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Síndrome do olho seco aflige milhões de brasileiros

Secura ocular traz consequências desagradáveis e pode indicar doenças sérias. Mas dá para remediar o problema, tão comum na nossa população

Por Andressa Basilio (colaboradora)
Atualizado em 13 jun 2019, 18h47 - Publicado em 9 jun 2016, 11h40
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Esse problema, bastante comum, pode ser tratado de diversas formas (Foto: Alex Silva / Ilustração Mariana Coan/SAÚDE é Vital)
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No início era a vermelhidão. Logo depois, vieram a coceira e a sensação de que os olhos estavam cheios de areia. Um vento mais forte, ao bater no rosto, parecia empurrar estilhaços de vidro para dentro do globo ocular. Como se não bastasse, de repente a vista começou a sofrer com qualquer fonte de luz. Foi então que Cleivânia Lima de Almeida, hoje com 44 anos, descobriu ser portadora da síndrome da disfunção lacrimal.

Também chamada de síndrome do olho seco, ela é provocada por alterações na composição ou produção das lágrimas que prejudicam a lubrificação da área. “Desde o diagnóstico, há 27 anos, só saio de casa com óculos escuros. Mas pelo menos tenho um pouco de lágrima. Já conheci gente que não tem nem pra chorar”, conta a fundadora da Associação dos Portadores da Síndrome do Olho Seco, que trabalha duro pela conscientização de que a doença não é coisa menor, muito menos algo incomum — calcula-se que 18 milhões de brasileiros tenham o problema.

Entenda: a lágrima não é água salgada. “Ela tem mais ou menos 100 componentes essenciais para a limpeza e a defesa contra micro-organismos”, diz o oftalmologista José Álvaro Pereira Gomes, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em uma gotícula, essas moléculas são distribuídas em três camadas: muco, água e gordura. “Quando você pisca, elas se misturam e evitam uma evaporação rápida demais”, explica o especialista.

Os sintomas aparecem em pessoas que, por várias razões, fabricam lágrimas com gordura de mais ou de menos. Isso propicia a dissipação desse líquido, deixando os olhos na secura. “O mais comum é o paciente acordar bem e sentir os desconfortos se agravarem ao longo do dia”, dá a dica Renata Rezende, oftalmologista da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A disfunção também pega quem permanece muito tempo em frente ao computador ou à televisão, duas atividades que diminuem o número de piscadas. Normalmente, uma pessoa fecha e abre as pálpebras de oito a dez vezes por minuto. Entretanto, quando estamos fixados em uma telinha (ou mesmo em livros), essa frequência cai para cerca de três vezes. O ato de piscar impede justamente que a lágrima evapore antes da hora. Usuários de lentes de contato gelatinosas – que agem como uma esponja, sugando a umidade – e indivíduos que passam horas no ar condicionado também estão mais suscetíveis à aridez ocular.

Vira e mexe a secura não é desencadeada por mudanças na composição da lágrima, e sim pela queda na sua produção. Variações hormonais típicas da menopausa, certos medicamentos e determinados tumores ou doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide, estão entre os fatores de risco para essa versão de olho seco. Aliás, o próprio envelhecimento tem um papel na história — estudos da Unifesp mostram que 20% da população acima de 50 anos possui vestígios da encrenca.

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“É uma doença multifatorial. Até mesmo a poluição ou um cílio no lugar errado podem alterar a lágrima”, afirma o médico Joel Edmur Boteon, do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Por isso é importante visitar um especialista assim que os sinais aparecerem. Só ele saberá detectar o que está por trás da sequidão e indicar qual caminho seguir a partir daí.

Ainda bem que 90% dos casos são contornados com relativa facilidade. O diagnóstico também não é difícil e pode ser feito de diversas maneiras, como explica o oftalmo Luiz Carlos Portes, membro e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia: “Além de checar o histórico do paciente, seus sintomas e se ele faz parte de grupos de risco, há exames que medem a produção da lágrima e corantes que acusam pontos ressecados”. Até imagens captadas por câmeras especiais conseguem quantificar a taxa de evaporação desse líquido.

