Estudo revela altos níveis de chumbo em suplementos proteicos
Pesquisa considerou apenas marcas comercializadas nos Estados Unidos. Risco é maior em produtos à base de proteína vegetal
Uma nova pesquisa realizada nos Estados Unidos chamou atenção para um risco que costuma ser negligenciado no mercado de suplementos proteicos: a presença de metais pesados, com destaque para o chumbo, em pós e shakes de diversas marcas.
O estudo da Consumer Reports analisou 23 marcas de suplementação de proteína com base em whey, carne e plantas. Cerca de dois terços dos produtos apresentaram chumbo acima da dose de 0,5 microgramas por dia em cada porção, considerado o limite de segurança nas legislações mais rígidas dos EUA, como é o caso da Califórnia. A maior toxicidade foi encontrada em suplementos plant-based.
Os achados não são inéditos e reafirmam um cenário que já tinha sido encontrado em pesquisas similares feitas no passado por lá. Mas os pesquisadores destacam: nos últimos 15 anos, a proporção média de chumbo nos suplementos à venda nos Estados Unidos aumentou.
Apesar do alarme causado pela pesquisa, não é possível afirmar a situação atual do mercado brasileiro sem a realização de testes semelhantes nas marcas encontradas por aqui.
O que a pesquisa encontrou
Em torno de 70% dos produtos analisados pela Consumer Reports tinham uma dose considerada elevada de chumbo. Em um dos casos, o teor do metal pesado chegava a quase 1.600% o limite máximo estabelecido nas leis mais rigorosas dos EUA. Além do chumbo, a avaliação também detectou níveis preocupantes de cádmio e arsênio inorgânico em alguns dos produtos analisados.
Apenas uma das 23 marcas, a Muscle Tech 100% Mass Gainer, não teve qualquer teor de chumbo encontrado nas análises.
De modo geral, os pesquisadores constataram que os suplementos feitos à base de proteína vegetal eram os mais perigosos quando o assunto é chumbo. Todas as marcas analisadas eram feitas com proteína de ervilha e, em média, chegavam a ter uma concentração do metal nove vezes maior do que nos suplementos de whey, que foram considerados os mais seguros em relação a esse contaminante.
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A explicação viria da absorção feita pelas plantas: o chumbo existe naturalmente na crosta terrestre, e os vegetais de modo geral acabam absorvendo mais os contaminantes presentes no solo, água e na própria poluição do ar. O processamento complexo das plantas, com várias etapas para extrair a proteína, aumenta ainda mais as chances de contaminação.
Riscos do chumbo à saúde
O chumbo é um metal pesado que se acumula no corpo com o tempo, podendo levar a problemas de longo prazo em pessoas que são submetidas a uma exposição repetida e continuada a ele. Os principais impactos ocorrem no cérebro e no sistema nervoso.
Embora a exposição ao chumbo seja um problema para qualquer pessoa, o risco é ainda maior em gestantes e crianças, pois os impactos do metal podem prejudicar o desenvolvimento neurológico ainda em formação. Além de problemas cognitivos e comportamentais, a exposição ao chumbo também é associada a um maior risco de problemas renais, disfunções imunológicas e problemas reprodutivos.
Ainda que a pesquisa tenha usado como limite máximo o nível de 0,5 microgramas de chumbo por dia, tecnicamente não existe uma quantidade desse metal considerada segura para ingestão. Exposições à substância por períodos muito longos podem causar danos independentemente da dose.
E no Brasil?
Até aqui, os grandes estudos identificando a presença de chumbo em suplementos proteicos têm sido feitos nos Estados Unidos, com marcas distintas das comercializadas por aqui. Por isso, até o momento, não há como afirmar com certeza qual o cenário do mercado nacional em relação à presença do metal pesados nos pós e shakes encontrados no país.
É plausível que alguns produtos utilizem matérias-primas e técnicas semelhantes e venham a apresentar essas alterações caso sejam submetidos aos mesmos testes.
No entanto, muitas marcas também podem se adequar aos padrões de segurança: mesmo nos Estados Unidos, embora a maioria dos produtos testados por lá tenha apresentado níveis perigosos, um terço deles ficou dentro dos limites de risco definidos nos testes. Somente uma testagem específica pode ajudar a mapear o cenário no Brasil.
Em qualquer situação, não faça uso de suplementação sem acompanhamento profissional. Nos EUA, os pesquisadores contraindicaram o uso rotineiro de suplementos proteicos, especialmente quando a dieta já é rica nesse nutriente pela própria alimentação.







