as Organizações Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS), os autores concluíram que a causalidade era provável(não certa) em apenas um caso, e improvável ou excluído por dados insuficientes nos demais casos14. Além disso, no outro estudo, os autores apresentam explicações alternativas para a causa de lesão hepática dos casos anteriormente relatados, incluindo diagnósticos comuns como a hepatite B, hepatite E, esteatose hepática e cirrose biliar primária.

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Em 2015, foi publicada no Brasil uma análise crítica dos reportes de caso disponíveis na literatura, e as conclusões corroboram com publicações anteriores. Ou seja, que não é possível a atribuição da causalidade entre o consumo dos produtos Herbalife e danos hepáticos.

Importante ressaltar que nenhuma autoridade governamental encontrou ao longo dos mais de 35 anos de operação da empresa e após mais de 25 investigações envolvendo relatos de casos alegando hepatoxicidade, qualquer razão para que fossem tomadas medidas regulatórias contra a Herbalife Nutrition. Nossos produtos são consumidos mundialmente por milhões de consumidores todos os anos. Vale mencionar que nenhum produto da Herbalife Nutrition tem a finalidade de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir doenças em qualquer lugar do mundo. No Brasil, eles são formulados de acordo com os requisitos das legislações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e/ou demais órgãos competentes, e seguem rigorosos padrões de qualidade. A empresa e seus produtos têm licenças, registro ou notificação de comercialização emitidos por órgãos reguladores e fiscalizadores em mais de 90 países. Não há nenhum ingrediente não identificado ou que não conste nos rótulos dos produtos Herbalife Nutrition. A Herbalife Nutrition recomenda o consumo dos produtos conforme orientações dos rótulos. Para uma consulta mais detalhada sobre a composição e modo de uso de cada um dos produtos, os rótulos estão disponíveis em https://www.herbalife.com.br.

Em conclusão, as informações acima endossam o posicionamento da Herbalife Nutrition de que nenhuma hepatotoxina específica já foi identificada em nossos produtos, assim como nunca houve qualquer evidência conclusiva de causalidade entre qualquer um dos nossos produtos ou ingredientes e doenças no fígado. Ressaltamos que os produtos Herbalife Nutrition são desenvolvidos como uma opção na nutrição e controle de peso de indivíduos saudáveis, aliados a uma dieta saudável e à prática de exercícios físicos.

A Herbalife Nutrition faz questão de assegurar que seus produtos são desenvolvidos incorporando descobertas de pesquisas científicas e são produzidos em níveis de qualidade e segurança que seguem a legislação vigente e os altos padrões de qualidade. Nós levamos a segurança do produto muito a sério e isso se reflete na forma com a qual trabalhamos de perto com líderes de opinião, agências reguladoras e governos ao redor do mundo.

 

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