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Desafiadora, esquizofrenia afeta mais de 1,6 milhão de brasileiros

Psiquiatra discute os desafios e perspectivas para a saúde mental dos portadores de uma das condições mais complexas enfrentadas pela sociedade

Por Acioly Lacerda, psiquiatra*
13 jun 2024, 09h05
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O estigma em volta da esquizofrenia pode ser pior do que a doença em si (Ilustração: Veridiana Scarpelli/SAÚDE é Vital)
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A esquizofrenia, que afeta milhões de pessoas no mundo e ao menos 1,6 milhão no Brasil, é um dos transtornos mentais mais debilitantes.

Ela envolve uma ampla gama de sintomas que se enquadram em três categorias: sintomas positivos, como alucinações ou delírios, sintomas negativos, incluindo falta de prazer ou falta de iniciativa, e sintomas cognitivos, como a queda na capacidade de concentração e de reter informações.

A condição pode ocorrer em qualquer fase da vida, mas em geral se inicia no fim da adolescência ou no começo da idade adulta.

Além do impacto direto na vida dos pacientes, a esquizofrenia impõe um ônus significativo sobre as famílias, os sistemas de saúde e a sociedade como um todo.

Segundo um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado na Revista de Saúde Pública, o tratamento consome 2,2% do total de gastos de saúde somente em São Paulo. Isso equivale a R$ 222 milhões. Considerando que a doença afeta cerca de 0,7% da população adulta do estado, esses números destacam a relevância do impacto econômico da esquizofrenia.

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Outro desafio enfrentado pelos pacientes é o acesso limitado aos serviços de saúde mental. De acordo com o DataSUS, o país conta com 2 661 Centros de Atenção Psicossocial distribuídos em todo o território nacional, porém quase 3.000 cidades não contam com psiquiatras e mais de 4 000 municípios não tem leitos psiquiátricos, o que dificulta ainda mais o acesso aos cuidados especializados.

O peso dos estigmas

Além da questão do acesso, o estigma associado à doença muitas vezes impede que os pacientes busquem ajuda quando necessário, exacerbando ainda mais os desafios enfrentados por eles.

Para piorar, os tratamentos atualmente disponíveis praticamente se restringem à melhora dos sintomas positivos. Deste modo, mesmo quando os sintomas positivos são estabilizados com antipsicóticos, as pessoas que vivem com esquizofrenia enfrentam desafios significativos devido à persistência de disfunções cognitivas.

Essa disfunção torna difícil a realização de tarefas diárias simples, como limpar e organizar a casa. No entanto, apesar de sua importância, a disfunção cognitiva muitas vezes é subestimada em comparação com os sintomas positivos, que são mais agudos e chamam mais atenção.

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+ Leia também: Estudo inédito sobre esquizofrenia relaciona mais de 100 genes à doença

Iniciativas ao redor do mundo

Apesar dos desafios, várias iniciativas estão em andamento para aumentar a conscientização sobre a esquizofrenia e melhorar o acesso aos serviços de saúde mental no mundo.

Um exemplo de boa prática é o Programa para Melhoria do Cuidado em Saúde Mental (PRIME). O PRIME se alinhou com às prioridades de cada país, buscando a revisão e criação de políticas nacionais de saúde mental, aumentando orçamentos para serviços e treinamento para profissionais de saúde mental.

Além disso, durante a Conferência da American Association of Psychiatric Pharmacists deste ano, foi discutido o desenvolvimento de novos medicamentos destinados ao tratamento da esquizofrenia.

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Um dos destaques foi a iclepertina, que se mostrou promissora no tratamento da disfunção cognitiva associada à esquizofrenia, inclusive recebendo a Designação de Terapia Inovadora pela Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos.

Este reconhecimento indica uma necessidade não atendida no tratamento da esquizofrenia, destacando o potencial impacto positivo deste medicamento na saúde mental dos pacientes.

A esquizofrenia continua sendo uma das condições mentais mais desafiadoras enfrentadas pela sociedade brasileira. No entanto, com um maior investimento em serviços de saúde mental, educação pública e redução do estigma, há esperança de que possamos melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas afetadas por essa condição e promover uma sociedade mais inclusiva e compassiva para todos.

* Acioly Luiz Tavares de Lacerda, psiquiatra e professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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