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Missão HDL: o colesterol bom

Nunca o HDL, que representa a fração boa do colesterol, esteve tão em alta na cardiologia. Na corrida para conter os problemas cardiovasculares, a ciência anuncia remédios capazes de catapultar as taxas da partícula

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 01h28 - Publicado em 19 set 2013, 22h00
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  • Ilustração: Thiago Lyra
    Fotos: Alex Silva

    Há alguns anos, um verbo em particular não saía da boca do cardiologista. A palavra de ordem era abaixar: a pressão arterial, o ponteiro da balança, o colesterol… Quando o assunto envolve essa molécula que trafega pelo sangue, então, a meta sempre foi derrubar o LDL, versão reconhecida como perigosa aos vasos. Quase passava despercebida nessa história outra partícula, que, diferentemente da sua antagonista, merecia ser levada às alturas. Estamos falando do agente que recolhe o lixo gorduroso das artérias, o HDL. Por fazer uma faxina no sistema circulatório, a substância é apontada como um guarda-costas do peito. De olho nessa vocação, a ciência quer agora aumentar o tamanho da equipe. Até porque só podar o LDL parece não dar sossego absoluto ao coração. 
     
    “Os estudos com populações de alto risco e doença cardiovascular instalada têm mostrado que, mesmo diminuindo o colesterol ruim, essas pessoas continuam sob ameaça”, conta o cardiologista Marcelo Assad, do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro. Se é fato que retirar o LDL do pedaço resulta em menos placas obstruindo os vasos, os médicos estão esperançosos de que, ao alavancar o HDL, veias e artérias fiquem ainda mais livres de entupimentos. 
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    No terreno das promessas, encontramos até moléculas sintéticas de HDL. Pesquisadores da Universidade Northwestern, em Chicago, Estados Unidos, conseguiram desenvolver lipoproteínas protetoras artificiais, que serão testadas em animais. A genética não fica de fora dos planos futurísticos. Cientistas procuram maneiras de alterar os genes – ou moléculas que regem o código genético, caso dos microRNAs – para incrementar as cifras de HDL. “Mas, nesse campo, ainda estamos engatinhando”, comenta o cardiologista Luiz Antonio Machado César, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, o Incor.
     

    De volta ao presente

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    Como ninguém quer experimentar um infarto algum dia na vida, convém voltarmos a atenção ao aqui e agora. Antes de explorarmos o impacto do estilo de vida sobre o HDL, precisamos esclarecer dois pontos – sobretudo a quem já se assustou quando, diante do exame de sangue, se deparou com uma taxa longe do ideal. Primeiro: o que está escrito em nosso DNA pode pesar a favor ou contra esses índices. “Os defeitos associados a níveis muito baixos de HDL, no entanto, são raros”, diz o cardiologista Francisco Fonseca, diretor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. 
     
    Segundo: já existe no mercado um remédio que eleva a porção benfeitora do colesterol – o ácido nicotínico, ou niacina. Mas ele só é receitado quando as vias do sistema cardiovascular estão sob uma forte ameaça. “A droga aumenta entre 15 e 30% os índices de HDL, mas provoca efeitos colaterais, como rubor facial”, diz Vera Portal. Repare que essa recarga está muito aquém daquela proporcionada pelo anacetrapibe. 
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    As rotas do futuro 

    Cientistas do mundo inteiro quebram a cabeça para criar estratégias capazes de catapultar o HDL. A missão não é fácil. “Essa partícula é mais complexa que a LDL”, afirma Marcelo Assad. “Existem inúmeras rotas metabólicas e substâncias envolvidas com ela”, completa Vera. Aos poucos, se decifram formas de se intrometer nessa rede de moléculas e aí surgem os medicamentos. Se o anacetrapibe elimina uma enzima que boicota o HDL, outras drogas pretendem aperfeiçoar o transporte da partícula pela circulação. Tudo é questão de acertar a peça que beneficia ou atrapalha a fração popularmente chamada de bom colesterol. “Já se avalia em laboratório até uma espécie de diálise de HDL, em que a lipoproteína é retirada do corpo, filtrada e reinjetada no organismo”, conta Vera.
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    O herói do coração 
     
