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Nobel de Medicina 2025 premia revolução no entendimento das doenças autoimunes

Shimon Sakaguchi, Mary Brunkow e Fred Ramsdell dividem honraria por descobertas sobre as chamadas células T supressoras, que protegem o corpo de si mesmo

Por Maurício Brum
Atualizado em 6 out 2025, 15h49 - Publicado em 6 out 2025, 10h26
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Ilustração oficial do Prêmio Nobel destaca, da esquerda para a direita, Mary E. Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi (Ilustração: Niklas Elmehed/Nobel Prize/Reprodução)
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O Prêmio Nobel de Medicina de 2025 teve seus vencedores anunciados nesta segunda-feira (6), na Suécia. Desta vez, a honraria foi dividida entre o japonês Shimon Sakaguchi e os norte-americanos Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell.

Segundo a Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, que define os vencedores, o trio será premiado “por suas descobertas a respeito da tolerância imune periférica”. Mas o que, exatamente, isso significa na prática?

Em pesquisas diferentes que acabaram se complementando desde os anos 1990, os cientistas avançaram a compreensão em torno das chamadas células T reguladoras. De maneira muito resumida, as descobertas ajudaram no entendimento sobre nosso sistema imunológico e, em particular, os processos para evitar que o corpo ataque a si mesmo, como ocorre em doenças autoimunes.

Saiba mais sobre as pesquisas que renderam o Nobel de Medicina deste ano.

+Leia também: Batalha interna: o que se sabe sobre doenças autoimunes e como tratá-las

O que são as células T reguladoras

As células T (também conhecidas como linfócitos T) são uma das partes responsáveis pela defesa do nosso corpo contra invasores externos.

De modo geral, elas costumavam ser divididas da seguinte forma:

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  • células T ajudantes, que percorrem nosso organismo em busca de patógenos e “alertam” o resto do sistema imune quando encontram algo capaz de gerar danos;
  • células T citotóxicas (ou “matadoras”), responsáveis por destruir as células contaminadas por vírus, bactérias e outros microrganismos. Esse segundo grupo também pode ajudar a eliminar células tumorais.

A descoberta premiada com o Nobel de Medicina nesta semana desvendou o funcionamento de uma nova classe de células T desconhecida até os anos 1990, definidas como supressoras ou reguladoras.

Elas são responsáveis por evitar que os outros linfócitos se multipliquem em excesso, o que pode levar a várias consequências danosas para o organismo, especialmente as doenças autoimunes.

Como a descoberta ajudou a ciência e a medicina

A sequência de achados em torno do tema inaugurou o campo científico conhecido como tolerância imune periférica. É a área que busca explicar uma parte da proteção do corpo contra si mesmo, entender os mecanismos por trás desse processo e desenvolver tratamentos que ajudem quem sofre com doenças autoimunes.

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Além de aprofundar de forma decisiva a compreensão sobre esse tipo de problema de saúde, o entendimento da existência e ação das células T reguladoras levou a uma miríade de pesquisas sobre seu uso no tratamento de condições que muitas vezes têm origem genética e não possuem uma cura.

Lúpus, diabetes tipo 1 e até mesmo certos cânceres podem encontrar nessa seara uma abordagem mais poderosa do que aquelas disponíveis atualmente. Também há expectativa de que esses achados venham a contribuir para reduzir os índices de rejeição em transplantes de órgãos. Várias terapias baseadas nas descobertas de Sakaguchi, Brunkow e Ramsdall passam hoje por ensaios clínicos.

O histórico das pesquisas dos ganhadores do Nobel

Até a descoberta das reguladoras, o entendimento em torno das células T já conhecia a chamada “tolerância central”: quando os linfócitos amadureciam no timo (a glândula que os produz), haveria algum tipo de seleção do próprio corpo capaz de eliminar as células que atacam erroneamente as proteínas que já temos no organismo, o que levaria a doenças autoimunes.

No entanto, o mecanismo específico por trás disso não era totalmente esclarecido. Pesquisas tentando demonstrar a existência de algo parecido com as células T reguladoras não encontravam evidências, e essa hipótese chegou a ser deixada de lado, até que Shimon Sakaguchi revolucionou o campo em 1995.

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Foi nessa época que ele publicou as conclusões de um estudo que vinha fazendo em ratos desde os anos 1980. Tudo começou quando ele removeu o timo de roedores recém-nascidos e descobriu que, se o órgão saísse de cena no terceiro dia de vida, o sistema imune começaria a atuar de forma excessiva, causando uma série de doenças autoimunes nos animais.

Havia algo ali. E, para compreender melhor por que isso acontecia, Sakaguchi deu um passo além: pegou células T já amadurecidas em outros ratos saudáveis geneticamente iguais e passou a injetá-las naqueles que ficavam doentes. De maneira notável, esses linfócitos pareciam ser capazes de protegê-los dos problemas autoimunes.

As células reguladoras e o gene FOXP3

Mais pesquisas foram feitas e o cientista japonês finalmente identificou que a responsabilidade por trás disso parecia ser um tipo de célula T nunca catalogado antes, que ele definiu como supressoras. Em termos técnicos, enquanto as T citotóxicas têm uma proteína chamada CD8 e as auxiliares têm a CD4, as supressoras pareciam carregar também uma proteína definida como CD25.

O ceticismo em torno dos achados de Sakaguchi só ficaria para trás alguns anos mais tarde, quando entraram em cena os outros laureados da semana: Mary Brunkow e Fred Ramsdell.

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Em 2001, pesquisando sobre a síndrome IPEX, uma doença autoimune rara, eles conseguiram demonstrar uma similaridade entre ela e uma condição equivalente que afetava ratos. E, mais do que isso, atestaram que essas doenças estavam associadas a uma mutação em um gene conhecido como FOXP3.

Pesquisadores do mundo todo logo perceberam que deveria haver uma conexão fundamental entre esse novo achado e aquele feito no Japão alguns anos antes.

E coube ao próprio Sakaguchi, em 2003, confirmar a hipótese: novos trabalhos assinados por ele e outros especialistas comprovaram que o gene FOXP3 tem um papel direto em controlar o desenvolvimento das células T reguladoras. Estava oficialmente aberto um novo mundo de possibilidades científicas.

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