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Melhora da morte: o que é a lucidez terminal e como a ciência explica

Fenômeno raro nos cuidados paliativos, a lucidez terminal intriga médicos e famílias por trazer uma breve melhora antes da morte

Por Julianne Pessequillo, geriatra, via Brazil Health*
2 out 2025, 16h09 • Atualizado em 2 out 2025, 16h09
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É comum muitos familiares relatarem uma melhora súbita antes da morte de entes queridos (Freepik/Reprodução)
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  • Entre os muitos temas delicados dos cuidados paliativos, um dos mais intrigantes é o fenômeno conhecido como “melhora da morte” — ou, em termos técnicos, lucidez terminal.

    Relatado por profissionais de saúde, pacientes e familiares, ele ocorre em um momento muito específico: horas ou dias antes do falecimento, quando, de forma inesperada, pacientes em fase terminal apresentam uma breve recuperação do estado de consciência, energia e interação com o meio.

    Essa manifestação, embora reconhecida, ainda é fonte de polêmica na prática clínica, na ética médica e na relação com as famílias. Mas o que se sabe, afinal, sobre ela?

    O que caracteriza a fase final de vida

    A fase final de vida é marcada por uma condição médica avançada e irreversível, como ocorre em quadros demenciais graves ou câncer metastático. Nessa etapa, o paciente evolui para um estado em que a morte é considerada iminente — em questão de dias ou semanas.

    Nesse contexto, todos os cuidados passam a ser voltados exclusivamente para o conforto do paciente e para o alívio dos sintomas, com foco nos cuidados paliativos e no suporte emocional à família. Os sinais mais comuns incluem:

    • Fraqueza extrema;
    • Diminuição da ingestão de alimentos;
    • Confusão mental;
    • Padrão respiratório irregular;
    • Menor interação com o ambiente.

    O fenômeno da “melhora da morte”

    Apesar da progressão do quadro, médicos e familiares podem observar uma súbita e inexplicável melhora do estado de consciência do paciente — muitas vezes após um longo período de estupor ou coma.

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    Essa melhora, geralmente espontânea e breve, ocorre sem intervenção clínica específica e pode causar grande impacto nos familiares, que frequentemente interpretam o episódio como sinal de recuperação.

    Entre os sinais relatados nesse fenômeno estão:

    • Maior energia para conversar com familiares;
    • Retorno do apetite ou aceitação de alimentos;
    • Redução da dor sem alteração significativa da medicação;
    • Melhora do estado de consciência, com maior lucidez.

    Contudo, esses episódios não seguem um padrão. Sua ocorrência e intensidade variam de acordo com a doença, o tratamento em curso e a resposta individual do organismo.

    O que a ciência sabe até o momento

    Embora ainda pouco estudada, a lucidez terminal é descrita em publicações científicas e reconhecida por equipes de cuidados paliativos como possível parte do processo de morrer. As principais hipóteses são:

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    • Alterações fisiológicas — a liberação de neurotransmissores como adrenalina e endorfinas pode causar sensação de bem-estar, alívio da dor e mais energia;
    • Flutuações metabólicas — alterações nos níveis de oxigênio e na circulação sanguínea afetam temporariamente a função cerebral;
    • Reação emocional e social — o organismo pode mobilizar um “último esforço” para interações finais, permitindo despedidas e resolução emocional.

    Por ser imprevisível e difícil de estudar em ambiente controlado, o fenômeno ainda é cercado de incertezas. Faltam estudos clínicos robustos que confirmem sua frequência ou expliquem seus mecanismos de forma conclusiva.

    Impacto emocional, cultural e espiritual

    Apesar das lacunas científicas, a melhora da morte tem enorme valor simbólico e emocional. Muitas famílias veem esse momento como uma despedida, um acerto de contas ou mesmo uma manifestação espiritual. Diferentes tradições religiosas trazem interpretações que reforçam essa percepção:

    • Cristianismo: a morte é a passagem para a vida eterna, e a lucidez final é vista como momento de reconciliação e graça;
    • Islamismo: a clareza mental antes da morte é considerada um dom de Allah para as despedidas e mensagens finais;
    • Budismo: não há ego eterno, e esse estado de consciência pode ser uma oportunidade espiritual no caminho para o nirvana;
    • Espiritismo: a morte é uma transição e, segundo obras de Allan Kardec, a lucidez pode ser facilitada por presenças espirituais que promovem serenidade e entendimento.

    +Leia também: Entre a fé e a ciência: como a espiritualidade influencia a saúde

    Dignidade até o fim da vida

    O que a medicina confirma é que o processo de morrer não é linear. Flutuações nos sinais vitais e no estado geral são esperadas, podendo gerar a falsa impressão de recuperação.

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    Nessas situações, o foco deve permanecer em garantir presença familiar, conforto, silêncio, oração — e permitir que a pessoa parta em paz.

    Conclusão

    A “melhora da morte” permanece como um fenômeno cercado de mistério. Embora existam diversos relatos de profissionais e familiares, não há evidências científicas robustas que expliquem por que ocorre — nem garantia de que se repita em todos os casos.

    O fim da vida é uma experiência complexa, moldada por fatores biológicos, emocionais, culturais e espirituais. Por isso, reconhecer e acolher manifestações como essa, com empatia e clareza, faz parte do compromisso dos cuidados paliativos: preservar a dignidade e o conforto até os últimos instantes.

    Dra. Julianne Pessequillo é geriatra e clínica geral, especializada em longevidade saudável, membro da Brazil Health

    (Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

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