Vivemos uma pandemia do novo coronavírus, batizado de SARS-Cov-2, que não poupa o Brasil. Diante dos avanços no número de casos por aqui e da primeira morte confirmada (um homem de 62 anos com diabetes e hipertensão), convém esclarecer alguns pontos, sobretudo para o público de maior risco, os idosos.
Participei, ao lado de colegas da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), do último posicionamento da entidade sobre a Covid-19, a doença causada pelo vírus. E compartilho aqui as principais orientações nesse sentido.
A infecção por coronavírus se comporta de modo parecido a uma gripe comum (que é causada por outro vírus, o influenza), mas sua disseminação se mostra mais rápida e, especialmente na população acima dos 60 anos e/ou portadora de problemas crônicos, se manifesta mais gravemente.
Já temos transmissão comunitária em pelo menos São Paulo e Rio de Janeiro, o que significa que o vírus está circulando pela sociedade (não vem mais só de fora do país). Em uma nação continental como a nossa, cidades e estados podem vivenciar as fases da epidemia em tempos diferentes.
O período de incubação do vírus — tempo entre o dia de contato com uma pessoa doente e o início dos sintomas — é de cerca de cinco dias, apesar de, em casos mais raros, chegar a 14. É nessa fase que o vírus tende a ser transmitido de forma silenciosa. Felizmente, entre 80 e 85% dos casos são leves e não necessitam ser hospitalizados. No entanto, 15% precisam ser internados, a maioria idosos.
A SBGG orienta que pessoas com mais de 60 anos, sobretudo se tiverem diabetes, hipertensão ou problemas respiratórios, cardiológicos, renais ou neurológicos, além de indivíduos em tratamento de câncer ou que estejam com a imunidade comprometida, bem como todos aqueles com mais de 80 anos ou que tenham sinais de fragilidade, restrinjam o contato social.
Em outras palavras, devem evitar aglomerações, festas, eventos públicos e viagens, assim como contato com pessoas que viajaram nos últimos dias ou tenham sintomas suspeitos.
As medidas mais eficientes para prevenir a infecção pelo coronavírus passam por aquilo que chamamos de etiqueta respiratória. Listo as principais aqui:
- Higienizar com frequência as mãos usando água e sabão ou álcool em gel (70%)
- Evitar tocar os olhos, o nariz e a boca
- Evitar apertos de mão, abraços e beijos quando cumprimentar as pessoas
- Se espirrar ou tossir, cobrir o nariz e a boca com o cotovelo flexionado ou lenço descartável, que deve ser jogado fora em seguida
Caso um idoso tenha sintomas suspeitos, o conselho é que não corra para um pronto-socorro. No cenário ideal, o atendimento deve ser feito em domicílio, o que evita a exposição nos serviços de saúde. Encorajamos o indivíduo a procurar atendimento médico caso tenha febre, tosse, falta de ar, cansaço excessivo e/ou confusão mental.
No caso de idosos que convivem com cuidadores, se esses profissionais apresentarem sintomas de gripe, devem passar a evitar na mesma hora o contato com seus pacientes. Da mesma forma, pessoas que vivem em instituições de longa permanência, por apresentarem muitas vezes alto risco de complicações, devem ser cercadas de cuidados e cautela. A redução nas visitas e atividades em grupo e a adoção de medidas intensivas de higiene são algumas das recomendações básicas.
Esse é um momento de esforços individuais e coletivos para conter a epidemia de coronavírus. Todo mundo tem de fazer sua parte e lembrar que há pessoas que, infelizmente, correm maior risco com esse novo perigo.