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Quais são os sintomas da poliomielite, que voltou às Américas após 30 anos

Quase 30 países já têm novos casos; entenda como a doença evolui de febre e mal-estar para a paralisia infantil (o apelido da pólio), e como evitá-la

Por Fabiana Schiavon
27 jul 2022, 17h08
paralisia infantil
O poliovirus pode afetar o sistema nervoso e causar paralisia permanente das pernas ou braços. Não existe nenhum tipo de medicamento que impeça a progressão da doença  (Foto: National Cancer Institute/Unsplash/Divulgação)
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A poliomelite tem sintomas leves de início, parecidos com uma virose, mas eles podem evoluir para a paralisia infantil, nome pelo qual ficou conhecida no passado. Quando a forma grave da doença se manifesta, o indivíduo via de regra passa a depender de muletas, cadeira de rodas ou outros aparelhos para se movimentar.

A infecção, provocada pelo poliovírus, acomete principalmente crianças com menos de 4 anos de idade, embora também atinja adultos.

Ela caiu no esquecimento porque praticamente deixou de existir – chegou a ficar restrita ao Paquistão e ao Afeganistão. A doença havia sido eliminada nas Américas nos anos 1990, mas voltou ao continente com um caso descoberto em Nova York, nos Estados Unidos, na semana passada, depois de 30 anos.

Poucos médicos com menos de 70 anos devem ter visto alguém com sintomas de poliomielite, lembra Luis Fernando Aranha, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Espera-se que a vacinação seja retomada (a meta é 97%, mas estamos em 42%) e ela não volte por aqui.

Vamos lembrar porque é importante que ela seja evitada.

Quais são os sintomas da poliomielite?

Os mais comuns são:

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Pode também haver:

  • Náusea
  • Vômito
  • Dor abdominal
  • Prisão de ventre

Esses sintomas costumam perseverar por algumas semanas até que começam a desaparecer. Mas o quadro pode evoluir.

“Aí surge uma rigidez no pescoço e a moleira pode ficar mais estufada. A dor de cabeça fica mais intensa e deixa os bebês irritados”, esclarece a pediatra Daniela Piotto, do Fleury Medicina e Saúde.

Como esses sinais são semelhantes a outras infecções virais, a primeira medida do médico é verificar a carteirinha de vacinação da criança e, assim, eliminar possibilidades.

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A forma grave começa com os  sintomas de paralisia flácida, quando a doença acomete a medula. O paciente apresenta fraqueza nos membros e algum comprometimento motor. Já a paralisia permanente ocorre em  1% dos casos.

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“Esse processo começa com dores e enfraquecimento muscular, que geralmente ocorre nos membros inferiores e de um lado só“, explica o médico do Einstein. Esses sintomas, no entanto, podem subir para os braços, pegar nervos do tronco e no rosto. Aí vêm a dificuldade de falar, de engolir.

Esse comprometimento muscular ainda pode provocar insuficiência respiratória, um quadro grave que muitas vezes termina em morte. Quando a pólio estava disseminada, crianças com esse quadro eram colocadas nos chamados “pulmões de aço”, uma espécie de ventilador com pressão negativa que favorece a respiração.

Nos bebês menores, dá para perceber a doença pela dificuldade de movimentos. “Quando ela está mamando no peito, sempre fica com os bracinhos pegando em algo. Se ele ficar caído, é sinal de que perdeu a força. Apoiar-se só com um pezinho no berço é outro”, pontua Daniela.

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Parte desses pacientes ficarão com sequelas. “Há crianças que não vão desenvolver bem um certo membro. Elas ficam com uma das pernas mais fininhas”, pontua Aranha.

Já outras sentem uma melhora, mas podem sofrer mais tarde da síndrome pós-pólio. Ela costuma ocorrer entre 15 e 40 anos depois da fase aguda, com fraqueza e episódios de paralisia.

