A alcachofra, seja como chá, comprimido fitoterápico ou in natura mesmo, é comumente associada a benefícios à saúde (principalmente redução do colesterol, da indigestão e de problemas no fígado). VEJA SAÚDE vasculhou a ciência para ver se essas promessas param de pé – e, se eles valem para todas as formas de consumo.
O que é a alcachofra e como consumir ou preparar?
A alcachofra é uma hortaliça nativa da região do Mediterrâneo. Sua flor arroxeada, além de exuberante, é saborosa e usada em molhos, risotos e recheios veganos. Dá inclusive para cozinhá-la e saboreá-la pétala a pétala. O coração da alcachofra então, é uma delícia!
Já suas folhas têm um sabor mais amargo e geralmente são usadas para finalizar pratos (ou para chás e extratos fitoterápicos).
É um alimento leve: 90 gramas de alcachofra cozida com sal tem apenas 45 calorias. Isso significa que, dentro de uma alimentação equilibrada, ela pode ser aliada no emagrecimento.
A alcachofra também possui vitamina C, potássio e outros minerais. Mas o que realmente chama a atenção são seus compostos bioativos (substâncias que não são nutrientes, mas, quando consumidos regularmente, podem ter efeitos positivos no organismo). Alguns de seus trunfos são: ácidos fenólicos, flavonóides, sesquiterpenos, etc.
Ou seja, dentro de um cardápio balanceado, a alcachofra ajuda a deixar o corpo saudável.
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De acordo com um documento da Anvisa de 2014, estamos falando de uma planta com potencial “para tratamento dos sintomas de dispepsia funcional e hipercolesterolemia leve e moderada”. Traduzindo, ela ajudaria a melhorar sintomas de indigestão (dispepsia funcional) e aumento de colesterol no sangue (hipercolesterolemia).
Só que tem um detalhe importante: esse guia da Anvisa se refere a fitoterápicos. Ou seja, esses benefícios não viriam do consumo alimentar da alcachofra ou de chás, e sim da ingestão de comprimidos com extrato concentrado, sob prescrição médica.
No mais, o grau de evidência do seu uso é considerado B. Isso significa que as supostas vantagens do extrato concentrado dessa hortaliça estão baseadas em estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.
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Alcachofra para tratar indigestão?
De novo, estamos falando de extrato, não do alimento in natura. Mas alguns estudos indicam, sim, a ingestão regular desse fitoterápico ajuda a melhorar o sintoma de indigestão.
Por exemplo: uma pesquisa maior e controlada com placebo, realizada com 247 voluntários que sofriam desconforto após a alimentação, observou que consumir 320 miligramas do fitoterápico duas vezes ao dia, durante seis meses, resultou em melhora global dos sintomas, como flatulências e dores.
Um dos responsáveis por esse benefício seria um composto bioativo chamado cinaropicrina, que tem a propriedade de estimular a digestão. Mas atenção: algumas pequisas consideram esse composto nefrotóxico com o uso prolongado, além de ser potencialmente alérgico.
Por isso, antes do uso de qualquer suplemento ou fitoterápico, consulte um médico. Até porque há outros tratamentos com maior grau de evidência científica para alívio da indigestão.
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Alcachofra reduz o colesterol?
Essa também é uma ação estudada. Uma revisão sistemática que avaliou dados de três ensaios clínicos randomizados (com um total de 211 participantes) indica uma redução do colesterol total e do LDL-colesterol, o colesterol ruim, após o consumo regular de alcachofra.
Porém, o próprio artigo diz que “as evidências, no momento, não são convincentes”. Isso porque os estudos têm limitações, entre elas o pequeno número de voluntários.
Já um ensaio clínico italiano sugere que o consumo de 320 miligramas do extrato quatro vezes ao dia durante três meses, favorece o aumento do HDL, o colesterol bom, além de reduzir o colesterol total e LDL.
Os especialistas especulam que isso se deve aos efeitos antioxidantes da alcachofra. No entanto, faltam levantamentos para apontar se essa redução realmente é considerável.
Um artigo de revisão publicado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-EPM) aponta que esse benefício depende da dose. Ou seja, colocar alcachofra no prato pensando nisso como um tratamento para o colesterol alto não é uma boa.
O ideal é, caso tenha essa condição, conversar com um médico sobre as opções terapêuticas e, claro, comer de um jeito equilibrado (onde a alcachofra certamente pode ser incluída).
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Alcachofra para proteger o fígado?
Apesar de essa ser um dos benefícios mais divulgados pelo senso comum, segundo aquela revisão da Unifesp, não há “nenhum bom estudo que focasse o uso deste fitoterápico em doenças hepáticas“.
Em resumo, a alcachofra pode ajudar a montar um cardápio equilibrado, diverso e saboroso. Vale muito a pena investir no alimento e colocá-lo mais no prato.
Mas não pense que isso solucionará questões de saúde. Até porque nem os fitoterápicos parecem trazer tantos benefícios assim.