Chás, homeopatia e outros tratamentos alternativos para o diabetes
Pesquisa mostra que terapias alternativas e sem comprovação são frequentemente empregadas contra o diabetes. Nosso colunista faz um alerta a respeito
O diabetes é uma doença crônica que acomete mais de 450 milhões de pessoas mundo afora. A adoção do tratamento baseado em alimentação saudável, exercícios físicos e uso regular de medicamentos é fundamental para a prevenção de sequelas e uma excelente qualidade de vida.
Sem dúvida, a não adesão a esse tripé é determinante para complicações visuais, renais, cardiovasculares e até mesmo as amputações. Mas o que acontece quando o paciente deixa de lado o tratamento e parte para as chamadas terapias alternativas?
Pois a prestigiosa revista European Journal of Pharmacology traz os resultados de uma pesquisa global sobre a frequência do uso de terapias alternativas e não comprovadas cientificamente para o controle da doença.
Especialistas da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, revisaram 38 estudos de diversas partes do mundo feitos entre 2009 e 2019. Na média, cerca de 51% das pessoas com diabetes já realizaram algum tratamento alternativo, sendo que o percentual foi de 55% na África, 45% nos Estados Unidos e 76% na Europa. Ou seja, mesmo em regiões mais desenvolvidas financeiramente e com bom sistema de saúde essas supostas soluções também são comuns.
As terapias alternativas mais observadas na revisão foram acupuntura, homeopatia e cura espiritual. Interessante é que a procura por elas é semelhante quando se fala de pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2.
Dois pontos extremamente graves foram detectados nesse trabalho:
1. Em 21% dos casos as pessoas suspenderam o tratamento médico tradicional para usar somente o alternativo.
2. Em 67% dos casos o uso da terapia alternativa não foi informado ao médico.
Confesso que não sei o que é mais grave: não usar corretamente os remédios seguros e eficazes para o diabetes ou esconder o uso da terapia alternativa do seu médico. O fato é que, no fim das contas, quem corre o risco é o próprio paciente.
O Brasil não está isento desse fenômeno. Por aqui, além dos métodos citados pelos cientistas ingleses, é corriqueira a utilização de chás e ervas, sem comprovação alguma, para o diabetes. Devo lembrar que esse hábito nem sempre é inofensivo: alguns tipos de chás podem trazer sequelas sérias e incuráveis.
Eu respeito e entendo totalmente um dos pressupostos básicos da ética médica, o princípio da autonomia. Isso quer dizer que cada paciente tem poder de decisão sobre suas escolhas relacionadas à saúde.
Assim, o ato médico é um ato de confiança em que o paciente entrega seu corpo e alma para ser ajudado por um profissional treinado para isso. E, no fundo, a decisão de realizar o tratamento depende de quem é alvo dele (salvo em condições extremas). O médico deve conscientizar seu paciente, alertar sobre riscos e benefícios, mas ser humilde para acolher e aceitar o ponto de vista do outro. Não existe tratamento forçado.
O ser humano pode e deve procurar a tão sonhada cura para o diabetes, mas, se ela realmente já existisse, os bilionários seriam os primeiros a serem curados. Concordam? Todos devemos duvidar de tudo que seja rápido ou fácil demais.
A melhor saída para evitar os danos provocados pelos tratamentos não comprovados é a confiança, a parceria e a transparência na relação médico-paciente.