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Primeiro remédio específico para compulsão alimentar é aprovado

Até então, o tratamento medicamentoso do transtorno da compulsão alimentar dependia de drogas voltadas para outros males. Conheça o problema e a nova arma

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 22 mar 2023, 11h14 - Publicado em 7 dez 2018, 17h03
como tratar a compulsão alimentar
O novo remédio promete reduzir o número de crises de compulsão alimentar (Ilustração: Flavio Demarchi/SAÚDE é Vital)
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Embora atinja de 2 a 3% da população, o transtorno da compulsão alimentar não tinha um remédio aprovado especificamente contra ele no Brasil até pouco tempo atrás. Mas isso mudou com o dimesilato de lisdexanfetamina, da farmacêutica Shire, liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

“Os médicos já usavam certos medicamentos em situações específicas do problema, mas essa aprovação, baseada em estudos robustos, dá mais confiança para o profissional e o paciente”, afirma o psiquiatra José Carlos Borges Appolinario, coordenador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Mas, antes de conhecer esse tratamento mais a fundo, é importante compreender a doença contra a qual ele vai atuar.

O que é o transtorno de compulsão alimentar

Não confunda esse quadro com beliscadas fora de hora ou com um apetite voraz. “O transtorno de compulsão alimentar é marcado por episódios bem definidos, que duram de 20 minutos a duas horas mais ou menos, em que a pessoa come uma quantidade muito superior ao normal para ela”, ensina Appolinario.

Ao contrário da bulimia, o paciente não compensa essa perda momentânea de controle com táticas inadequadas como indução de vômito ou a adoção de um jejum prolongado.

“Para diagnosticarmos um indivíduo com essa desordem, ele precisa ter ao menos um episódio de compulsão por semana ao longo de três meses ou mais”, completa Appolinario. E só pra reforçar: quem define a presença do distúrbio é o especialista e nunca um amigo ou um parente.

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Além de favorecer problemas como obesidade e diabetes – 60% dos pacientes estão acima do peso –, o transtorno da compulsão alimentar gera nervosismo, sensação de culpa… Ele, portanto, não deve ser menosprezado, tampouco virar motivo de brincadeira.

De acordo com Appolinario, as causas dessa chateação são desconhecidas. Mas ela parece ser mais comum entre quem sofre com ansiedade ou depressão.

No momento, essa nova arma não está disponível no setor público.

O tratamento para a compulsão alimentar

Ele envolve diferentes estratégias, que variam inclusive conforme a intensidade da encrenca e outras particularidades do indivíduo. A terapia cognitivo-comportamental é uma ótima aliada, assim como intervenções do nutricionista, com foco no comportamento do paciente perante a comida.

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Os médicos também costumam indicar remédios antidepressivos ou estabilizadores de humor para conter os surtos de comilança desenfreada. “Mas eles não foram estudados em profundidade para o transtorno da compulsão alimentar”, pondera Appolinario.

Já o dimesilato de lisdexanfetamina, aprovado anteriormente para combater o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), foi alvo de estudos que somaram mais de 600 voluntários com episódios frequentes de compulsão alimentar.

Segundo eles, o fármaco evitou, em média, quase quatro crises por semana após três meses de tratamento. Para comparar, os participantes que engoliram cápsulas sem qualquer medicação tiveram 2,5 surtos a menos por semana (é o efeito placebo).

Essa nova opção age no cérebro, regulando neurotransmissores ligados ao prazer e à vontade de comer. No momento, o dimesilato de lisdexanfetamina só pode ser receitado a pacientes com transtorno da compulsão alimentar de moderado a grave. E eles devem ser adultos.

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Os cuidados

Se você ficar atento ao nome do princípio ativo, verá que carrega o termo “anfetamina”. Na realidade, ele é um derivado desse grupo de substâncias, mas ainda assim requer uma dose de cautela pelo potencial de causar dependência química.

“As pesquisas mostraram um bom perfil de segurança, desde que o paciente seja avaliado e selecionado com critério”, esclarece Appolinario.

Na bula do medicamento, está escrito que pessoas com histórico de abuso de drogas não devem usá-lo. Pacientes com pressão alta de moderada a grave, hipertireoidismo e glaucoma estão entre os que também precisam procurar outras soluções para o transtorno da compulsão alimentar. Em resumo, é vital passar por uma análise detalhada do médico e nunca tomar medicamentos de amigos ou familiares.

A duração do tratamento vai depender de cada quadro. Aos poucos, o especialista pode ir diminuindo as doses e observar a reação. Recaídas nesse processo não são incomuns e, portanto, não devem ser vistas como grandes derrotas.

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