Uma vez detectada a chateação, colírios lubrificantes ou anti-inflamatórios costumam entrar em cena. Um ou outro é prescrito segundo a origem do problema. Justamente por isso, aquele hábito de pegar o produto de um amigo fica terminantemente proibido, combinado? O alerta também vale para quem compra o item sem orientação. “Alguns são vendidos como lubrificantes quando, na verdade, são vasoconstritores. Eles acabam com a vermelhidão, mas, assim que o efeito passa, o olho seco se agrava”, esclarece Portes.

Se os colírios não umidificam o ambiente ocular direito, outras táticas são recomendadas. Existe, por exemplo, a possibilidade de inserir um pequeno plug para fechar a saída do canal lacrimal, tubinho responsável pelo escoamento do líquido. “E, se há opacidade da córnea, já podemos transplantar glândulas salivares, que são retiradas da boca e inseridas nos olhos, para estimular a produção de lágrima”, revela Pereira Gomes.

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O sertão pode virar mar

Para que o complexo mecanismo ocular permaneça hidratado, uma boa limpeza diária é recomendada. A dica vale especialmente para quem aplica maquiagem de domingo a domingo e entre sujeitos com o péssimo hábito de levar as mãos ao rosto o tempo inteiro. Até porque uma higiene bem-feita vai afastar não apenas a doença da vez como reduzir a probabilidade de alergias e infecções.

A oftalmologista Helena de Oliveira, do Hospital de Olhos Paulista, indica, antes de tudo, lavar as mãos e os punhos. “Já nos olhos, use gaze, algodão ou lenços específicos e faça movimentos leves e circulares, sempre massageando a borda da pálpebra”, ensina. Durante o banho, pode-se usar xampu infantil nos cílios e sobrancelhas. Depois, enxague com as pálpebras fechadas para evitar o contato direto com a córnea.

E se você estiver no meio do escritório quando bater aquela irritação? Nada de correr para a pia e lavar os olhos. É que a água corrente às vezes transporta micro-organismos perigosos que agravam as coisas. Soro fisiológico e água boricada também são contraindicados. Em emergências onde faltar colírio, Helena sugere uma solução pra lá de simples: “Pisque, pisque e pisque. É uma dica boba, mas bastante eficiente”.

A síndrome do olho seco em três passos

  1. As lágrimas são formadas por vários componentes distribuídos em três camadas: água, óleo e gordura. Elas são liberadas por glândulas localizadas logo acima do globo ocular. A glândula lacrimal é a principal delas.
  2. Alterações ou obstruções nessas glândulas mexem com o conteúdo das lágrimas, fazendo-as evaporar depressa. Há outros casos, não raro deflagrados pelo envelhecimento ou por doenças, em que a produção do líquido rareia.
  3. A carência lacrimal propicia inflamações que atiçam os sintomas típicos do olho seco. Impurezas, vírus e micro-organismos agravam o processo e, em determinados episódios, até dão o pontapé inicial para a desertificação do local.
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Condições que enxugam os olhos

Blefarite

Essa inflamação ataca a região dos cílios. Aí, forma-se um tipo de caspa que obstrui a glândula lacrimal. Limpeza com produtos específicos dá conta do recado.

Lesões oculares

Cistos, conjuntivite e até cirurgias para correção de miopia ou para melhorar o aspecto da pálpebra (blefaroplastias) podem danificar as fábricas de lágrima.

Alterações hormonais

A menopausa e os anticoncepcionais, que mexem com os hormônios, ressecam os olhos das mulheres. Certos colírios minimizam o quadro.

Medicamentos

Antialérgicos, anti-hipertensivos, anti-inflamatórios e psicotrópicos desequilibram o teor das lágrimas. Seu uso às vezes cobra uma consulta ao oftalmo.

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Doenças autoimunes

A secura até ajuda a flagrar males como lúpus e a síndrome de Sjögren, que afeta muito a produção das glândulas lacrimais e até salivares.

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