Convencer o consumidor de que é importante prestar atenção nos rótulos (e não se entupir de sódio ao consumir alimentos, por exemplo) é uma batalha árdua e contínua. No entanto, esse hábito se incorporou naturalmente à rotina de um monte de gente que entra no corredor dos itens de beleza para escolher um xampu. Uma das responsáveis por essa mudança comportamental é a expert em cabelos Lorraine Massey. Em seu livro Manual da Garota Cacheada (Ed. Best Seller), a inglesa sugere que certas substâncias presentes na maioria dos produtos fazem mais mal do que bem para os fios. De lá pra cá, donos de cabelos enrolados e lisos passaram a desconfiar das fórmulas para limpar as madeixas.
Mas será mesmo que algo desenvolvido para higienizar o couro cabeludo é capaz de trazer prejuízos? De acordo com a farmacêutica Tatiele Katzer, da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS), há, sim, uma série de danos que podem ser causados dependendo do produto e da forma com que ele é utilizado. “Por isso, é importante saber escolher um xampu adequado às suas necessidades e aplicá-lo corretamente”, orienta.
No entanto, para uma parcela crescente da população, a solução tem sido partir para um dos dois métodos divulgados no livro de Lorraine: o no poo (sem xampu, em inglês) ou o low poo (pouco xampu). Incluir a primeira linha no cotidiano significa eliminar de vez o item da rotina e usar um tipo específico de condicionador para fazer a limpa na cabeleira. Já os adeptos do low poo buscam marcas que se valem de substâncias menos agressivas. “As pessoas que seguem essa prática vêm aprendendo a se preocupar com o que está nos produtos que consomem”, escreveu a jornalista Marjorie Rodrigues em seu blog, Cabelo Bom, Sim Senhor.
A dermatologista Tatiana Steiner, assessora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que os principais compostos agressores são os sulfatos, incluídos nas fórmulas pelo alto poder de limpeza — o lauril sulfato de sódio é o mais comum (e odiado) entre eles. “Para os cabelos danificados e muito secos, essa molécula acaba sendo mais hostil, porque retira a oleosidade natural dos fios, deixando-os ainda mais ressecados”, explica Tatiana.
Com a popularização do low poo — para ter ideia, uma página do Facebook de iniciantes no método possui mais de 190 mil membros —, já é possível encontrar vários xampus sem sulfato nas prateleiras. Entretanto, a lista de componentes a serem evitados não para por aí. A patrulha do xampu também abomina óleos minerais, parafinas e petrolatos (veja outras substâncias abaixo). O motivo: o único agente capaz de retirá-los dos fios seria justamente o tal do sulfato.
Agora, os especialistas pedem cautela quando o assunto é abolir completamente o xampu da rotina (o no poo). “Isso não é indicado a pessoas com queda de cabelo, excesso de oleosidade e dermatite seborreica [a famosa caspa]”, enumera o dermatologista Claudio Wulkan, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Outra questão importante diz respeito ao emprego de soluções caseiras para lavar as madeixas — tem quem recorra ao vinagre, por exemplo. “Não é porque o produto é natural ou caseiro que não danificará o couro cabeludo. Dependendo, pode até queimá-lo”, alerta o médico.
No fim das contas, essa nova tendência sinaliza que precisamos conhecer melhor os fios que recobrem nossa cabeça. Só assim para entender direitinho quais suas peculiaridades e a melhor solução para eles. “As recomendações para cabelos secos são totalmente diferentes daquelas para os tipos normais, oleosos ou coloridos”, reforça Tatiele. Ora, será que o temido sulfato, em doses corretas e combinado a outros elementos, não beneficiaria quem sofre com oleosidade extrema? São questões cabeludas que apenas um especialista vai ajudar a esclarecer.
Espuma é sinal de limpeza?
Nem sempre. Mas a indústria acaba investindo em xampus que formam bolhas aos montes porque essa é uma exigência dos próprios consumidores — eles relacionam sua presença a uma maior sensação de limpeza. O problema é que isso faz com que o sulfato seja utilizado em quantidades desnecessárias.
Frasco na mira
Conheça algumas das substâncias que ganharam má fama e a opinião de especialistas sobre elas
Sulfatos
Servem para limpar e retirar a oleosidade do couro cabeludo, mas são malvistos por que ressecam e podem ser irritantes para o couro cabeludo. Os experts dizem que cabelos superoleosos às vezes precisam da substância.
Petrolatos
Servem para ajudar a espalhar as outras substâncias presentes no xampu, formando uma espécie de capa. São malvistos por que essa camada impregna e tira o brilho dos fios. Os experts dizem que os petrolatos trazem pouco risco de alergia, mas podem entupir os poros.
Silicones
Servem para dar brilho e deixar as madeixas fáceis de pentear. São malvistos por que grudam, deixando o cabelo pesado e sem luminosidade. Os experts dizem que eles criam uma camada protetora. Só que o excesso é prejudicial.
Parabenos
Servem para barrar a propagação de micro-organismos no couro cabeludo. São malvistos por que são classificados como partículas tóxicas que fariam mal à saúde. Os experts dizem que só o abuso é capaz de causar alterações hormonais.