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Outros coronavírus podem oferecer proteção cruzada contra a Covid-19?

Evidências muito iniciais sugerem que parentes do Sars-CoV-2, que causam resfriados, ajudariam um pouco o sistema imune a lidar com a nova infecção

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 16 jun 2020, 09h49 - Publicado em 15 jun 2020, 18h34
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  • O Sars-CoV-2, que causa a Covid-19, é o mais novo membro de uma família de agentes infecciosos conhecida como coronavírus. Pois um pequeno estudo sugere que o contato prévio com outros integrantes dessa turma, que via de regra não provocam mais do que resfriados leves, ofereceria certa proteção contra o Sars-CoV-2.

    Mas, antes de sair falando por aí que resfriados ajudam a resguardar contra a pandemia atual, tenha em mente que a ciência está longe de ter dados suficientes para cravar essa afirmação. Primeiro porque nem todo resfriado é causado por um coronavírus. Segundo que o estudo citado, apesar de relevante e publicado em um períodico científico sério, foi feito com amostras de sangue de apenas 40 pessoas. Entre elas, 20 de fato foram infectadas com o Sars-CoV-2, enquanto outras 20 foram coletadas entre 2015 e 2018, antes da pandemia.

    Os experts começaram identificando respostas específicas do sistema imune dos indivíduos acometidos pelo novo coronavírus. Após isso, eles observaram padrões de proteção parecidos em 40 a 60% nas amostras de voluntários que não foram expostos ao Sars-CoV-2.

    Daí veio a hipótese, levantada pelos pesquisadores, de que um contato anterior com outros coronavírus, que são bastante incidentes na população, ajudaria a treinar o sistema imune.

    “Outros trabalhos levantam a mesma teoria, mas não há nada definitivo sobre o assunto, até porque nem entendemos direito como o corpo responde ao novo coronavírus”, explica Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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    A ideia de imunidade cruzada (e suas limitações na pandemia atual)

    O raciocínio é o seguinte: como algumas famílias de vírus têm estruturas parecidas, ao produzir anticorpos contra um membro, o corpo seria capaz de, no futuro, reconhecer partes similares que estão presentes nos outros. Esse fenômeno já é conhecido para o influenza, por exemplo.

    “Indivíduos que são vacinados com frequência contra a gripe parecem desenvolver uma resposta imune melhor no ano seguinte, mesmo que o vírus seja diferente e que eles não estejam imunizados contra essa nova mutação”, expõe Kfouri. Em outras palavras, em média esse pessoal padece menos com as complicações da gripe.

    Contudo, além das ponderações que já fizemos acima, cabe destacar que, mesmo se outros coronavírus oferecerem algum grau de proteção contra a pandemia atual, não dá pra saber qual a magnitude desse efeito — ou mesmo sua duração.

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    Uma coisa é certa: apresentar um resfriado uma vez na vida não reduz a zero o risco de manifestar sintomas da Covid-19. Nem perto disso. Se esse fosse o caso, nunca essa doença teria provocado tantos estragos.

    Outro ponto que pesa contra a possível proteção cruzada é o grau de semelhança entre o Sars-CoV-2 e seus parentes. “Apesar de ter até 80% de sua estrutura parecida com os demais membros da família, ainda resta uma boa diferença entre eles”, aponta o infectologista.

    Além do Sars-CoV-2 e de agentes infecciosos por trás de resfriados comuns, a família do coronavírus engloba os vírus por trás dos surtos de Mers, em 2012, e de Sars, em 2002.

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