Semaglutida pode reduzir consumo de cocaína, sugere estudo com roedores
Pesquisa considerada preliminar demonstrou como substância consagrada pelo Ozempic pode se tornar aliada contra a dependência química
Pesquisadores suecos e estadunidenses divulgaram, no começo de setembro, um estudo que pode ampliar ainda mais os usos em potencial da semaglutida, molécula conhecida pelo uso em canetas emagrecedoras como o Ozempic e o Wegovy.
O novo estudo, realizado na Universidade de Gotemburgo, avaliou o potencial da substância no tratamento da dependência em cocaína.
A ideia partiu da escassez de tratamentos farmacêuticos eficazes para lidar com o uso da droga. A semaglutida surgiu como opção devido aos benefícios à saúde demonstrados em outras pesquisas: a molécula foi estudada anteriormente (com bons resultados) para reduzir o consumo de álcool.
Divulgado na edição deste mês da European Neuropsychopharmacology, a pesquisa apontou resultados promissores da semaglutida também frente à dependência em cocaína. No entanto, é importante moderar as expectativas: até o momento, os resultados foram obtidos somente em experimentos em camundongos, um passo inicial que não garante o mesmo efeito em seres humanos.
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O que a pesquisa descobriu
Em média, nos animais submetidos aos testes com semaglutida, o uso de cocaína caiu em 26%, com o comportamento análogo à recaída sofrendo uma redução de 62%, e a motivação para buscar a droga declinando em 52%.
No laboratório, os roedores tinham acesso a um dispositivo em que podiam administrar cocaína em si mesmos.
Em termos neurobiológicos, a semaglutida atenuou a elevação dos níveis de dopamina nos animais que passaram pelos testes. Ao inibir a liberação de dopamina, há também um impacto nos mecanismos cerebrais de recompensa pelo uso da droga. Quanto mais elevada a dose de semaglutida, maior e mais sustentada foi a redução observada na pesquisa.
Próximos passos do estudo
Como geralmente ocorre em pesquisas com ratos, o desafio da ciência nos próximos anos é fazer com que os resultados promissores se mostrem viáveis e seguros também em seres humanos. Os pesquisadores apontam que um dos passos é entender melhor o mecanismo de ação da semaglutida sobre os neurotransmissores e as áreas cerebrais envolvidas.
Também é necessário monitorar efeitos adversos, como náuseas e mal-estar associados ao uso da semaglutida, para determinar a dose mais indicada para obter o máximo de benefícios sem incorrer em danos colaterais. Só pesquisas mais amplas serão capazes de determinar um perfil de segurança em seres humanos para tratar o uso da cocaína, caso ele exista.
No momento, o que se conhece em relação a pacientes humanos são relatos de casos isolados. Em fevereiro, por exemplo, um relato de um médico italiano (sem relação com a pesquisa recém-divulgada) discutiu como o uso de semaglutida contribuiu para a redução do uso de cocaína em um paciente de 54 anos com obesidade.
Registros desse tipo reforçam o potencial do fármaco nessa frente, mas ainda não permitem extrapolar os resultados para populações mais amplas.