A doença não tem cura, e não há tratamento específico contra a pólio. Os médicos basicamente recorrem a tratamentos para aliviar as dores e outros sintomas.

+ Leia também: Brasil tem primeiros casos da varíola dos macacos; o que muda?

O que muda após o primeiro caso nos Estados Unidos?

Muda pouco, pois o medo de a doença voltar para o Brasil já existia há alguns anos, pontua a Rosana Richtmann, infectologista do Hospital e Maternidade Santa Joana. “A pólio havia sido quase eliminada do planeta: só o Afeganistão e Paquistão tinham casos de vírus selvagem. Mas, hoje, contabilizamos 28 países com casos registrados”, explica a médica.

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O caso americano envolveu uma infecção pelo vírus vacinal do tipo 2. Mas não, não foi a vacina que causou a infecção. Explica-se: a versão atenuada do imunizante – em gotinhas – conta com vírus enfraquecidos, sem capacidade de gerar danos. Esses vírus podem sair pelas fezes – o que inclusive era visto como algo positivo por disseminar pelo ambiente um agente que estimularia a imunidade das pessoas sem causar problemas.

No entanto, em locais onde a taxa de vacinação é muito baixa, esses mesmos vírus vacinais que saíram pelas fezes podem, com o tempo, sofrer mutações que os tornam agressivos outra vez. Dito de outra maneira, é a falta de vacina que promove a infecção da poliomielite, inclusive a desencadeada por vírus vacinais. Saiba mais aqui.

Em 1994, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da transmissão do poliovírus e, para manter o status, precisa retomar bons índices de imunização.

+ Leia também: De varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias?

“Esse é um vírus que também mora no intestino e é eliminado pelas fezes. Ou seja, é uma infecção que passa pela água e pelos alimentos, o que oferece um risco alto de contágio. É inimaginável, em 2022, vislumbrarmos o retorno de uma doença sem cura e que provoca sequelas graves“, alerta Rosana.

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Para saber se há vírus por aqui, seria necessário ter uma vigilância epidemiológica mais eficaz, segundo Rosana. “Qualquer caso de paralisia flácida deve ser notificado imediatamente. Há países, como o Reino Unido, que fazem também o monitoramento de esgoto para saber antecipadamente se o vírus chegou por lá”, explica a infectologista.

Como alguém pega poliomielite?

A transmissão costuma ocorrer pela chamada via oral-fecal. Trata-se, em resumo, do contato da boca com resquícios invisíveis de cocô contaminado.

Isso acontece, por exemplo, através de água, objetos e alimentos. Além disso, as próprias fezes de alguém infectado representam um risco real de contágio. Ou seja, a condição sanitária de uma região faz toda a diferença.

Existe ainda a possibilidade de um sujeito com poliomielite passar a doença por meio de gotículas de saliva. Sim, espirro, tosse e beijos ajudam a transmitir o poliovírus, que fica alojado na região da orofaringe nesse contexto.

Como tomar a vacina

A imunização contra a poliomielite deve ser iniciada aos 2 meses de vida, com mais duas doses aos 4 e 6 meses. Logo depois vêm os reforços, entre 15 e 18 meses e aos 5 anos.

Há dois tipos: a Vacina Inativada da Poliomielite (VIP), injetável, e a Vacina Oral da Poliomielite (VOP), a famosa gotinha.

+Leia também: Para que serve a nimesulida

“O esquema utilizado no Brasil é bastante seguro, porque iniciamos com as doses da vacina inativada, e só os reforços são de via oral, com o vírus atenuado. Ela incrementa a imunidade sem oferecer riscos”, esclarece Ribeiro. Ou seja, não há sequer o risco de o vírus vacinal sair pelas fezes e ter capacidade de atacar outras pessoas.

Os pais que não vacinaram as crianças conforme o esquema proposto devem procurar o posto de saúde e colocar a imunização em dia. Adultos também, já que o vírus não escolhe idade.

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