Já faz tempo que o kiwi deixou de ser um nome e um alimento exóticos entre os brasileiros. O fato é que o fruto com um toque azedinho e visual peculiar tem arrecadado um crescente número de fãs.
Nos últimos seis anos, o consumo aumentou 50% no país. Com a recente introdução de uma nova variedade em nosso mercado, o kiwi gold – de polpa amarela e sabor mais adocicado que o do verdinho tradicional -, é de se esperar que ele amplie sua presença nas gôndolas e nas fruteiras do Brasil. Sorte do nosso paladar e da nossa saúde.
Uma das principais virtudes do alimento é a sua alta carga de antioxidantes, substâncias que combatem danos e o envelhecimento precoce das células, fenômeno associado a um rol de males que vai de doenças cardiovasculares a câncer.
“O kiwi é uma das frutas com a maior concentração desses elementos”, afirma o pesquisador Jose Ignacio Recio Rodriguez, do Centro de Saúde La Alamedilla, na Espanha.
O que dizem os estudos sobre a fruta
O estudioso entende do que fala: comprovou, em uma investigação com 1 469 voluntários, que aqueles que ingeriram ao menos uma unidade por semana tiveram elevação do colesterol bom (HDL) e melhor controle de triglicérides e moléculas atreladas a processos inflamatórios. “Todos esses fatores estão ligados ao risco de problemas cardiovasculares”, esclarece Rodriguez.
Outro experimento internacional avaliou o poder da fruta em um grupo de pessoas particularmente propensas a piripaques cardíacos: homens fumantes. Uma parcela dos envolvidos comeu três kiwis por dia, o restante seguiu uma dieta rica em antioxidantes (mas sem kiwis).
No comparativo, a primeira turma teve queda na pressão arterial, redução de 15% na agregação de plaquetas (fator de risco para infarto) e de 11% nos níveis de angiotensina. “Quando essa substância está muito atuante, ocasiona estreitamento dos vasos, o que eleva a pressão”, explica o cardiologista João Vicente da Silveira, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Para especialistas, a proteção ao peito não é uma surpresa. “Como é rico em polifenóis, vitamina C e magnésio, o kiwi conta com um potente coquetel cardioprotetor”, diz a médica Letícia Fontes, da Associação Brasileira de Nutrologia.
“No consultório, costumo encorajar o consumo semanal, principalmente aos pacientes com pressão alta“, conta a nutricionista Clarissa Casale Doimo, que clinica em Piracicaba, no interior paulista.
Não é só o coração que agradece quando se abre espaço para o kiwi na despensa. O intestino também sai ganhando ao ingerir a fruta, que foi batizada assim por lembrar uma ave de mesmo nome típica da Nova Zelândia – foi ali, aliás, que o cultivo comercial do alimento teve início.
“Estudos mostram que as fibras do kiwi têm uma grande capacidade de reter água, auxiliando na formação do bolo fecal e equilibrando o trânsito intestinal”, relata Letícia Fontes, que também atua na Clínica MEI – Medicina Integrativa, em São Paulo. “Além disso, ele conta com uma enzima chamada actinidina, que facilita a digestão das proteínas, além de melhorar a mobilidade intestinal”, acrescenta a nutróloga.
Não é por menos que quem sofre com a síndrome do intestino irritável, desordem marcada por dores abdominais, diarreia, constipação e uma alternância entre os dois quadros, deveria incluir o fruto na lista de compras.
É o que sugere uma pesquisa realizada na Universidade Médica de Taipei, em Taiwan. Foram recrutados 54 indivíduos com a síndrome e 16 livres da encrenca. Então, 41 pessoas com o distúrbio e todas aquelas saudáveis consumiram dois kiwis por dia, durante quatro semanas – as 13 restantes ingeriram cápsulas sem princípio ativo algum durante o mesmo período.