    Lipoproteína de alta densidade: eis o nome completo da HDL, partícula que ganhou essa sigla pela sua denominação em inglês. Ela é produzida pelo fígado e abriga 30% do colesterol que ronda o organismo. Exímia faxineira, recolhe o excedente dessa molécula na circulação — a gordura é carregada corpo adentro pela LDL e, se as sobras não são removidas pelo serviço de limpeza, se tornam ingredientes para as placas que entopem os vasos. Os médicos consideram ótimos níveis de HDL acima de 60 mg/dl, o que confere maior proteção cardiovascular. Aos homens, a recomendação é que o índice não seja inferior a 40 mg/dl e, às mulheres, o mínimo deve ser 45 mg/dl — naturalmente, o sexo feminino apresenta uma concentração mais alta de HDL, mas ela tende a cair após a menopausa.
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    Remédio pró-hdl 

    Entenda como funciona a droga em estudo que promete alavancar essa fração benéfica do colesterol
     
    1. Faxineira nata 
    A lipoproteína de alta densidade, mais conhecida como HDL, é montada no fígado e tem a função de retirar o excedente de colesterol que se deposita nos vasos sanguíneos. As sobras dessa gordura são conduzidas de volta ao fígado.
     
    2. Roubo de carga 
    Na circulação, uma enzima, identificada pela sigla CETP, é capaz de roubar a carga de colesterol colhida pela HDL e transferi-la para a VLDL e a LDL, partículas que levam a gordura até os vasos. O trabalho da HDL é anulado e, desprovida do conteúdo gorduroso, a partícula deixa de ser detectável na corrente sanguínea.
     
    3. A polícia chegou! 
    Aqui entra em ação o anacetrapibe, que inibe a enzima CETP, impedindo que ela se apodere do colesterol recolhido pela HDL. Dessa forma, a lipoproteína pode ser visualizada no sangue e, o mais importante, consegue levar o excesso de colesterol para o fígado, que irá eliminá-lo.
    HDL em alta, Alzheimer em baixa 
     
    Esse elo foi  descortinado em uma pesquisa da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos. Depois de acompanhar durante seis meses e meio 1130 idosos, os estudiosos encontraram 101 prováveis casos da doença, que arruína a memória e outras funções cognitivas. Ao analisar os níveis de HDL dos participantes, perceberam que taxas acima de 55 mg/dl estavam relacionadas a um risco 60% menor de desenvolver o Alzheimer quando comparadas a índices menores que 39 mg/dl. Resta saber agora quais os mecanismos por trás da proteção cerebral. Uma hipótese é que níveis elevados de HDL liberem o fluxo sanguíneo para a massa cinzenta, que ficaria menos suscetível a males neurodegenerativos.
     

    O que eleva o HDL

    Atividade física 
    Os exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, ciclismo, natação) devem ser praticados de três a cinco vezes por semana. Eles incrementam o HDL e melhoram o trabalho dessa partícula. 
     
    Álcool 
    Pequenas doses, especialmente de vinho tinto, promovem a vasodilatação e contribuem com o HDL, conferindo proteção às artérias. Mas cuidado: não adianta abusar nem beber se já houver doença no pedaço. 
     
    Dieta 
    Alguns nutrientes dão um apoio discreto ao bom colesterol. São eles os pescados e o óleo de peixe, redutos de ômega-3, a soja, dotada de isoflavonas, e o chocolate amargo, rico em flavonoides.
     

    O que derruba o HDL

    Obesidade 
    O excesso de peso, bem como níveis elevados de triglicérides, costuma ser acompanhado de índices mais baixos de HDL. Para reverter a situação, é preciso romper com o sedentarismo e aderir a uma dieta pouco calórica. 
     
    Alimentação 
    A indústria já está cortando a gordura trans, mas vale ficar esperto e restringir o consumo do ingrediente de bolachas e salgadinhos, que sabota o bom colesterol. 
     
    Infecções
    As bactérias da doença periodontal, que ataca toda a estrutura de suporte dos dentes, abrigam substâncias capazes de riscar moléculas de HDL da circulação. 
     
    Tabagismo 
    Toxinas do cigarro afetam a maturação das partículas de HDL, podendo anulá-las ainda em seu nascimento.
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