O exame que pode detectar Alzheimer anos antes dos sintomas
Técnica avançada de PET cerebral identifica sinais precoces do Alzheimer e permite iniciar tratamentos antes da perda de memória e outras sequelas
O Alzheimer é a causa mais comum de demência no mundo e representa um dos maiores desafios da medicina atual. Estima-se que cerca de 8,5% das pessoas com mais de 60 anos convivam com algum tipo de demência — aproximadamente 1,8 milhão de brasileiros — e que esse número triplique até 2050, impulsionado pelo envelhecimento da população.
O principal desafio no combate à doença sempre foi o diagnóstico tardio. Quando aparecem sintomas como perda de memória e desorientação, o cérebro já está com danos significativos e permanentes.
Porém, essa realidade está sendo transformada pelos avanços da medicina nuclear voltada para o cérebro, especialmente por meio do PET cerebral com substâncias específicas, capaz de identificar alterações cerebrais muitos anos antes do surgimento dos sintomas.
Como o exame de imagem funciona
O PET cerebral utiliza pequenas quantidades de substâncias radioativas — conhecidas como radiofármacos — que se ligam a componentes específicos do cérebro. A partir dessas imagens, é possível observar dois tipos de alterações importantes:
- PET-FDG (fluordesoxiglicose-F18): avalia o consumo de glicose pelo cérebro, permitindo identificar áreas com queda no funcionamento cerebral, comuns em doenças que levam à demência;
- PET-FBB (florbetabeno-F18): identifica o acúmulo anormal de uma proteína chamada beta-amiloide, um dos principais sinais da doença de Alzheimer.
Esses exames mostram mudanças no cérebro muitos anos antes dos sinais clínicos, tornando-se ferramentas importantes para descobrir o Alzheimer no início e diferenciá-lo de outros tipos de demência.
Diferentemente da ressonância magnética e da tomografia, que mostram mudanças na estrutura, o PET revela processos ativos no cérebro, ajudando a distinguir o Alzheimer de outras causas de perda de memória, como as de origem vascular ou frontotemporal.
O exame é simples, indolor e ambulatorial. Após um curto período de repouso, o radiofármaco é aplicado pela veia. Cerca de 40 minutos depois, são capturadas as imagens — um processo rápido, de 15 a 20 minutos. A quantidade de radiação é baixa e considerada segura, similar à de exames comuns de diagnóstico.
O PET cerebral com FDG-F18 é considerado um divisor de águas para doenças degenerativas do cérebro. Estudos mostram que o método tem precisão superior a 90% para identificar o padrão típico do Alzheimer, além de possibilitar o acompanhamento da evolução da doença.
O PET com FBB-F18 detecta e mede a quantidade das placas de beta-amiloide, essenciais para quem precisa de um diagnóstico precoce ou pretende ser avaliado para novas terapias com anticorpos — medicamentos que têm demonstrado potencial para retardar a progressão do Alzheimer.
No Brasil, centros especializados em medicina nuclear já oferecem o PET cerebral para investigar sintomas iniciais de memória, principalmente em pessoas com histórico familiar ou sinais leves de alteração cognitiva.
Reconhecer o problema cedo possibilita iniciar tratamentos médicos e também estratégias de estímulo cognitivo, comportamental e multiprofissional, ajudando o paciente a manter sua autonomia e qualidade de vida por mais tempo.
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Uma nova maneira de encarar o Alzheimer
A medicina personalizada é uma tendência crescente e a união entre imagens moleculares e avaliação clínica representa o futuro do cuidado neurológico. Identificar a doença antes que ocorram danos permanentes transforma completamente a abordagem do Alzheimer — que deixa de ser uma condição silenciosa e fatal para se tornar potencialmente controlável, quando descoberta a tempo.
A medicina nuclear, por meio dos exames PET cerebral com FDG-F18 e FBB-F18, traz uma nova esperança para milhões de famílias. Cada avanço nesse campo representa mais do que tecnologia: é uma chance concreta de proteger memórias, histórias e afetos — tudo aquilo que nos define como seres humanos.
*Paulo Gustavo Limeira Nobre de Lacerda é médico nuclear no HUCFF-UFRJ e responsável pelo setor de imagem neurológica na Clínica de Medicina Nuclear Villela Pedras
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)








