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Uma nova luz no tratamento de tumores cerebrais

Realidade aumentada está revolucionando a neurocirurgia, permitindo abordagens mais seguras e precisas no tratamento do câncer no cérebro

Por Cesar Cimonari de Almeida, neurocirurgião, via Brazil Health*
22 ago 2025, 16h27
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Cirurgias para retirada de tumores no cérebro estão cada vez mais precisas  (Freepik/Reprodução)
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A neurocirurgia oncológica, responsável pelo tratamento cirúrgico dos tumores cerebrais, tem como um de seus maiores desafios equilibrar a remoção do máximo possível de tecido doente com a preservação do tecido cerebral saudável. Cada milímetro é crucial.

Remover tecido de menos pode significar o retorno do tumor; remover tecido em excesso pode causar sequelas devastadoras ao paciente, afetando fala, movimento ou memória.

Avanços tecnológicos e o papel da realidade aumentada

Durante décadas, a prática cirúrgica se apoiou na experiência dos médicos, em exames de imagem pré-operatórios como a ressonância magnética e no uso de microscópios avançados. Mais recentemente, tecnologias como neuronavegação e fluorescência intraoperatória (como o 5‑ALA) aumentaram a capacidade de identificar lesões no cérebro.

Mesmo com tamanho avanço, a busca por ferramentas melhores é contínua, sempre visando os melhores resultados para o paciente.

Uma das tecnologias mais promissoras do momento materializa o que antes era ficção científica: a realidade aumentada (AR) integrada à imagem hiperespectral (HSI). Essa combinação promete exibir, em tempo real, onde termina o tumor e começa o tecido saudável, diretamente no campo de visão do cirurgião.

+Leia também: Anvisa aprova novo comprimido contra tumor cerebral

O que é imagem hiperespectral (HSI)

Para compreender esse avanço, é útil pensar em como enxergamos o mundo: nossos olhos captam a luz em três cores primárias (vermelho, verde e azul, no sistema RGB). Toda estrutura reflete luz de maneira única em diferentes comprimentos de onda.

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A HSI captura dezenas ou centenas de “cores” invisíveis ao olho humano (do visível ao infravermelho próximo), gerando uma “assinatura espectral” exclusiva de cada ponto do tecido.

Isso é importante porque tecidos biológicos absorvem e refletem luz de modos distintos, cada um com sua própria assinatura espectral, como se fosse uma impressão digital luminosa. Os tumores, devido a diferenças em vascularização, metabolismo, conteúdo de água e organização tecidual, tendem a apresentar assinaturas espectrais diferentes do tecido cerebral saudável.

Algoritmos de inteligência artificial aprendem esses padrões e classificam, em tempo real, cada pixel da imagem como “provável tumor” ou “provável tecido saudável”. Isoladamente, essa informação seria apenas um conjunto complexo de dados. É neste ponto que a aplicação da realidade aumentada faz a diferença.

Como funciona a realidade aumentada na neurocirurgia

A realidade aumentada, já conhecida pelo público devido a filtros em redes sociais ou jogos como Pokémon GO, consiste em sobrepor informações digitais à visualização do mundo real. Na sala de cirurgia, o processo ocorre da seguinte forma:

  1. A câmera hiperespectral, acoplada ao microscópio cirúrgico, capta imagens do cérebro exposto;
  2. Um software de alta performance analisa as imagens instantaneamente, identificando as assinaturas espectrais do tumor e do tecido saudável;
  3. Essas informações são processadas e transformadas em um mapa virtual de cores, por exemplo, colorindo áreas tumorais de vermelho e regiões saudáveis de verde;
  4. O mapa colorido é projetado no microscópio do cirurgião, sobrepondo-se perfeitamente à imagem real do cérebro do paciente;
  5. O mapa é constantemente atualizado conforme o cirurgião avança no procedimento.
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O resultado prático é um verdadeiro “semáforo” dinâmico, que auxilia a equipe a decidir onde cortar e onde interromper, além de permitir revisões de áreas antes de finalizar a cirurgia, reduzindo as chances de tumor residual.

