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Vamos vencer a luta contra o Alzheimer?

Neurocientista conta em entrevista exclusiva os desafios da medicina contra esse mal que apaga a memória — e o que podemos esperar de solução

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 22 ago 2019, 10h39 - Publicado em 16 jul 2018, 10h02
cura do mal de alzheimer e causa
O tratamento contra o Alzheimer ainda está longe do ideal. Mas um especialista está otimista (Ilustração: Sica/SAÚDE é Vital)
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O britânico Joseph Jebelli conhece o Alzheimer de perto: tanto na família como no laboratório de pesquisa. O avô iraniano do cientista sucumbiu à doença, fato que o motivou a estudar o problema em seu nível mais microscópico. Mas Jebelli deu um passo além com o livro Em Busca da Memória (link para compra na Amazon), recém-lançado no Brasil pela Editora Planeta/ Crítica. Ele viajou pelo mundo, pela história e pelos estudos para redigir uma biografia do Alzheimer, dos primórdios de sua descrição pelo alemão Alois Alzheimer (1864-1915) até os avanços recentes e as perspectivas de tratamento.

Trata-se de um desafio dos grandes. O Alzheimer envolve uma área da medicina onde mais têm fracassado os projetos de remédios. Muitos começam bem nos testes preliminares, mas, na fase final, não demonstram o benefício esperado.

Um dos trunfos do livro de Jebelli é a sua dimensão humana: ele recolhe relatos de vítimas da doença e de seus familiares, construindo um painel em que mescla as dificuldades impostas pela perda da cognição (o Alzheimer não ataca apenas as lembranças) com a esperança de dias melhores. O neurocientista clama nossa atenção para aquele que será um dos maiores problemas de saúde pública do futuro — a projeção é que ele afete 135 milhões de pessoas no mundo por volta de 2050 —, sem perder de vista o otimismo com as reais chances de vencermos esse mal.

Na entrevista abaixo, o expert britânico compartilha as novidades, os desafios e as esperanças contra o Alzheimer:

SAÚDE: Entre as descobertas recentes sobre a doença, qual foi aquela mais impactante em sua opinião?

Joseph Jebelli: Creio que a principal conquista na compreensão do Alzheimer se deve aos avanços na genética molecular. As pesquisas das últimas décadas focaram em tratar os sintomas do problema, mas, com a tecnologia da genética molecular, hoje podemos entender e tratar as causas subjacentes ao Alzheimer. Sabemos, por exemplo, que ter o gene APOE4 é o maior fator de risco para a doença. E com novas técnicas aplicadas à genética, como o CRISPR (uma ferramenta de edição de genes), conseguiremos em breve modificar as chances de alguém desenvolver a condição.

Em qual linha de tratamento o senhor mais aposta hoje?

Considerando que ainda sabemos pouco sobre a doença, penso que é crítico recorrer a uma abordagem multifacetada. Precisamos continuar estudando formas de atacar as placas beta-amiloides e os emaranhados que destroem os neurônios, mas devemos investigar também outros alvos, como a participação do sistema imune e os fatores do estilo de vida.

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Acredito que as células-tronco também serão vitais no futuro do tratamento. Hoje podemos transformar células da pele do paciente em células do cérebro, o que nos dá pistas sobre o seu tipo particular de Alzheimer. A abordagem personalizada será decisiva para desenvolver os remédios certos para diferentes pessoas.

Acredita que um dia será possível tratar os casos mais avançados, revertendo os danos cerebrais?

Sim. Esse é certamente um desafio mais difícil do que interromper a doença em seu início e provavelmente dependerá de maiores avanços na tecnologia das células-tronco, mas acho possível. Alguns cientistas estão fazendo pesquisas incríveis com o crescimento de tecido cerebral em laboratório. Estou animado para saber aonde isso vai dar.

Até que ponto o senhor acredita que o mundo está preparado para enfrentar essa epidemia de Alzheimer que se aproxima?

Eu acredito que o mundo está acordando lentamente para a crise do Alzheimer. Ele acabou de se tornar a principal causa de morte na Inglaterra e no País de Gales, e isso está acontecendo agora na Austrália. Com o envelhecimento das nossas sociedades e o aumento no número de casos da doença, penso que muitos países já não podem mais ignorar o Alzheimer.

O maior desafio será convencer os governos a investir mais dinheiro em pesquisa. Na Inglaterra, por exemplo, o custo do Alzheimer ao Serviço Nacional de Saúde é de 27 bilhões de libras esterlinas por ano, mas só uma fração de 1% desse montante é gasto em pesquisas.

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Sou otimista, contudo. Em todos os países que visitei para o livro, encontrei pacientes corajosos e cientistas dedicados que estão lutando juntos contra o Alzheimer. Como eu digo no livro, o mundo está cercando cada vez mais o Alzheimer. Não haverá lugar para ele se esconder.

No livro fica clara a importância dos laços familiares e sociais para melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta o Alzheimer. Pode explicar melhor isso?

Relacionar-se com a família e os amigos de forma regular tem um efeito positivo enorme nos sintomas dos pacientes. Estudos mostram que isso reduz a ansiedade e a depressão que estão associadas às manifestações da doença. Ou seja, esses laços podem ter um efeito bastante benéfico contra o Alzheimer em si.

Quais hábitos sugere adotar para diminuir o risco de encarar o Alzheimer?

Todos aqueles conselhos que os médicos nos dão sobre como ter um coração saudável se aplicam a um cérebro saudável. Uma dieta equilibrada e uma rotina de exercícios são importantes, assim como boas noites de sono, que parecem ajudar a remover toxinas nocivas ao cérebro.

Manter-se mentalmente ativo ao longo da vida também parece ser vantajoso. Quaisquer atividades, como ler um livro novo ou encontrar amigos e familiares com regularidade, ajudam a deixar o cérebro ativo e, assim, minimizar o risco de Alzheimer. 

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