Depois de analisar o número e as características das idas ao banheiro, os cientistas notaram que a ingestão da fruta esteve relacionada a um ganho geral no funcionamento do intestino e a uma maior frequência do número 2 entre os voluntários constipados.
Nessa linha, existem evidências de que a fruta ajuda a amenizar sintomas da diverticulite, outro mal por trás de constipação. Só cabe pontuar que, em casos do tipo, vale alinhar com o médico a quantidade de fibras por dia e não se esquecer da hidratação – do contrário, as fezes podem ficar volumosas e secas, o que irá gerar mais dificuldades para sair.
“É em parte aos seus múltiplos ganhos ao organismo, sobretudo para a saúde intestinal e cardiovascular, que o consumo do kiwi vem crescendo pelo mundo”, conclui Rodriguez.
Lanchinho noturno contra falta de sono
Boa notícia para quem busca noites de sono mais tranquilas: que tal investir na fruta como sobremesa do jantar? Em uma experiência publicada recentemente, 24 sujeitos foram convidados a ingerir duas unidades uma hora antes de cair na cama.
O expediente foi repetido durante quatro semanas. Resultado: melhora no padrão do sono do pessoal. “O fato de o kiwi ser fonte de magnésio é uma das explicações para esse efeito”, interpreta Letícia.
Diabetes domado
Outro grupo que tiraria proveito do alimento são os diabéticos, que por vezes até temem consumir frutas devido à sua concentração de açúcar natural. Mas, graças à abundância de fibras, o kiwi tem um baixo índice glicêmico.
Isso significa que ajuda a balancear os níveis de glicose no sangue, uma das batalhas de quem convive com o diabetes. Essa mesma característica, aliás, faz com que a ingestão do fruto prolongue a sensação de saciedade – ponto para quem deseja ou precisa perder uns quilinhos.
A quantidade ideal?
Ainda não há um consenso entre os experts. O certo é que a fruta pode entrar no cardápio sempre que possível.
Nesse sentido, convém prestar atenção em algumas coisas durante a compra e o consumo. Primeiro: verifique se não existem rachaduras ou manchas na casca. Segundo: para descobrir se o alimento está maduro, basta pressioná-lo levemente com o dedo indicador. Se estiver um pouco mole, está no ponto.
O kiwi vai bem sozinho, em sucos, vitaminas, saladas, vinagretes, como acompanhante de carne bovina e de carneiro, servindo inclusive para amaciá-las… Agora é desfrutar dessa onda, que, pelo visto, veio para ficar.
Quem é o kiwi
Origem: veio da China, mas foi popularizado na Nova Zelândia no início do século 20.
Cultivo: a maior parte da produção é da Nova Zelândia e da Europa. No Brasil ocorre no Sul.
Consumo: está em alta. Houve um aumento de 50% entre os brasileiros nos últimos seis anos.
Nutrição: é cheio de antioxidantes e tem poucas calorias – 62 em 100 gramas.
Dá para usar a casca?
Algumas análises indicam que essa parte é ainda mais rica em fibras e vitamina C do que a polpa em si. Mas calma: não precisa comer tudo ao saborear o fruto in natura. A ideia seria usar a casca em receitas depois de uma boa higiene. “Ela pode ser utilizada no preparo de sucos e chás, mas só recomendo se a fruta for orgânica“, diz a médica Letícia Fontes.
As duas versões
Kiwi Green
Sabor: tem a polpa bem verde e o sabor mais cítrico.
Produção: ocorre na região Sul, mas boa parte é importada.
Conservação: pode ficar até 15 dias na geladeira. Na fruteira dura menos.
Preço: cerca de 10 reais uma bandeja com 440 gramas.
Kiwi Gold
Sabor: de polpa amarelada, é mais doce e menos ácido que o verdinho.
Produção: ainda não há por aqui. Vem da Nova Zelândia e da Itália.
Conservação: amadurece rápido, mas, uma vez no ponto, resiste mais.
Preço: mais caro, sai por 12 reais a bandeja com 440 gramas.