Uma solução simples para reduzir medidas aparece com frequência em propagandas na TV e na internet: são aparelhos que prometem moldar o corpo com ondas de choque aplicadas diretamente nos músculos.
Daria até para se despedir da academia de ginástica. Intrigado com a proposta, um assinante de VEJA SAÚDE questiona se o procedimento é realmente eficaz.
O raciocínio por trás da máquina de eletroestimulação é simples. Por meio de eletrodos colados ao corpo, ela dispara uma corrente elétrica que provoca uma contração muscular involuntária, simulando o exercício físico.
A teoria é animadora. Mas a verdade é que não há dados capazes de comprovar que, na prática, tomar esses choquinhos de fato fortalece a musculatura e acaba com a gordura, definindo o corpo.
Uma revisão de 2019 analisou 21 estudos sobre as repercussões do método no corpo, sendo que 19 avaliaram os impactos crônicos. Dois, por sua vez, analisaram os efeitos agudos em 505 pessoas. A ideia era avaliar aspectos como força, gasto energético, entre outros.
“Não foi possível observar de forma conclusiva a modificação em nenhum desses parâmetros entre os sujeitos que passaram pela eletroestimulação”, explica Enrico Fuini Puggina, educador físico e professor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
Mas os autores ponderam que há uma carência de estudos controlados e as investigações incluídas na revisão tinham um risco de moderado a alto de apresentar vieses. Ou seja, eles acham que mais estudos são necessários para termos entendimento sobre os efeitos reais desses procedimentos. “Ainda faltam pesquisas que utilizem padrões mais confiáveis”, resume Puggina.
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“O exercício feito de forma tradicional parece ser mais eficiente no contexto de consumo energético e, como consequência, emagrecimento. Isso porque há maior envolvimento muscular para sustentação de postura, o que produz um fluxo metabólico maior”, explica o professor.
Há riscos ao usar o eletrochoque?
Não há evidências, até o momento, de que a eletroestimulação ofereça riscos à saúde.
De qualquer forma, há diversos modelos de equipamentos e com diferentes regulagens. “Por isso, é importante se atentar para a regulamentação de quem vende, e para a formação dos profissionais envolvidos”, alerta Puggina.
Aparelho é indicado em alguma circunstância?
Os dispositivos que dão leves choques podem ser aliados em um contexto de perda de massa muscular (devido ao processo de envelhecimento, por exemplo) ou na presença de doenças que levam à redução dos movimentos corporais.
“A eletroestimulação é interessante para essas situações de prevenção e reabilitação. Além disso, há benefícios no tratamento da dor”, completa Puggina.
Mas vale ressaltar que existe uma regulação para a venda e o uso desses equipamentos, que é ditada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Essa informação é importante, sobretudo porque grande parte dos equipamentos disponibilizados no mercado e os profissionais que têm lidado com eletroestimulação são, ou estão, irregulares”, alerta o educador físico da USP. A agência até revisou recentemente as normas relacionadas a equipamentos de uso médico.