Enxaqueca, miopia, apneia do sono e ascendência asiática estão entre os indicadores de glaucoma.
Você só enxerga as letras desta reportagem graças a um longo processo que se inicia na córnea e atravessa todo o globo ocular até chegar ao nervo óptico, mensageiro responsável por transmitir luzes e cores ao cérebro.
É ele que decodifica as informações e finalmente as transforma em imagens.
Mas, para cerca de 1 milhão de brasileiros com glaucoma, essa meticulosa engenharia não funciona lá muito bem.
O tal do nervo óptico sofre com lesões que evoluem devagar, até que a visão fique seriamente prejudicada. “A evolução da doença é lenta. Mas, se não for tratada, seu desfecho é a cegueira total“, alerta o oftalmologista Ivan Maynart, de São Paulo.
A pressão intraocular até há pouco era o único fator de risco investigado na busca pelo diagnóstico precoce. Agora, novos itens entram na lista de indicadores dos primeiros passos dessa encrenca.
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Os brasileiros não conhecem o glaucoma
A Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) encomendou ao Ibope um levantamento para avaliar quanto a população conhecia a doença.
“O glaucoma é a maior causa de cegueira irreversível do mundo. Ainda assim, 40% dos entrevistados acham que ele tem cura”, lamenta o oftalmologista Vital Paulino da Costa.
Entre os acima de 40 anos – a faixa etária que está mais sujeita a desenvolver o distúrbio -, um terço nem sequer sabe o que é glaucoma.
Os dados também revelam que cerca de 50 milhões de brasileiros nunca foram a um oftalmologista.
Fora o desconhecimento, existe outra dificuldade na hora de escancarar esse perigo: ele não apresenta nenhum sintoma na fase inicial.
“Portanto, a única maneira de evitar suas consequências é realizar exames de rotina. Quando se nota no dia a dia alguma alteração na visão, costuma ser tarde demais”, diz Paulino.
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Glaucoma não tem cura, mas tem tratamento
O tratamento-padrão do glaucoma sempre foi, e ainda é, controlar a pressão intraocular, a PIO, a maior responsável por lesar o nervo óptico.
No caso dos míopes, o próprio formato de seus globos oculares favorece a compressão do nervo óptico. Daí que eles precisam ficar bastante atentos.
“Quando a miopia passa dos 6 graus, aí mesmo que é essencial realizar uma consulta preventiva anualmente”, orienta Paulino. Indivíduos negros, com mais de 40 anos e histórico familiar de glaucoma também fazem parte do grupo que não pode faltar nessa visita.
A hipotensão arterial noturna – quadro em que, durante o sono, a pressão desce rapidamente e fica ao menos 20% abaixo do ideal – é outra financiadora do glaucoma e ela precisa ser investigada.
“Esse é um novo e importantíssimo fator de risco, que acomete principalmente mulheres e descendentes de asiáticos”, afirma Prata.
E, já que estamos falando das horas sob os lençóis, a apneia, caracterizada por roncos e pausas na respiração, foi identificada como outro potencial causador de glaucoma em um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo, em Botucatu, no interior do estado.
Entre as atitudes que estão ao nosso alcance para fugir da cegueira, uma das mais essenciais é evitar a automedicação.
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“O uso indiscriminado de colírios com corticoides, prescritos para tirar a vermelhidão ocular, aumenta a probabilidade de desenvolver o glaucoma”, adverte Maynart.
Uma vez diagnosticado o quadro, a abordagem médica visa impedir que a lesão progrida. Atualmente, todas as terapias miram o controle da PIO.
Exercícios físicos, quando praticados moderadamente e com acompanhamento próximo, também fazem com que o olho, mesmo avariado, enxergue o mundo ao seu redor por muito tempo.
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Um tipo raro e perigoso de glaucoma
Um tipo muito agressivo de glaucoma é o de ângulo fechado.
Alterações específicas no globo ocular – que surgem por eventuais traumas ou até mesmo pela genética – fazem com que, de repente, o indivíduo comece a enxergar halos ao redor de pontos luminosos.
Também surgem dores na região da testa, enjoo, vermelhidão nos olhos e, claro, embaçamento da vista. Se ele não correr para o hospital, pode até ficar cego. Ainda bem que essa tremenda ameaça é bastante rara.