+Leia também: Realidade virtual e mais: o potencial da tecnologia imersiva na medicina

Mais precisão, menos sequelas

As implicações desta tecnologia para a segurança e eficácia cirúrgica são profundas. Entre elas, estão:

Maior precisão

Frequentemente, as bordas do tumor são difíceis de distinguir do cérebro saudável a olho nu. Estudos piloto com HSI em gliomas demonstram alta precisão na diferenciação entre tumor e córtex normal, superando 85% em cenários controlados, com variações de acordo com o tipo de tumor, região e protocolo.

Preservação do tecido saudável

Ao delimitar claramente o tumor, a tecnologia ajuda a evitar a remoção de tecido cerebral funcional. Isso é fundamental quando o tumor está perto de áreas eloquentes, responsáveis por funções essenciais como linguagem e motricidade.

Redução do risco de recidiva

Uma ressecção mais completa, sem deixar resíduos microscópicos de células tumorais, está associada a um maior tempo de sobrevida e menor probabilidade de recorrência do tumor.

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Procedimentos mais ágeis e objetivos

Com a informação integrada ao campo visual do cirurgião, as decisões tendem a ser mais rápidas (apesar da curva de aprendizado inicial).

Integração com tecnologias existentes

AR/HSI complementa técnicas consagradas (5-ALA, ICG, fluoresceína, mapeamento cortical, iUS/iMRI, neuronavegação), acrescentando camadas de informação e aumentando a confiança nas decisões.

Limitações e pontos de atenção

Vale destacar, contudo, que a evidência ainda é emergente e os resultados variam conforme o tipo de tumor, a qualidade do sinal espectral e a experiência da equipe. Existem, ainda, algumas limitações e pontos de atenção.

Falsos positivos/negativos

Edema, necrose, sangramento recente e variações individuais podem atrapalhar a classificação.

Profundidade

A HSI visualiza principalmente a superfície exposta; informações em profundidade dependem da integração com outras modalidades, como ultrassom intraoperatório.

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Padronização e validação

É necessário treinar e validar algoritmos com diferentes conjuntos de dados e confirmação histopatológica rigorosa.

Fluxo de trabalho

Posicionamento dos sensores, iluminação, esterilidade e baixa latência de processamento são desafios a serem ajustados para o uso rotineiro.

Custo e acesso

Câmeras HSI e microscópios compatíveis com AR representam investimento significativo, com adoção inicial prevista para centros de alta complexidade.

Regulação

Para uso clínico pleno, é necessária aprovação regulatória e comprovação de benefícios clínicos, além de garantias de segurança cibernética e proteção de dados.

Quando essa tecnologia chegará aqui?

Atualmente, a combinação de AR e HSI está, na maioria das vezes, em fase de estudo clínico ou de uso pioneiro em centros de referência, na Europa e nos Estados Unidos.

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Como ocorre com toda tecnologia de ponta na medicina, o caminho para a adoção ampla é gradual e envolve pesquisa, validação e investimentos.

Para a chegada dessa tecnologia ao Brasil, alguns passos são necessários. Primeiro, a aprovação regulatória pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de parcerias e difusão tecnológica, especialmente junto a hospitais de referência e empresas do setor.

A princípio, é esperado que a tecnologia esteja disponível apenas em alguns centros privados e universitários de excelência, mas, considerando o ritmo habitual de incorporação de inovações, a expectativa é que, nos próximos 5 a 10 anos, com a consolidação dos resultados dos ensaios clínicos, os primeiros sistemas comecem a ser implementados no país, mudando a abordagem do tratamento dos tumores cerebrais.

Enquanto aguardamos e buscamos parcerias para o desenvolvimento dessa tecnologia no Brasil, os pacientes que procuram o melhor tratamento possível contam atualmente com recursos como microscópios com realidade aumentada, neuronavegação avançada, fluorescência intraoperatória (5‑ALA/ICG) e plataformas de inteligência artificial para suporte clínico.

O país também dispõe de cirurgiões com formação e experiência compatíveis com os melhores centros internacionais.

Dr. Cesar Cimonari de Almeida – CRM 150620 / SP – RQE 66640
Neurocirurgião e Membro da Brazil Health


(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

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