Cada vez mais a comunidade médica tem tomado conhecimento das sequelas e complicações decorrentes da infecção causada pelo coronavírus. Inicialmente, entendia-se que se tratava de um quadro de acometimento exclusivamente respiratório, porém os estudos demonstraram que estamos diante de uma doença sistêmica, por vezes de difícil controle, que pode acometer o corpo todo ou órgãos e sistemas mesmo após a cura.
Na área da urologia, pesquisas iniciais já apontam a presença do vírus nos órgãos reprodutores masculinos, prejudicando a fertilidade pelo comprometimento na produção dos espermatozoides. Da mesma forma, a presença do vírus nos testículos pode lesar as células produtoras de testosterona desencadeando uma “andropausa” precoce.
Tais dados foram corroborados por um artigo recentemente publicado na revista científica The Lancet, que analisou o impacto na função testicular de 4 mil pessoas que contraíram a doença.
Outro estudo, realizado na Faculdade de Medicina da USP, avaliou amostras de tecidos extraídos na autópsia de homens que faleceram em consequência da Covid-19. As lesões testiculares revelaram uma combinação de orquite (infecção dos testículos), alterações circulatórias e diminuição do número das células produtoras de espermatozoides e de testosterona. Achados como esses permitem concluir que a agressão do coronavírus aos testículos pode resultar em prejuízo na função hormonal e na fertilidade.
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A disfunção erétil é outra condição que passou a figurar na lista das possíveis sequelas da doença. Cientistas da Universidade de Miami, que tem seu campus principal na cidade de Coral Gables, na Flórida, identificaram que a infecção pelo Sars-CoV-2 pode ter impacto direto nos casos de disfunção erétil diagnosticados recentemente. A presença do vírus já foi até identificada no tecido cavernoso do pênis, que é a estrutura responsável pela ereção.
Pacientes que antes não se queixavam de disfunção erétil passaram a relatar uma inibição severa após contrair o vírus. A questão, ainda sem resposta, é se as lesões provocadas pela infecção nos testículos e no pênis são definitivas ou serão revertidas ao longo do tempo.
Nos homens que tiveram uma deficiência hormonal, podemos fazer uma reposição de testosterona, provavelmente por um período até que o paciente recupere a capacidade própria de produção. Já nos casos de disfunção erétil, um dos caminhos é o uso de medicamentos que auxiliam na recuperação da ereção. E, nos pacientes que desenvolveram infertilidade, a utilização de substâncias que promovem um estímulo na produção de espermatozoides.
O fato é que ainda não sabemos, ao certo, como trataremos essas complicações. A certeza é que estamos frente a sequelas ainda pouco conhecidas e que exigirão que a comunidade médica se debruce, investigue e estude muito nos próximos anos para descobri-las e tratá-las adequadamente. Essa é a missão da ciência!
* Geraldo Faria é presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) de São Paulo e membro da Associação Americana de Urologia e da Associação Europeia de Urologia