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Ozonioterapia liberada: o que pensam os médicos e o que diz a ciência

Especialistas divergem sobre qualidade das evidências que ampararam autorização do uso por médicos no Brasil

Por Chloé Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
10 set 2025, 09h26
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Ozonioterapia está prestes a ser regulamentada no Brasil (Ilustração: Marcus Penna/SAÚDE é Vital)
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A liberação do uso da ozonioterapia em condições específicas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) levantou debates sobre as evidências que suportam a técnica. Há anos, ela é criticada justamente por sua falta de lastro científico, e era considerada experimental na medicina.

Em 2023, o presidente Lula já havia sancionado uma lei que liberava o uso de forma mais ampla, decisão muito criticada na época. Agora, a entidade que regula a prática médica autoriza os profissionais da categoria a oferecerem a terapia contra alguns tipos de feridas e dores.

Agora, o gás pode ser utilizado diretamente na pele, para tratar lesões cutâneas de difícil cicatrização, ou via injeção, contra a osteoartrite de joelho e a dor lombar provocada pela hérnia de disco.

+Leia também: Homem morre em sessão de ozonioterapia no Paraná; saiba mais sobre o caso

A visão dos dermatologistas

A reportagem conversou com representantes das sociedades médicas de especialidades envolvidas no tratamento destas condições. Segundo as fontes ouvidas, a dermatologia é a área da medicina onde é mais plausível o uso do gás.

“Houve um exagero, uma promoção generelizada do ozônio para muitas aplicações que não são sérias, até pela via retal. Obviamente, isso é absurdo, mas na dermatologia temos publicações com resultados interessantes para feridas superficiais”, comenta Omar Lupi, representante da Academia Nacional de Medicina (ANM) e presidente do Colégio Ibero Latino-americano de Dermatologia.

Segundo ele, o estado atual das pesquisas permitem dar o benefício da dúvida enquanto os estudos continuam. “Os poucos resultados positivos que temos até agora justificam isso, mas precisamos de pesquisas sérias e bem controladas para termos uma noção mais clara do potencial pleno”, comenta Lupi. 

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Ou seja, há alguns indícios animadores, mas… “A maioria dos estudos sobre úlcera cutânea e lesões de pé diabético apresentam alto risco de viés, amostras pequenas e metodologia inadequada, o que limita a confiabilidade dos achados e impede conclusões definitivas sobre benefícios”, diz o dermatologista Carlos Eduardo Fonseca Parenti, Dermatologista e Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP).

Ele alerta ainda que, no contexto de outras feridas, a literatura é “ainda mais escassa e inconclusiva“. E que, embora o ozônio tenha efeito de limpeza e oxigenação local, não há comprovação de superioridade em relação a outros tratamentos. “Os potenciais riscos, como a indução de respostas inflamatórias, também devem ser considerados”, completa.

Entre os lados negativos, há o perigo de estimular o desenvolvimento de um câncer de pele que esteja em seus estágios iniciais. O especialista finaliza: “a aprovação do uso pelo CFM não se fundamenta em dados robustos de eficácia e segurança, e a adoção dessa prática deve ser vista com cautela até que estudos de alta qualidade comprovem benefícios clínicos relevantes e sustentáveis“.

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A opinião dos especialistas em dor

A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), uma das especialidades que trata dores no joelho e nas costas, declarou que não foi procurada pelo CFM para a elaboração do parecer e que está analisando as evidências para emitir um posicionamento.

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Já o médico Carlos Marcelo de Barros, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), afirma que há benefícios claros demonstrados na literatura para a aplicação contra o incômodo na lombar. “Ensaios clínicos randomizados e meta-análises envolvendo milhares de pacientes mostram que a aplicação de ozônio proporciona alívio significativo da dor e melhora funcional“, comenta.

Para o joelho, a situação seria semelhante à da dermatologia. “Os resultados também são promissores, mas ainda precisamos de estudos mais consistentes e de maior qualidade metodológica para confirmar esses achados”, emenda.

Ele conclui: “Vejo a decisão como um avanço importante, que reconhece o potencial terapêutico do ozônio, mas ao mesmo tempo estabelece limites claros, evitando exageros ou indicações sem base científica, o que ajuda a proteger o paciente”.

A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), por meio de sua comissão de osteoartrite, conduziu sua própria revisão sistemática com meta-análise (considerado o padrão ouro de evidências sobre um tratamento de saúde, pois permite analisar diversos ensaios clínicos).

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“Constatamos que há dados positivos, mas de estudos com problemas de execução, que não permitem dizer que o ozônio pode ser usado para tratar para osteoatrite de joelho”, comenta Francisco Airton Castro da Rocha, coordenador da comissão científica de Osteoartrite da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

O que diz a ciência

Como justificativa para a liberação da ozonioterapia, o CFM cita estudos favoráveis a estas aplicações, mas entre eles, por exemplo, está uma revisão inexistente sobre o uso contra dores da osteoartrite.

O trabalho não consta nas referências do documento e nem na base de dados da Cochrane, entidade referência em pesquisa que seria responsável pelo levantamento.

Em relação às costas, o fisioterapeuta Leonardo Costa, que tem doutorado em dor lombar e faz parte do grupo de estudos da própria Cochrane sobre o assunto, analisou as evidências científicas usadas como justificativas pela entidade.

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“Existem revisões sistemáticas sim, publicadas em 2024, mas elas são escandalosamente ruins, mal feitas e otimistas demais, publicadas em revistas de terceira linha de qualidade de evidência. Em suma, é uma evidência frágil e lotada de incerteza“, comenta Costa, que coordena o Instituto de Prática Baseada em Evidências.

Como exemplo de problemas, ele cita que ambas as revisões comparam o antes e depois do ozônio, e não o resultado frente a um placebo ou grupo controle. “Outra questão é que, na grande maioria dos casos, a causa da dor lombar não é a hérnia de disco, que está presente na maioria da população acima dos 35 anos de forma assintomática. Então é preciso ter muita certeza sobre a origem da dor, o que não fica claro nos ensaios”, aponta.

O especialista comenta ainda a falta de pesquisas com resultados positivos em publicações renomadas, como costuma acontecer em tratamentos que entram na prática médica. “É um estudo simples de ser feito, que a própria indústria poderia financiar. Resta saber se topariam fazer uma investigação séria e independente”, encerra. 

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