Onda silenciosa de Covid-19 põe idosos e crianças em risco
Rápida transmissão das subvariantes da Ômicron cria um arrastão de casos leves, com subnotificação. Alta nos números faz mundo voltar a posição de alerta
O Brasil pode estar em meio a uma quarta onda silenciosa de Covid-19. E há dois motivos básicos para usar o termo “silencioso”.
- A maioria dos infectados apresenta sintomas leves por causa da vacinação.
- Há uma provável subnotificação, já que muitos pacientes agora descobrem o diagnóstico com autotestes e não chegam notificar as autoridades ou estabelecimentos de saúde.
Independentemente disso, a nova escalada do vírus é inegável, com aumento de casos e óbitos A média móvel de mortes voltou a superar a chegar na casa das cententas.
E esse movimento é global. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que foram registrados na última semana mais de 3 milhões de novos casos pelo mundo, e mais de 8 700 mortes.
“Não podemos olhar para esses números sem nos preocupar. É inaceitável haver essa quantidade de mortes por Covid em um cenário com ferramentas de prevenção, detecção e tratamento da doença”, afirmou Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS.
Nessa onda de casos leves, quem mais fica em risco são os idosos, imunossuprimidos e crianças não vacinadas. Em meio ao inverno, essas faixas etárias ainda sofrem com a alta circulação de outras infecções respiratórias, como a gripe entre os idosos e a bronquiolite entre bebês.
Segundo dados do InfoGripe, boletim divulgado pela Fiocruz, as ocorrências de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) estão subindo. Cerca de 48% desses episódios decorrem da Covid-19.
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Cada país tem as suas características e fatores para explicar esses números. “Já era esperado que houvesse um aumento de casos com a rotina das pessoas voltando ao normal e a liberação de máscaras. Ainda é preciso lembrar de que, no meio dessa população em circulação, há os não vacinados”, Sylvia Lemos, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Os que não receberam nenhuma dose facilitam a transmissão do coronavírus e ainda estão mais suscetíveis à forma grave da doença.
Mais alguns fatores ajudaram nesse processo, como a chegada das subvariantes “filhas” da Ômicron, conhecidas pela transmissão cada vez mais rápida. Após a passagem da BA.2, quem vem ganhando terreno são a BA.4 e a BA.5. Nas últimas quatro semanas, a incidência delas em testes no Brasil subiu 10,4% a 44%, respectivamente. Isso segundo dados divulgados pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS). Foram analisados mais de 120 mil testes cedidos pelos laboratórios DB Molecular, Dasa e HLAGyn.
Estudos preliminares apontam que essas cepas driblam, ao menos parcialmente, da imunidade adquirida pela infecção das anteriores, BA.1, e BA.2. “Mas não há nada publicado mostrando que escapam completamente das vacinas”, afirma Sylvia.
Por outro lado, a ciência já sabe que os imunizantes atuais têm uma validade de proteção ótima contra o vírus que varia de quatro a seis meses. O Brasil vacinou quase 80% de sua população, porém mais da metade dos brasileiros ainda hesita em tomar as injeções de reforço.
Futuro mais preocupante
Para que pandemia se mantenha sob controle, alguns comportamentos precisarão ser reforçados. “Máscara e álcool gel são itens que não podem mais sair da bolsa”, defende o infectologista Luiz Otávio da Fonseca, da Paraná Clínicas. E, claro, a imunização precisa estar em dia.
Por isso a quarta dose começa a ser anunciada a alguns grupos. O Ministério da Saúde estendeu essa recomendação — cujo nome correto agora é segundo reforço — para pessoas acima dos 50 anos e profissionais de saúde.
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“É difícil prever o que ocorrerá nos próximos meses. Os casos podem até começar a cair, mas há a probabilidade de surgirem novas variantes se continuarmos dando chance para o vírus circular livremente”, afirma Fonseca.