Relógio biológico desajustado na menopausa aumenta risco de câncer colorretal
Estudo revela que um estilo de vida equilibrado pode reduzir drasticamente o risco de câncer de intestino, incentivando cuidados simples que salvam vidas
A medicina tem buscado, de forma intensa, entender os mecanismos que levam ao surgimento do câncer. Esses conhecimentos são fundamentais para criarmos estratégias que diminuam a incidência da doença e melhorem a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.
Um estudo publicado recentemente traz uma nova perspectiva para a prevenção do câncer de intestino, um dos tumores mais comuns e uma das principais causas de morte por câncer no Brasil e no mundo.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia utilizaram dados de um grande banco de informações de saúde e genética de milhares de mulheres brancas na pós-menopausa, entre 50 e 79 anos. A partir de amostras de sangue coletadas até 17 anos antes do diagnóstico, eles avaliaram o envelhecimento do organismo.
O resultado foi claro: mulheres cuja idade biológica estava acima do esperado tinham probabilidade até 20 vezes maior de desenvolver câncer de intestino, especialmente quando consumiam poucas frutas e verduras.
Já aquelas que mantinham uma alimentação rica em frutas e verduras não tiveram aumento do risco, mesmo quando eram biologicamente mais velhas. Ou seja, cuidar do que colocamos no prato pode compensar parte do impacto do envelhecimento no organismo e ajudar a prevenir o câncer.
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Fatores de risco e hábitos de vida
Outro ponto que chamou atenção foi o das mulheres que retiraram os dois ovários antes da menopausa natural. Elas apresentaram uma idade biológica mais avançada e, associando isso ao envelhecimento acelerado, o risco de câncer de intestino era ainda maior.
Isso mostra como os hormônios e a história reprodutiva da mulher devem ser sempre avaliados.
Esses achados reforçam algo que já defendemos há algum tempo, com base em dados científicos sólidos: o estilo de vida é um dos pilares mais importantes da prevenção do câncer. Estimativas apontam que até metade dos casos da doença poderiam ser evitados com medidas como:
- Alimentação equilibrada;
- Prática regular de atividade física;
- Evitar cigarro;
- Moderação no consumo de álcool.
Especificamente para o câncer de intestino, a dieta rica em fibras, a redução do consumo de carnes processadas e manter um peso saudável fazem toda a diferença.
A importância do rastreamento e do acompanhamento
Além da prevenção primária, cada vez mais evidências mostram que mudar o estilo de vida pode impactar também o prognóstico de quem já recebeu o diagnóstico.
Em um dos maiores congressos de oncologia do mundo, um trabalho de grande repercussão revelou que pacientes com câncer de intestino em estágios iniciais ou intermediários que praticaram atividade física regular após o tratamento tiveram redução significativa do risco de retorno da doença e melhora da qualidade de vida.
Isso reforça que cuidar do organismo vai além da prevenção: faz parte do tratamento e da recuperação.
Outro aspecto importante que o estudo epigenético sugere é que, no futuro, poderemos usar marcadores moleculares para identificar quem precisa de um rastreamento mais próximo.
Atualmente, a colonoscopia é o principal exame para detectar pólipos e tumores precocemente, indicada a partir dos 45 anos ou antes, em pessoas com histórico familiar. Quanto mais cedo diagnosticamos, maiores as chances de cura e, muitas vezes, é possível retirar lesões antes que virem câncer.
O avanço da medicina nos permite unir ciência de ponta a ações práticas de saúde pública e educação da população. Investir em hábitos saudáveis, incentivar o rastreamento e, no futuro, usar ferramentas como a epigenética podem transformar a realidade do câncer de intestino no Brasil.
*Fernando Maluf é oncologista e head regional da Brazil Health
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)








